terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Vou partir



Preciso de uns dias para recuperar da labuta diária.
Voltarei no dia 1 de Fevereiro.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Pobre Santo



Hoje fiquei siderado, não esperava mais esta.

Eu sei que um coro se vai voltar contra mim, são os falsos pregadores de liberdades. São os que à sombra do que é moderno se arvoram em defensores das autonomias, pregadores de costumes latos e, no fundo, não passam por serem, apenas, uns prosaicos defensores do indefensável.

Como já deixei bem vincado, eu sou um fervoroso adepto de todas as liberdades, por isso tenho lutado pela minha, dentro de princípios e regras que não devem extravasar o senso comum.

Concordo que os homossexuais, leia-se paneleiros e lésbicas, tenham a vida que quiserem, que durmam e façam o que bem lhes dá na gana.
Aceito que tenham o gosto de viverem como par, com os mesmos direitos e deveres de todos os casais, legalizando-se para efeitos fiscais e direitos de herança e sobrevivência.

Têm direito a isso!

Agora casar, não, isso nunca. Casar é a união entre dois indivíduos de sexos diferentes, nunca a triste figura de dois seres do mesmo sexo em cenas que, os próprios irracionais, evitam.

Tenho nojo e repulsa quando vejo dois homens, pior que duas mulheres, em cenas de língua dentro da boca.

E quando são dois homens de barba ou bigode?
Ainda pior.

Aceito que estou fora de moda, ou que fui educado com outros conceitos sobre os valores humanos. Fui ultrapassado pelos modernismos.
Pronto, aceito, o erro é meu!

Mas agora, ler num jornal, que a Câmara Municipal de Lisboa vai aceitar inscrições dos homossexuais para os casamentos de Santa António, isso é que não.

Tenho a certeza que é agora que o Santinho salta do altar e quebra a bilha.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Mataram o Biólogo




Afinal ainda era tão novo, tinha feito há pouco tempo 12 anos.

Ia acabar o 2º ano do liceu, primeiro ciclo, assim se chamava na altura.

Tinha um mundo de sonhos na cabeça. Eram pueris, como todos os sonhos de crianças, mas eram os seus sonhos.

Estava determinado, acabava o primeiro ciclo ia para o terceiro ano e, depois, ia estudar muito para ser biólogo.

Estava decidido.

Desde que lera num livro que os biólogos descobrem a cura das doenças, pensou desde logo, é isso que eu quero.

Já se imaginava rodeado de pipetas, provetas e tubos com líquidos que ferviam em espirais de cor.

Olhos assentes no microscópio, fórmulas e, um sem número de coisas mágicas para descobrir os novos remédios.

Um dia, há sempre um dia para destruir as ilusões das crianças. Porque? Não sei, mas sei que há.

Estava a acabar o dia, enquanto preparava a pasta para a escola , não pode deixar de ouvir:

-Arranjei emprego para o rapaz, vai para o escritório do senhor doutor J.A.
-Mas, é só para as férias?
-Qual que? É para continuar, tem que se fazer à vida.
-E os estudos? Está a ir tão bem.
-Se quiser continuar vai estudar de noite.

Adeus sonho lindo, acabaram de matar um biólogo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Temos o que merecemos?




Há quem tenha a sorte de ter uma vizinha boa.

Eu sou um infeliz, pois parece que andaram a escolher o pior que Deus criou para morar nas minhas imediações.

Velhas, cuscas, mal-humoradas e destituídas do sentido da solidariedade.

Não podemos contar com elas para nada, a não ser para escutar por detrás da porta quem entra e quem sai e a que horas o fazem.

Não vale a pena brindá-las com um sorriso matinal de bons-dias, pois levamos logo como uma frase com a que ouvi ontem.

-Olhe senhor, diga aquela menina que saiu hoje de manhã da sua casa, que bata a porta com mais cuidado.

Fiquei um bocado encabulado e, tenho que avisar a Lena para ser mais discreta.

Eu bem tenho tentado, faço o melhor sorriso, abro a porta do elevador e, até já tenho comentado o tempo para quebrar o gelo.

Mas não vale e a pena.

Não tenho uma vizinha boa e muito menos uma boa vizinha.

Sorte a minha!



domingo, 10 de janeiro de 2010

Sabes?




Pobres de pobres são pobrezinhos,
Almas sem lares, aves sem ninhos
(Guerras Junqueiro)


Hoje o dia está tão triste quanto eu.

Olho pelas vidraças e apenas a minha imagem me é devolvida pelo escuro da tarde.

Diáfana e desfocada, quase fantasmagórica, como se a tristeza de um dia triste contagiasse o reflexo que tolda o meu olhar embevecido na magia do negrume, que aos poucos toma conta do dia.

Olho tentado enxergar, entre o reflexo, quem passa apressado.
Vultos embrulhados no frio que enregela.
Corpos fustigados pela chuva irritante.

A noite cai mágica, nostálgica, densa e escura.

Enrosco-me no conforto do meu sofá, enquanto o calor da lareira numa crepitante dança de chamas rosadas, me aquece o ser.

Sinto o conforto no corpo e o desconforto no meu pensamento.

Lembro os desgraçados dos sem abrigos, pobres de Cristo, que a vida escorraçou.

Corpos deitados no chão enregelado de uma vida de pobreza, tristeza e solidão,vultos embrulhados em mantas de sofrimento.


Sinto a amargura dos que sofrem as agruras da miséria, do abandono e da solidão.

Fico triste, porque o vosso Deus, se esqueceu que todos são seus filhos.

Mas não!

Muitos são filhos do outro.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Progressos



Já sei que vou ser verberado, mas não me importo!

Há coisas que mexem comigo e não posso ficar indiferente, tenho direito á minha indignação e, respeitando todas as opiniões não me inibo de expressar a minha.

Não concordo, pronto, não concordo com essa coisa do casamento dos homossexuais. É-me indiferente que coabitem, que vivem em comunhão, que se divirtam como gostam. Afinal o cú é deles!

O que não me passa, pela cabeça, é essa coisa de casamento.

Imaginar dois marmanjos de vestidinho de cerimónia e, um de grinalda na cabeça com um raminho de rosas vermelhas na mão, perante um Conservador.

A quem vai o Senhor fazer aquela pergunta sacramental?

-É de sua livre vontade aceitar o Senhor Onofre como sua legitima esposa?

E se forem duas mulheres? Uma, decerto, de fraque e chapéu de coco e a outra de vestidinho cor-de-rosa, como reagirá quando lhe perguntarem?

-É de sua livre vontade aceitar a Dona Genoveva como seu legítimo marido?

Se isto nem gramaticalmente bate certo, como pode resultar na prática?

Vivam juntos, procriem se conseguirem. Mas casar? Tenham juízo!

Já aceito a nova terminologia de gays e lésbicas. Aceito para não melindrar os mais sensíveis a certos termos, porque nunca foram assim conhecidos.

Não, não vou dizer os termos certos.

Vocês sabem!

É pá que arranjem uma legalização da união, tem esse direito. Mas casar? Isso não!

Fico por aqui.

Ao que chegámos!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Pouca sorte



-É hoje mulher! É hoje!

Foi com esta frase que o Ti Jaquim chegou, hoje, a casa.

A Dona Célia ficou perplexa com a lengalenga do raio do homem.

Normalmente o Ti Jaquim era um homem comedido, palavroso mas muito ponderado no que dizia.

Hoje chegou excitado e não se cansava de repetir:

-É hoje mulher! É hoje!

-Mas que ladainha é essa Jaquim? Perguntou a dona Célia.

-Tem calma Célinha que logo á noite já vais ficar a saber, murmurou Ti Jaquim, com um ar de grande mistério.

O senhor Joaquim tinha feito, há pouco, 75 anos. Estava reformado mas ia todas as manhãs fazer um biscatezinho numa urbanização, mostrava às pessoas as casas que estavam para vender. Era uma ajuda, pois a pensão não era grande coisa.

Hoje chegou, como sempre, as três horas com aquele ar enigmático e com o palavreado que deixou a Dona Célia um pouco confusa.

Não podia ser o que ela estava a pensar, pois há mais de um ano que o homem não se lembrava disso. Mas pelo sim, pelo não, ia vestir, esta noite, uma camisa de dormir mais bonita.

Não tinha já vontade para essas coisas, pois os seus setenta anos pediam mais descanso de que outras folias.

Mas, se o seu homem estava para ai virado ela não o podia desiludir.

Jantaram, como sempre, as sete horas.

Era cedo, mas o marido assim se habitou enquanto trabalhava e, agora era difícil mudar hábitos antigos.

Acabado o jantar, enquanto Dona Célia arrumava a louça e a cozinha, Ti Jaquim foi-se sentar, como era costume, em frente à televisão.

Quando Dona Célia deu por ele, Ti Jaquim dormia profundamente no sofá, de boca aberta e sem dar conta do filme que estava a passar.

-Oh Jaquim! Bradou Dona Célia, vai para a cama homem!

Abriu os olhos estremunhado e deixou sair um lamento.

-Porra mulher, ainda não foi hoje, só acertei num número e numa estrela.

Pouca sorte a nossa!


Quem sabe um dia.



Meu Deus que beleza!

Curvas lindas e simétricas onde apetece deixar correr os dedos em suaves carícias, apenas, de puro prazer.

Tentei aproximar a minha mão, devagar, mas uns olhos de recriminação refrearam-me os intentos.

Fiquei só a observar com um olhar que tentei não ser guloso, com uma admiração que não queria que se notasse invejosa.

Que pena já ter um dono que nos observa gozando os olhares de admiração cobiçosa.

Afastei-me devagar olhando de soslaio, mais uma vez, aquela obra a que só muito poucos podiam aspirar verdadeiramente.

Um dia se acertar na chave do Euromilhões, quem sabe se não compro também um carro igual.

Até lá, vou admirando o dos outros.

É assim a vida!

Que fazer?