segunda-feira, 21 de julho de 2008




HAHAHEL


A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se...... (Declaração dos direitos da criança).




Apeteceu-me tirar a mochila, enche-la de sonhos, esperanças e ilusões.
Fazer-me à estrada.
Voltar ao passado, percorrer caminhos já antes trilhados.
Reparar os sonhos nunca antes realizados.
Pedir a Hahahel umas asas, sólidas para que o Sol, tal como ás de Ícaro, não as derreter.
Estar outra vez contigo, luz dos meus olhos, ouvir a tua voz sábia e beber avidamente
tudo o que não tivestes tempo de me dizer.
Pegar e reparar os estilhaços de amores mal resolvidos.
Não ir trabalhar aos doze anos. Ir para a escola. Ir estudar.
Mano António queria chegar a tempo de impedir que qualquer Deus te levasse. Preciso de ti, mal te conheci mas sinto tanto a tua falta.
Encontrar uma mão que me levasse é escola e me libertasse de todos os fantasmas.
Ter Natais como todas as outras crianças, com doces e brinquedos.
Não ter medo do escuro, da noite da solidão.
Ser um menino como os outros e saber sorrir.


sábado, 19 de julho de 2008

A culpa é do B.I.




E não chego a saber se esta luz de oiro,
Que hoje me toca e me comove assim,
É deste Sol o íntimo tesoiro
Ou se é tesoiro que descubro em mim….
(Francisco Bugalho)




Tem que haver um responsável. As coisas não acontecem por acaso, há sempre uma razão.
Antes, não há muito tempo, quando me levantava erguia-me para mais um dia sem ter que esticar o corpo á espera que todos os elementos do meu corpo tomassem o seu lugar, que as dores se esquecessem e me abandonassem para mais uma jornada.
Descia as minhas escadas a duas e duas e chegava á rua ufano, fresco e descansado. Agora conto os degraus na esperança que me deixem chegar ao fim incólume e sem mazelas.
Ainda me lembro de olhar ao longe e, ver os contornos de um horizonte que se diluía no infinito, sem estreitar os olhos na esperança que, sendo umas fendas, possam adivinhar o que já não me deixam enxergar.
Devorava os carreirinhos de letras das páginas dos meus livros, sem ter que ajeitar os óculos, sem necessidade de esfregar o cansaço que os invadem com tanta frequência.
A música, minha companheira, entrava nos meus ouvidos. As melodias inebriavam o meu espírito, as letras embalavam-me.
Agora, de repente, sem avisos, sem explicações os meus ouvidos são contemplados com uma estranha estereofonia. Som irritante, agudo, sem melodia, sem ritmo.
Normal, diz o médico, cansaço, stress, desgastes.
Coisas do B.I., digo eu, E agora que o meu é perpétuo.
Que raiva!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Dedicado mas sem dedicatória...........





Mulher, seca essas lágrimas que teimosamente querem escorrer no teu rosto,
Mostra esse sorriso que não é só teu, pois já nos pertence.



Vinícius de Morais

Ai, quem me dera terminasse a espera
Retornasse o canto simples e sem fim
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim
Ai, quem me dera ver morrer a fera
Ver nascer o anjo, ver brotar a flor.
Ai, quem me dera uma manhã feliz.
Ai, quem me dera uma estação de amor
Ah, se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem ser casais
Ai, quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim
Ai, quem me dera ouvir o nunca-mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E, finda a espera, ouvir na primavera
Alguém chamar por mim.