sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Rescaldo.............



Parece-me ver, ainda, ao longe, muito ao longe, num horizonte que se vai diluindo uma ligeira sombra avermelhada. É o Pai Natal que volta para a sua Lapónia.
Vai descansar das fadigas desta tão atribulada quadra.
Vai triste pois as coisas não correram tão bem como esperava.
Os problemas foram muitos. As coisas já não são o que eram.
A ASAE, sim a ASAE, confiscou uma considerável parte das prendas, pois considerou que muitas mercadorias eram contrafeitas. Onde se viu tal coisa. Todos sabem que o Papai Noel tem produção própria e está livre dessas coisas.
É esquisito pois sempre as transportou sem problemas.
A brigada fiscal também lhe criou obstáculos e, chegou mesmo, a apreender um trenó por falta de guia de transporte. Quem diria, obrigar o pobre Pai Natal a burocráticos actos administrativos.
É de mais! Esta gente perdeu o espírito natalício!
Depois ficamos admirados porque tantos ficaram sem receber presentes.
Como se vê ele não teve culpa. A culpa é do sistema.
O que vale é que um menino está a desabrochar.
Vai chegar não tarda. É o Ano Novo. Vem prazenteiro e cheio de genica. Nem sabe o que o espera, coitado!
Quando ele se aperceber da crise, do desemprego, da inflação, da corrupção, do défice e dessas coisas de que a televisão todos os dias nos fala, vai ficar desconcertado.
Esperemos que não desista e que como nós saiba resistir.
Que remédio!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Minha primeira carta ao Pai Natal......




Olá Pai Natal.
Sou o Manuel!
Eu sei que não te lembras de mim e não precisas procurar na lista porque sai de lá há muito, se é que alguma vez lá estive.
Quando eu era pequenino tu ainda eras só São Nicolau padroeiro dos marinheiros. Pai Natal não havia. Nem Coca-Cola.
Era o Menino Jesus que fazia a distribuição das prendas, mas não se saiu lá muito bem. È o que parece!
Também, onde se viu encarregar um menino de uma tarefa tão grande?
Era natural que houvesse falhas. O menino que morava ao meu lado tinha sempre o sapatinho atulhado de prendas e o meu acordava como tinha adormecido, vazio.
Seria que a outra chaminé era mais acessível? Nunca cheguei a descobrir!
Depois alguém viu que essa missão era demasiada para um menino e a Direcção de Recursos Humanos da Coca-Cola resolveu, e muito bem, a mudança.
Foi a tua sorte, pois de um Santo só conhecido nalguns países passastes a um símbolo do Natal.
Agora tem atenção e não cometas os mesmos erros. Olha que a Coca-Cola ainda existe e pode escolher outro. Tem cuidado!
Era só isto que tinha para te dizer.
Desejo que tenhas um Bom Natal.
Manuel


PS
Olha que há meninos que não tem chaminé e muitos nem sequer têm sapatos. Não os esqueças.



sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

É Natal....



Os meus amigos, pelo menos aqueles que melhor me conhecem, sabem que para mim o Natal é apenas uma data no calendário, é um dia a mais na minha vida.
Não que eu queira esconder a magia da quadra ou descaracterizar todo o sortilégio das festas. Longe de mim tal ideia.
Respeito todos quantos vivem de forma tão intensa estas festividades, todos os olhos que brilham perante o presépio e a árvore de natal.
Eu sou solidário com as “minhas” crianças, compartilho com elas, vibro com elas, vivo a simplicidade com que acreditam no Pai Natal.
Como me lembro da minha sobrinha dizer:
-Tio, porque me mentiram, eu descobri que o Pai Natal não existe!
Na escola aprendemos as verdades da vida e perdemos tantas das nossas ingenuidades.
Tive dificuldade em explicar, mas consegui que ela se apercebesse que a descoberta do Pai Natal era a transição de meninos pequenos para meninos grandes.
Agora ela já sabe que para o irmão o Pai Natal ainda existe.
Sabe e sabe porque.
Não é por uma questão de agnosticismo, crença moral, ou por estar mal com o mundo. Nada disso. Eu sei que o Natal é um marco na vida das pessoas. È o dia em que todos mais se lembram de todos. È o dia em que a desgraça alheia entra mais facilmente dentro de nós. É a época em que somos, mais, solidários.
Não me julguem por não gostar do Natal.
Todos nós temos, sempre, uma razão para tudo.
Eu, também, tenho esse direito.

Para todos aqueles que me fazem felizes por compartilharem comigo este Blog, os meus desejos de um Natal fantástico e um Ano de 2009 repleto de coisas maravilhosas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Aconteceu?....



Já foi há tanto tempo que por vezes tenho dificuldade em me lembrar de todos os acontecimentos.
Estava um entardecer mágico, o Sol inundava o céu de uma tonalidade em que os rosas e os amarelos se entrelaçavam de forma tão harmoniosa que era uma bênção poder espraiar a vista no horizonte.
Os homens regressavam do trabalho e os carros puxados pelas bestas entoavam as ruas com a chiadeira dos seus rodados.
Não tardava ia anoitecer. A noite, clara e luminosa, iria tomar conta da povoação. Na Sociedade Recreativa ultimavam-se os últimos pormenores para o baile que não tardava iria animar a monotonia da aldeia.
No palco o conjunto ensaiava os acordes para uma ruidosa noite de animação.

Era linda. Uns olhos negros, profundos, contrastavam com a alvura de uma tês luminosa.
Uns cabelos da cor da noite escura caiam em suaves caracóis sobre os ombros desnudados.
Sorrio-me de uma forma tão cativante que fiquei sem saber o que fazer.
Sorri também.

Não tardou, rodopiávamos na sala, entrelaçados nos braços um do outro. A música era má, mas quem deu por isso?

-Sou a Celeste, vivo na vila e sou filha do José Romão. Vou embora, já me esperam lá fora. Levo o teu lenço vermelho e espero por ti amanhã.

Deixou os meus braços, sacou o lenço que enfeitava o bolso do meu casaco e desapareceu na noite.

No dia seguinte estava na Vila.
Um homem, à porta de um café, olhou-me curioso.
-Boa tarde, onde mora o senhor José Romão?
-Amigo, vem tarde o Zé Romão morreu, ou fez ou vai fazer um mês. Com ele já ninguém fala.
-Mas.... eu... própriamente não queria falar com ele, mas com a filha a Celeste.
-É o mesmo. O Zé a Celestinha e a mãe morreram no mesmo desastre. Foi além na curva que vai para a ponte do ribeiro. Como disse deve ter sido há um mês. Foi uma desgraça muito grande.
-Como pode ser? Estive ontem a dançar com a Celeste!
-Alguém mangou consigo, amigo. Olhe vá além ao cemitério e verá a três campas novas ao fundo da vereda, tem lá as fotografias.

Fui ao Cemitério e encontrei as três campas. Não precisei de ver mais nada. O meu lenço vermelho estava estendido em cima da pedra, junto à foto esmaltada da Celeste.

Não olhei para trás, entrei no carro e desapareci na curva da estrada.
Nunca mais danço com estranhas.....


segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A inteligência....





Eu gosto de touradas!
Não sei se por influência dos cinco anos, da minha infância, que vivi em Barrancos mas a verdade é que eu sou um aficionado da festa brava.
Eu vibro com a emoção dos touros, com a magia e com a bravura dos artistas que os enfrentam.
A elegância com que um toureiro chama a besta e o sita de longe, o recebe com umas verónias bem desenhadas, umas chicuelinas envolventes. A elegância com que se recorta na frente do touro, ondulando o corpo quando os cornos lhe acariciam o dorso.
Os “olés” do público contagiam o artista que mais se arrima. Os passe-dobles arrancam mais emoção ao espectáculo e o toureiro cresce de arrojo e coragem. Desenha manolitinas e remata com umas reboleras cingidas. È o delírio.
Por isso eu gosto de touradas, não de touradas à Portuguesa. Gosto de touradas em que um artista passeia os seus setenta quilos de arte e emoção, apenas, escudados num pedaço de pano, contra os 500 quilos de força bruta, armados de um par de cornos mortíferos.
Todas as vantagens estão do lado do touro. O toureiro só tem um argumento a favor.
A inteligência.

Finalmente a ultima parte....




O que começa mal não pode acabar bem. Aqui vai o resto..



Hoje estava mais madura e, também, perdera muita da ingenuidade que sempre fizera parte da sua personalidade. Já não corava quando sentia que algum homem olhava aprovadoramente para o seu corpo, pelo contrário, lançava um olhar capaz de desconsertar o mais descarado.
Passou a tirar partido daquilo que Deus lhe tinha dado, e ficava vaidosa quando lhe diziam que as filhas mais pareciam suas irmãs.

Acabara de fazer um ano que o Amadeu foi enterrado e sentia que a vida sem um homem a seu lado era mais vazia. Não era só pela necessidade física, mas também pelo conforto de ter alguém para compartilhar as nossas mágoas e alegrias.

Heitor não era filho da terra, nasceu num monte alentejano. Filho de uns abastados agricultores que tinham, ninguém sabe como, amealhada uma considerável fortuna, que com a mesma facilidade com que a construíram também a conseguiram esbanjar. Dona Alzira, a mãe, para esquecer as loucuras do marido vivia embrulhada em todos os trapos que os costureiros da moda punham no mercado. O pai, José Romão, passava os dias com as meninas que o adulavam, lhe satisfaziam os caprichos e lhe iam esvaziando a carteira. Á noite o casino fazia o resto. Quando deu por isso, tudo o que sobrava era um pedaço de terra e uma pequena casa, sobras de uma herança dos pais.

Dai em diante foi o desabar de uma família. José Romão foi encontrado certa manhã pendurado num chaparro, com um palmo de língua negra a sair da boca escancarada. Dona Alzira nunca mais disse coisa com coisa e acabou por ficar no lar das freiras que acudiam a estes casos de misericórdia. Amadeu, na altura com 19 anos, apresentou-se como voluntário na tropa.
Foi para África, comeu o pão que o diabo amassou. Sentiu no corpo e na alma uma guerra que não era dele.
Voltou dois anos depois, diferente. Amargurado, com medos, com pesadelos.
Não era o mesmo Amadeu. O outro ficou para sempre perdido no imaginário dos camaradas desaparecidos.
Voltou ao seu Alentejo, donde nunca deveria ter saído. Andou desenraizado, estranho, perdido, procurando um rumo para a sua vida.
Restaurou a velha casa e transformou-a num estabelecimento que tudo vendia. Era o princípio de uma nova vida, que corria simples e monótona.
Depois conheceu Emília e a sua vida mudou.
Ficava à porta só para a ver passar, suspirava como adolescente apaixonado.
Tinha ciúmes do Amadeu.
Naquele dia não abriu a loja. Saiu cedo e quando voltou vinha transtornado.
Acalmou e voltou à sua rotina. Agora a Emília estava livre, agora já podia ser dele.



O dia começou, de repente, a escurecer. Os pequenos cirros que há pouco cobriam o céu, começaram a tornar-se em nuvens escuras.
Os trovões ribombaram e os raios cortavam os ares como chicotes de fogo.
O vento abateu-se com fúria e a chuva desabou copiosamente, inundando tudo e todos. O pequeno ribeiro saiu do seu leito e invadiu a terra como se fosse um oceano em fúria. Arrastou árvores, invadiu as casas e deixou um rasto de morte e desolação.
Choveu copiosamente durante 45 minutos.
Houve quatro mortes a lamentar.

Heitor lutou com todas as suas forças. A água invadia a loja e a fúria da corrente arrastou-o para a rua. Esbracejou, tentou agarrar as paredes, as árvores. Deixou as unhas vincadas no chão por onde o corpo se rebolava, se arrastava. Foi impotente, a fúria era maior. Tentou gritar, chamar Emília, mas a lama invadiu-lhe a boca, a faringe. Queria respirar mas já conseguiu. Sentiu a vida a fugir no emaranhado de terra, de água, do frio.
O fantasma do Amadeu dançava na sua frente, com um riso sardónico que lhe martelava os ouvidos.
O filme da sua vida passou de repente mas já mal conseguiu recordar o passado.
Via desfilar os camaradas que estropiados por uma guerra que não pediram e que lhe estendiam as mãos.
Depois.... o coração deixou de bater.
Foi a escuridão total.
O vazio.

Emília fez as malas. Nada mais a prendia aquela terra.
Despediu-se dos filhos, apanhou a camioneta e desapareceu.
Não foi fácil tomar esta decisão....
Ninguém sabe para onde foi.
Dizem que está na Suiça.
Nunca mais voltou à aldeia.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Todos os dias parecem iguais .... II Parte

Sem dar por isso, quando reparei já ia a meio da trigésima página. Loucura! Um pequeno conto já estava no tamanho de um novela e se desse azo não tardava seria um romance.
Como sapateiro não deve tocar rabecão, avacalhei tudo e ficou algo mais pequeno, pouco conseguido, que publicarei em três vezes.


Ela bem notava a forma como o Heitor a olhava. Quando passava sentia os seus olhos percorrerem-lhe o corpo numa análise gulosa, sentia um formigueiro na nuca e havia como que um prazer que a invadia, de uma forma tão doce que ficava com vontade de voltar a passar.
Ainda o Amadeu, que Deus levou, era vivo e já ela se apercebia que o Heitor a olhava e lhe falava de uma forma diferente. Havia como que doçura na sua voz e os seus olhos brilhavam de uma forma que a deixava deslumbrada. Reparou, mas pensava que era a maneira de ser cortês, e, se calhar era mesmo assim. Inclinava sempre a cabeça com uma delicadeza a que não estava habituada.
Ainda se lembra daquela vez em que foi comprar uns elásticos para os calções do Ernesto e na altura de pagar reparou que não levava dinheiro. Ficou tão envergonhada que nem teve coragem de o dizer. Saiu a correr para pegar na carteira que ficara esquecida na prateleira onde guardava as bilhas da água. Quando voltou ia corada, como se tivesse cometido um pecado. Quando ele lhe disse:
-Dona Emília que coisa tão grave fez com que fugisse de forma tão apressada?
Se estava corada, ainda mais ficou e apenas lhe saiu
-Senhor Heitor, por amor de Deus, apenas deixei o porta-moedas em casa.
-Mas não valia a pena cansar essas lindas pernas, depois pagava.
Ficou tão constrangida que saiu e deixou o elástico. Teve que pedir à Alzira para o ir buscar.
A partir desse dia sentiu que alguma coisa tinha mudado, e que Amadeu a perdoe, mas o Senhor Heitor passou a fazer parte do seu imaginário.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Todos os dias parecem iguais....


Escrevi este conto há longos meses e pensei que nunca o iria publicar.
Tinha 30 páginas. Demasiado para um Blog. Cortei, cortei e possivelmente descaracterizei o que pretendia.
Restou o que vou publicar. Hoje vai a primeira parte.
Peço perdão, mas........as limitações são muitas.


Não foi fácil tomar esta decisão, mas há muito que Emília o pensava fazer.
Veio para esta casa tinha seis anos, aqui casou, aqui nasceram os três filhos, daqui saiu, para o cemitério, o único homem que conheceu e a quem amou acima de todas as coisas. Agora as coisas estavam diferentes, o Ernesto acabara de fazer 22 anos e ia casar, a Alzira estava a fazer os 18 e pensava sair de casa, e não tardava a Célia com 16 também iria querer seguir o seu caminho.
Como se lembrava da primeira vez em que pela mão do pai foi à escola, metida naquela vestido branco com florzinhas que a madrinha lhe tinha oferecido na Páscoa, e na fita que lhe prendia os fartos caracóis que lhe desciam pela nuca. O pai enfiado no seu melhor fato, apertado na frente e parecendo que os botões a todo o momento podiam rebentar.
Engordou mas a roupa continuava na mesma, embora a mãe tentasse fazer os impossíveis para remediar o que não tinha forma de ser remediado.
Foi um momento inesquecível quando me entregou à Dona Laura, a minha professora, com um sorriso de felicidade porque a sua menina, como dizia, ia começar um novo ciclo da vida.
Quando o pai morreu, tinha acabado de fazer 10 anos, foi como se o mundo desabasse de repente. Não sabia como a vida seria possível dali para a frente.
Foi difícil, mas a mãe com uma determinação que ninguém lhe conhecera, conseguiu desempenhar os dois papéis, trabalhou como nunca ninguém pensou, de dia na fábrica a fazer calças e à noite a lavar e a passar a ferro a roupa de quem a procurava.
Foram tempos difíceis, mas mesmo assim foi muito feliz.
Tinha 16 anos quando conheceu o Amadeu. A princípio não o tomou a sério, não estava disposta, mas as coisas acontecem sem que nós nos apercebamos.
Foi tudo tão de repente, e a forma como começou a amar aquele homem, a beber as suas palavras, a ter ciúmes das raparigas que falavam com ele, era verdadeiramente inacreditável. De menina insegura tornou-se uma mulher decidida e foi mesmo ela quem lhe propôs viverem juntos.
Os pais bem tentaram contrariar aquela asneira, assim diziam, mas estava determinada e nada a faria demover. Por fim aceitaram e depois de um casamento pobre, mas feliz, foram viver para casa dos pais.
Agora, que já fizera 40 anos, olhava para o espelho para ver as pequenas rugas que se adivinhavam nos cantos dos olhos, mas ainda gostava da imagem que tinha na frente. Tinha uma pele rosada, os grandes olhos cor de avelã brilhavam com a mesma juventude de sempre, os fartos caracóis louros já deixavam perceber alguns fios brancos que ficavam camuflados nos cachos de ouro que lhe emolduravam a testa.
Sentia que e menina se transformava depressa demais e não iria tardar para sentir que a velhice não estava muito longe.
Desde que o Amadeu morreu, daquela forma tão trágica, nunca tinha pensado que ainda estava a tempo de começar de novo, mas havia vezes em que pensava que ainda estaria a tempo de encontrar um novo rumo para a sua vida.
Ainda tinha presente quando lhe trouxeram o marido moribundo, trucidado pelo rodado do tractor. Nunca se chegou a saber como aconteceu, pois foi encontrado na vereda que levava à horta que ajudava ao sustento da casa.
Tinha que pensar na sua vida, os filhos estavam criadas e estavam a seguir o seu rumo. O Ernesto acabara o curso e ia trabalhar para o Porto como engenheiro numa fábrica de coisas eléctricas. A Alzira sempre foi uma menina difícil, descontente com tudo e todos, com uma cabeça cheia de sonhos. Namorava um rapaz, filho de boas famílias, e estavam dispostos a ir viver juntos. Ia ser uma relação difícil.
A Célia era a mais chegada à mãe. Ainda, hoje, não adormecia sem que não lhe desse um beijo de boas noites. Mas estava uma linda rapariga e os moços já começavam a rondar a porta.
A mãe cansada de trabalhar, deixou que o Alzheimer se apoderasse do que restava, e recolheu a um lar onde esperava, alheia a tudo, que a vida acabasse.
Agora estava decidida e ia ser difícil mudar de opinião.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Nostalgias.....




"Esta gente rasteira que escreve sem se identificar só tem arte para discutir pessoas e não ideias e princípios"-(Rui Rangel)




Nostalgias…..

Não é por um sentimento de tristeza mas as recordações de um passado distante bailam na minha memória.
Eram outros tempos, outras mentalidades.
Muita miséria e muito medo.
As pessoas com que nos cruzávamos sorriam e cumprimentavam.
Havia receio de falar abertamente de muitos assuntos e só na segurança da casa aparecia a coragem para protestar contra as injustiças e desigualdades sociais, nessa data mais flagrantes que hoje em dia.
Os patrões eram, ou pareciam, mais exploradores do que agora, mas havia outra humanidade e respeito.
Não tínhamos medo de andar na rua durante a noite, a insegurança não existia.
Éramos diferentes. Fazíamos das dificuldades a nossa batalha.
Parecíamos felizes nas nossas carências. Tudo o que tínhamos, ou conseguíamos, era o fruto do nosso querer, da nossa determinação. Sem benesses, sem favores, com conquista.
Não tenho saudades, eu sei que é apenas a nostalgia da idade.


sábado, 6 de dezembro de 2008

Voltei só para desejar.....





Espero, de todo o coração, que todos os meus amigos tenham o Natal que eu tanto desejava para mim. Boas Festas!




Já gostei muito do Natal, da magia das luzes, das montras enfeitadas, dos doces tradicionais, dos olhos brilhantes das crianças diante dos brinquedos.
Era o sortilégio de uma quadra, de um momento em que todos são solidários, em que os mais desfavorecidos existem no pensamento dos outros.
Gostava da consoada quando toda a família partilhava a alegria de estar juntos.
Era o bacalhau, o peru, as filhoses, as rabanadas, a missa do galo, o frenesim dos mais pequenos a rasgar o papel das prendas.
A árvore de Natal com as luzes a acender e apagar, onde uma profusão de estrelas, bolas, flocos de algodão nos transmitiam um ambiente pagão numa festa religiosa.
Eu gostava do Natal. Eu vivia o Natal.
Tinha uma família, uma razão, um motivo.
Gostava do Natal, porque sentia à minha volta os risos que se apagaram.
Agora não tenho razão para ter Natal.
Para mim o Natal...já.... não existe mais.
Deixei de gostar do Natal.

Voltei só para desejar.....







Espero, de todo o coração, que todos os meus amigos tenham o Natal que eu tanto desejava para mim. Boas Festas!


Natal

Já gostei muito do Natal, da magia das luzes, das montras enfeitadas, dos doces tradicionais, dos olhos brilhantes das crianças diante dos brinquedos.
Era toda o sortilégio de uma quadra, de um momento em que todos são solidários, em que os mais desfavorecidos existem no pensamento dos outros.
Gostava da consoada quando toda a família partilhava a alegria de estar juntos.
Era o bacalhau, o peru, as filhoses, as rabanadas, a missa do galo, o frenesim dos mais pequenos a rasgar o papel das prendas.
A árvore de Natal com as luzes a acender e apagar, onde uma profusão de estrelas, bolas, flocos de algodão nos transmitiam um ambiente pagão numa festa religiosa.
Eu gostava do Natal. Eu vivia o Natal.
Tinha uma família, uma razão, um motivo.
Gostava do Natal, porque sentia à minha volta os risos que se apagaram.
Agora não tenho razão para ter Natal.
Para mim o Natal...já.... não existe mais.
Deixei de gostar do Natal.