quinta-feira, 24 de abril de 2008

Esquecido...


Saltei dos bancos da escola
Para a dureza da vida,
Deixei de lado a sacola,
Ficou a infância esquecida

Fui poeta, fui cantor
Quanto amei e fui amado!
Fui camponês, lavrador.
Fui herói e fui soldado,

Andei por terras d' além,
Sem saber que procurar.
Não encontrava ninguém
Ninguém me queria encontrar

Por muitos fui esquecido
Nesta luta sem ter fim
Não perdi, nem fui vencido
Nesta existência ruim.

Só tenho o que sobrou
Da caminhada esquecida,
O pão que o diabo amassou
É o que me resta da vida.

Tantas mulheres que eu amei
Muitas raças muitas cores,
E nunca as esquecerei
Diferentes nos seus amores.

Lutei e andei para frente
Nunca me deixei vencer,
Pois sempre tive na mente
Antes quebrar que torcer.

Mas um dia que passou
Finalmente fui vencido
Foi tudo, nada ficou
E agora ando perdido.

Perdido para todo o sempre
Por tudo o que me levou,
Ando esquecido entre a gente,
Em mim, nada mais ficou.


Eu era um crente total,
Muitas vezes até rezava,
Agora por bem ou para o mal
Eu já não creio em mais nada.

sábado, 19 de abril de 2008

Um dia





Eu sei que a morte não tarda,
sei que um dia vai chegar,
sem dizer nada a ninguém
sem ninguém mesmo avisar

Num dia não mui distante,
ela chega de mansinho
pega na mão com cuidado
e leva-nos devagarinho.

Eu sei e não tenho medo,
para isso estou preparado.
Mas vou dizer um segredo,

um segredo que é verdade
que apesar de tudo isso
Já sinto muita saudade

Crime ou talvez não....




Aproveitando uma tarde agradável alguns casais e crianças andavam em ameno passeio junto ao cais quando um miúdo gritou:
-Pai tá ali um homem dentro do mar!
Todos os olhos se voltaram para o local para onde o rapaz apontava e na realidade um corpo boiava, sendo atirado pela sondas contra a amurada.
Até chegar a polícia, foi o caos, uns gritavam, outros corriam para melhor observarem o acontecido. Os guardas isolaram a área e os bombeiros puderam avançar na operação de resgate do corpo. Não foi tarefa fácil porque o mar estava alteroso., mas por fim conseguiram içar, meter num saco plástico e partirem em direcção ao Instituto de Medicina Legal.
A pouco e pouco as pessoas foram dispersando e a calma voltou ao local.
A PJ tomou conta da ocorrência e desde logo, começaram as investigações no sentido de identificar o cadáver, o que foi fácil pois a carteira estava intacta com os documentos e em muito bom estado.
Havia, entretanto, que aguardar pelo resultado da autópsia para descobrir as causas da morte.
No outro dia os jornais, em notícia pouco destacada, apenas referiam que um cadáver não identificado foi recolhido pelos bombeiros junto ao cais.
A PJ sabia que se tratava do corpo do Doutor Catarino Almeida de 32 anos, Empresário de sucesso, dono do mais reputado colégio da cidade.
Para iniciar as investigações resolveram fazer uma visita ao colégio logo pela manhã e ter uma conversa com todos os professores.
Foram recebidos cordialmente pelo Doutos Sepúlveda director do colégio que surpreendido pela visita na PJ, não deixou de se colocar à sua disposição para tudo.
Os agentes (Castro e Morais) apresentaram-se e pediram para reunir todo o corpo docente.
Na reunião, na sala dos professores, o agente Castro limitou-se a dizer :
-Meus senhores o Doutor Catarino Almeida foi encontrado já cadáver e encontra-se no Instituto de medicina Legal para ser autopsiado, nada mais podemos adiantar até sabermos as causas da morte.
Não vale a pena fazerem perguntas, pois por enquanto, mais nada podemos adiantar.
Ficaram todos transtornados e algumas das professoras não deixaram de soluçar.
O agente Morais pediu, então, a que um por um fosse ouvido em privado.
O primeiro foi o Dr. Sepúlveda que apenas pode acrescentar que esteve na sexta-feira, ali no colégio com o colega, saíram por volta das 19,30 e cada um seguiu o seu destino. Não lhe conhecia inimigos e que era estimado por todos, colegas, alunos e pessoal.
Seguidamente a Doutora Alda., uma loira muito interessante, confirmou quanto todos gostavam do colega e patrão. O Agente Castro perguntou:
-Havia entre a doutora e a vitima alguma relação mais intima, desculpe a pergunta, nas é importante.
-Essa pergunta devem deixar para a minha colega Raquel, que sempre teve essa ideia com medo que alguém lhe roubasse o eleito. Ela é que estava verdadeiramente interessada, todos o sabem. Ela é que não o deixava um instante.
E mais nada tenho a acrescentar.
O doutor Serafim, tal como a doutora Adelaide nada de interessante puderam acrescentar, tinham estado com ele na sexta-feira ate à hora de saírem e não conheciam quem lhe pudesse querer mal.
Por ultimo a doutora Raquel, uma morena muito interessante, muito segura e fazendo notar todos os seus atributos físicos.
Cabelo negro com reflexos de asa de corvo, olhos grandes e provocadores e um corpo bem composto e com todos os atributos nos seu lugares.
Confiante perguntou:
-Que querem saber de mim?
-Primeiro, saber se entre si e o doutor Catarino havia alguma relação especial?
-Bom é verdade que ela andava interessado em mim, todos o podiam notar e é natural
pois como podem ver eu não sou propriamente para se deitar fora. Mas além disso
mais nada a não ser a inveja das minha colegas, que por tudo e por nada se mordiam
e me tomavam por culpada de tudo. Não me admirava nada que um dia, ainda, digam
que fui eu que o empurrei.
-Mas, quando o viu pela ultima vez?
- Como todos na sexta-feira
-Tem a certeza?
-Pode crer que sim.
-Bem, doutora Raquel terá que nos acompanhar
-Eu, porque?
-Depois saberá. Mas para já é a principal suspeita

Nos corredores ouviam-se as correrias e os gritos dos alunos que indiferentes a tudo continuavam com a sua rotina diária

sábado, 12 de abril de 2008

Isso nunca.....






Que me importa que ele seja o meu melhor amigo, que me interessa se ele aceita todas as minhas madurezas sem queixumes, as minhas indisposições, os meus maus humores e até tolere sem azedumes as minhas injustiças.
Eu sei que por vezes sou pouco tolerante e que não o trato como ele merece, pois afinal é o meu melhor e mais fiel amigo, mas há limites para tudo e o que ele fez dificilmente lhe posso perdoar.
Gritei, chamei-lhes os nomes que me vieram à cabeça e só não lhe bati porque detesto a violência, porque senão tinha levado e não eram poucas.
O que fez à minha vizinha não é tolerável. Ela, de facto, é antipática e é muito difícil gostar dela. Jugo que no prédio ninguém a tolera. Gorda, indisposta, azeda e com um rol diário de queixas dos outros vizinhos que confrange. Ou porque entraram tarde e fecharam a porta fazendo barulho, ou porque tinham a televisão alta, ou porque andaram de sapatos e o ruído a não a deixava dormir.
Tudo a incomoda, calculem que um dia me ralhou porque na véspera não houve barulho na minha casa e, ela ficou preocupada porque o silêncio podia ser por que nos aconteceu algo.
Imaginem é difícil aturar alguém assim e, até certo modo compreendo que o Serafim andasse as avessas com a Dona Ofélia, mas tudo tem limites.
È verdade que ela passa por ele nas escadas desconhecendo-o totalmente e isso, o Serafim detesta.
Fui obrigado a ser bruto e, agora, vejo-o na ponta do sofá olhando para mim de lado, a espera que eu continue com a má disposição ou que mostre que já me passou e que o assunto está esquecido, mas eu não lhe vou perdoar por enquanto.
Sou tolerante quando o devo ser e sou muito exigente na educação e no respeito pelos outros.
Não tenho a mínima dúvidas que é o meu maior amigo, sempre pronto, sempre a meu lado, adivinhando os meus desejos e capaz a dar a vida, se necessário, por mim.
Tudo isso reconheço mas que estou chateado estou.
Onde se viu alçar a pata e mijar nas pernas da Dona Ofélia.
Só o meu cão para fazer uma coisa destas.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Porque?



Nem todos compreendem que a lei da vida é “hoje tu, amanhã eu” e passam indiferentes como se o “amanhã eu” fosse um mito que não se lhes aplica.
Se verificarmos a indiferença com que alguns, muitos infelizmente, tratam aqueles
que começam a voltar a uma meninice de dependência total.
Todos a aqueles que esperam que lhe levem a sopa à boca desdentada, que lhe mudem uma fralda que os mantenham um pouco mais confortáveis.
Olham de lado e, muitas vezes, nem escondem o ar de enjoo e de repugnância que a situação lhes causa.
Esquecem que aqueles que numa cadeira tremem e esperam, sem saber bem como, o passar do tempo num olhar distante de recordações que lhe enchem um cérebro velho e cansado. Foram garbosos atletas, rainhas de beleza, médicos famosos, músicos, artesãos talentosos, donas de casa exemplares.
Alguns, possivelmente, fizeram em tempos o mesmo mas, não podemos ficar indiferentes, não podemos fazer de conta que não temos nada com isso.
São pessoas tão fantásticas e tem, ainda, tanto para nos dizer, experiências e estórias de um Mundo cada vez mais distante. Falam de um passado longínquo, de uma infância tão presente e de forma tão real, que não acreditamos que por vezes já tenham esquecido o que ontem lhes aconteceu.
Sabem memórias que nos deixam estarrecidos, sabem canções que nunca aprendemos, conhecem a vida de uma maneira tão diferente.
Quando os abordamos os seus olhos brilham e esquecem as dores, a incontinência, o mau estar, a dependência, a indiferença dos familiares que os entregam e abandonam em lares, onde os visitam pelo Natal.
O “amanhã eu” não tarda e, quando esse dia chegar é tarde para nos arrependermos da nossa indiferença.

Os teu olhos....



Quando teus olhos me olham
Não é fortuito o olhar,
Bem sei quanto me desejam
E tanto que me querem amar

Quando os teus olhos me olham
Da forma com tu fazes,
Eu sinto o que eles pensam
E de tudo que são capazes

Quando teus olhos me olham
Na voragem dos desejos,
Apenas os posso abafar
Com o calor dos meus beijos

Não sei se Deus o deseja
Se são as lágrimas qu’os molham,
Mas sinto seja o que seja
Quando os teus olhos me olham...

terça-feira, 1 de abril de 2008