quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Num arco de flores




Partistes, de repente, num arco de flores
Num terno adeus, num até mais não.
Fiquei tão só, carpindo minhas dores,
Na mais longa e dolorosa escuridão.

Nada mais interessa, mais nada existe,
Só o espinhoso escuro da minha solidão.
Morri... também... no dia em que partiste,
Tudo acabou, mais nada existe... desde então.

Escuto a tua voz...suave...no meu pensamento
Melodias de palavras murmuradas... só para mim
Murmúrios doces...sons de puro encantamento;

Arco de flores... sorriso que o tempo já murchou,
Morro devagar. Sentindo a dor do meu sofrimento.
Que chegue a hora, não quero mais ser quem sou.


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Segui os teus passos



Segui os teus passos como se os teus pés fossem o embalo do meu caminhar;

Segui os teus passos perdido na jornada confusa da senda do teu percurso;

Segui os teus passos em memórias dispersas num caminho sem avançar;

Segui os teus passos num horizonte sem fim... vereda estreita e tortuosa;

Segui os teus passos em agruras de marcas indeléveis... num futuro sem termo;

Segui os teus passos na tristeza de tempos que foram e mais não são;

Segui os teus passos e sinto as grilhetas cravadas na carne... sangue... exangue;

Segui os teus passos como alma olvidada no tempo,gritos de ais... promessas de nãos;

Segui os teus passos com saudades de períodos que não existiram...alento perdido no etéreo;

Segui os teus passos em clamores de mágoas... lágrimas...saudades... lembranças esquecidas;

Segui os teus passos...por fim... destruído de existência, morto de emoções...trôpego...extinto;

Segui os teus passos... cego...enganado por promessas que eram mentiras, apenas embustes;

Segui os teus passos e hoje nada me resta, nem o simples rasto dessa...longa... caminhada.

Hoje não tenho os teus passos...

...caminho nos meus... na procura de quem me possa encontrar.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Nostalgia



Talvez seja tristeza ou solidão...

Ou sonho perdido no tempo...

Longo invisível e angustiado...

Que porfia em ser recordação...

Triste, oculto e torturado...

Sino que tange escondido...

Num pensamento dormente...

Amargurado e esquecido...

Ser outro.... ser alguém...

Acordar num tempo longínquo

...Numa metamorfose

...leve, flutuando...

Despertar da penumbra...

Como se a sombra fosse luz...

Partir em suave prazer...

...Morrer devagar...

...Como se não fosse.



quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Obrigado.....


Hoje não queria escrever nada.

Pensei aproveitar o dia como se não existisse.

Deixar que o relógio na sua marcha inexaurível fosse, a pouco e pouco, esgotando as horas.

Hoje não queria nada, queria que apenas fosse mais um dia, no longo rosário dos que já passaram.

Queria que os meus pensamentos ficassem em total letargia.

Que a minha memória estivesse como se uma estranha amnésia dela se apoderasse.

Hoje eu queria que já fosse amanhã, para que as recordações já fossem do passado.

Mas... hoje tive as mais belas mensagens de amizade e de amor e só elas conseguiram mitigar tudo o que vai dentro de mim.

Hoje senti, mais uma vez, como é bom ter amigos tão especiais.

Obrigado.

sábado, 10 de outubro de 2009

Mulheres......



O meu telemóvel não costuma tocar tão cedo. Quem poderá ser a esta hora?

-És tu João? Que te deu hoje para seres tão matinal?
Se precisas falar comigo lá estarei. No café as 3 horas. Está bem?

Pontualmente às 3 horas o João entrou com um ar diferente do habitual. O sorriso pronto estava transformado num esgar tão triste que era confrangedor. Aquele olhar vivo que nos contagiava não era mais que uma pálida imagem de desalento.

-Que se passa João, nunca te vi assim tão em baixo. Olhou-me com um sorriso amargurado e foi-se sentando à minha frente.

-Sabes Eduardo a minha vida mudou, penso que a Susana me anda a enganar com alguém.

Senti um baque e de certo que o meu rosto mudou de cor.

-Porque dizes isso João? Tens alguma coisa que te leve a pensar assim?

-É o comportamento. Não é a mesma, evita-me e quando a procuro está sempre cansada. Está diferente.

-Se calhar está mesmo cansada, não comeces a arranjar um filme na tua cabeça.

-Não Eduardo conheço a minha mulher. Há qualquer coisa. Ou tem outra pessoa ou, então, já não gosta de mim.
Vim falar contigo, és nosso amigo e a Susana tem muita confiança em ti e ouve muito bem o que lhe dizes. Fala com ela e tenta saber o que se passa. Sabes que eu faço tudo para a fazer feliz. Vá fala com ela. Faz esse favor ao teu amigo.

Como entrou saiu, ombros caídos e parecendo arrastar o peso do mundo.

Peguei no telemóvel para ligar á Susana, mas não sabia bem como começar a conversa. O assunto era delicado e eu não estava muito á vontade.
Mas tinha que ser.

-Olá Susana, Estás só? Não, não é isso. É grave, é muito grave mesmo. O João anda desconfiado contigo, não nos podemos encontrar mais. Foi bom e vou ter muitas saudades tuas, mas temos que nos afastar. Vá, volta a conquistar o teu marido.

Desliguei, assobiei baixinho a malagueña e segui o meu caminho.

Mulheres!!!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Apenas isto.




Há coisas na vida que não se explicam, ou não sei explicar.

Temos momentos em que nos sentimos, de forma muito efectiva, desmotivados e totalmente frustrados com os acontecimentos que se nos deparam.

Talvez seja burrice própria ou, quem sabe, senilidade precoce mas a verdade é há coisas que não consigo compreender.

Ou será que eu sou um pouco complicado e tenho um conceito de vida fora do que deveria ter?

Não sei! Mas a verdade é que vou continuar a ser como sempre fui. Vou manter o mesmo estatuto, o mesmo conceito e o mesmo procedimento.

Não vou abdicar daquilo que, sempre, intransigentemente defendi.

Para os que eventualmente me possam ler, quero dizer que tudo isto vem a propósito de conflitos internos que quero gerir e que não sei bem como o fazer.

Apenas isto.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sei que sou capaz.....



Ando um pouco desenraizado, um pouco á deriva.

Não sei bem o que passa mas sinto que tudo o que gira á minha volta, está a andar num ritmo que ultrapassa as minhas capacidades.

Quero, a toda a força, abarcar um mundo que se me escapa, que me ultrapassa. Quero viver o dia de hoje com a mesma força com que tenho vivido todos os dias que há passaram.

Tudo o que ontem era verdade, hoje já não é.

Tudo o que aprendi já não é importante, o que aprendo hoje amanhã já esta fora de moda.

Ando num frenesim, num intenso trabalho de abarcar um mundo que desponta a cada momento.

Por vezes penso em desistir, mas não o vou fazer.

Sou um sobrevivente, sou um lutador.

Sei que sou capaz.

O tempo o dirá.

domingo, 4 de outubro de 2009

A última carta



Um dia escrevi esta carta. Não por mim, mas sim, por um repto que me lançaram.


Meu amor.

Não sei o que se passa mas desde que cheguei a este lugar horroroso não tive mais noticias tuas.

Quando pergunto, dizem que reze por ti.

Eu não sei rezar e tenho a mente muito perturbada. Ando a dormir a maior parte do tempo e o meu corpo perdeu a força e a genica que tanto elogiavas. Julgo que os comprimidos que me obrigam a engolir não me deixam livre o pensamento, é estranho que para tratarem, dizem , a minha depressão me encerrem com esta gente que grita, que anda indiferente, que se arrasta da cama para o banco, que se baba e que olha em frente como se vissem para além do infinito.

As noites são horrorosas, mas tenho força para enfrentar e luto para ficar bom e poder estar outra vez junto a ti.

Tenho saudades do teu corpo, dos teus afagos, do nosso amor. Quero rebolar, contigo, no chão da sala. De te despir num frenesim de beijos, de carícias. De sentir a tua língua a procurar a minha, das tuas unhas arranhando as minhas costas. E quando o nosso amor explode parece que o mundo é só nosso. Ficamos cansados, ofegantes, corpos colados num prostrar tão saboroso.

Sinto vontade de passear contigo, de mãos dadas como crianças num parque.

Tenho o desejo de olhar os teus olhos que me prometem tudo o que mais quero.

Anseio possuir o desejo da tua paixão, beijar os teus olhos na vontade duma procura de afectos, na certeza de um amor que é nosso, só nosso.

Mas todas estas vontades morrem quando me dão a injecção que entra no meu sangue como um fogo que me toma e me leva para um mundo que não é o meu. A minha cabeça parece que rodopia numa espiral de sonhos, depois é o silêncio e o escuro.

Quando volto a acordar é como se tivesse nascido de novo, tudo é estranho, tudo é diferente. Devagar, muito devagar volto á vida. Lentamente as ideias regressam à minha mente.

Depois são os pensamentos e os porquês. Porque estou aqui, porque não me vens ver, porque não respondes as minhas cartas?

Será que não te disseram onde estou? Será que não recebes os lamentos, que periodicamente deixo no papel para te enviar?

Será que já morri e penso que ainda habito no teu espaço? Ou será que tu....não quero pensar nesta parvoíce!

Tenho que acabar esta carta, tenho que arranjar maneira de ta enviar, tenho que descobrir forma de não ma tirarem.

O enfermeiro já aparece ao fundo do corredor, depois é a injecção, a espiral, o afundar nesse buraco fundo e escuro.

Fugir não posso.

Vou dormir.

Até um dia meu amor!