terça-feira, 31 de maio de 2011

Segui os teus passos...





Segui os teus passos como se os teus pés fossem o embalo do meu caminhar;

Segui os teus passos perdido na jornada confusa da senda do teu percurso;

Segui os teus passos em memórias dispersas num caminho sem avançar;

Segui os teus passos num horizonte sem fim... vereda estreita e tortuosa;

Segui os teus passos em agruras de marcas indeléveis... num futuro sem termo;

Segui os teus passos na tristeza de tempos que foram e mais não são;

Segui os teus passos e sinto as grilhetas cravadas na carne... sangue... exangue;

Segui os teus passos como alma olvidada no tempo, gritos de ais... promessas de nãos;

Segui os teus passos com saudades de períodos que não existiram...alento perdido no etéreo;

Segui os teus passos em clamores de mágoas... lágrimas...saudades... lembranças esquecidas;

Segui os teus passos...por fim... destruído de existência, morto de emoções...trôpego...extinto;

Segui os teus passos... cego...enganado por promessas que eram mentiras, apenas embustes;

Segui os teus passos e hoje nada me resta, nem o simples rasto dessa...longa... caminhada.

Hoje não quero mais os teus passos...

...caminho nos meus... na procura de quem me possa encontrar.


sábado, 28 de maio de 2011

Nostalgia....





Talvez seja tristeza ou solidão...

Ou sonho perdido no tempo...

Longo invisível e angustiado...

Triste, oculto e torturado...

Sino que tange escondido...

Num pensamento dormente...

Amargurado e esquecido...

Ser outro.... ser alguém...

Acordar num tempo longínquo

...Numa metamorfose

...leve, flutuando...

Despertar da penumbra...

Como se a sombra fosse luz...

Partir em suave prazer...

...Morrer devagar...

...Como se não fosse.



terça-feira, 24 de maio de 2011

Eu tenho um sonho......





Eu vivo com papéis, eu sonho com papéis, eu estou farto de papéis.

Quero-me libertar, quero ser livre.

Quero ir de férias sem pensar no monte que se irá acumular.

Quero ir para a cama sem levar na cabeça todos os que na minha secretária esperam por mim.

Estou atulhado de facturas, de débitos, de créditos, documentos bancários e de tantos outros que a burocracia inventou.

Estou farto de SNC, AAA, CIRC, NCRF, PCGA, IVA, IRS, IRC, CC-ME e de uma infinidade de acrónimos que me azucrinam a cabeça..

Estou cheio de relatórios, réditos, imparidades, activos biológicos e tudo o que os rodeia.

Estou cansado de balancetes, extractos, contas-correntes, balanços, actas e todas as, outras merdas, que me dilaceram o pensamento, me corroem a tranquilidade.

Eu quero fazer, com todos os meus papéis, uma pira que me liberte, um fogo em que os possa imolar um a um, metodicamente, sadicamente, gozando deliciado toda a labareda que os consume.

Quero ver os meus olhos rebrilharem com a luz da chama que os vai aniquilando e os transforme em espirais de fumo, em rolos esfiapados que se diluem no espaço.

Quero dançar sobre as cinzas libertadoras, pular de alegria e ser livre
finalmente!





domingo, 22 de maio de 2011

Lembranças? Talvez nostalgia!





Eu sei que a vida se dilui como areia a escorrer por entre os dedos;

Sei que o tempo que foi ficará, para sempre, esquecido nas recordações;

Sinto que os momentos que não morrem são fugazes lembranças abandonadas;

Destino perdido nas recordações de vidas que não são mais vidas;

Tristezas que maculam bem fundo. Estigmas que mordem;

Agonias que martirizam como grilhetas cravadas na carne viva;

Sentimentos perdidos em ocultas lembranças guardadas na memória;

Gritos abafados pela rouquidão de uma garganta cansada;

Desabafos abandonados no escárnio do desabrigo de memórias perdidas;

Glória, vã glória na inutilidade do que queremos ser mas não somos;

Luta insana na conquista do inconquistado passado;

Arrependimento do que não foi e do que poderia ter sido.



segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Outeiro dos milagres....






Uma amiga, que muito prezo, escreveu um dia:
Gosto como escreves, ainda vou pegar uma fase feliz sua...com finais mais felizes...

Para ti tentei este que espero que não o aches triste.








-Já viu amigo Jeremias aqueles moços que parecem iguais?

-Então amigo Meireles são gémeos, são os netos do Caga-Azeite. Aqueles rapazes são fruto de um milagre.

-Milagre?

-Sim milagre. A Isabelinha casou com um moço da Guarda Republicana, bom rapaz por acaso, e queriam á força ter um filho e nada. Até foram ao médico, mas a rapariga continuava seca como um carapau. Foi ai que alguém se lembrou de lhe dizer para ir ao Outeiro dos Milagres. Eles foram e o resultado está á vista.

-Conte lá isso melhor que eu não entendi nada.

-Então aqui vai. Dizem os mais antigos que quem tem algum problema para resolver e não consegue, deve ir ao Outeiro e levar uma enfusa de água que deixa ao luar. De hora a hora, conforme os casos, bebe um copo ou faz banhos com essa água. Dizem, eles, que se conseguem resolver todos os problemas.

-Custa a crer.

-Já sabe de um caso que até parece que foi lá resolvido. Até dizem, alguns, que os catraios foram lá feitos. É o que se diz.

-Aconteceu homem. É uma coincidência.

-Coincidência nada, há mais. O filho do tio Zé da Velha tinha um problema nas virilhas. O rapaz não se dava conta com a comichão e as borbulhas que o apoquentavam noite e dia. Correu médicos e mais médicos. Experimentou todas as mesinhas, unguentos, poções e nada. O moço andava desesperado e até evitava arranjar namorada com a vergonha. Foi ao Outeiro, levou a água que pôs numa bacia ao luar e de hora a hora foi lavando as partes. Foi milagre, está curado, nunca mais teve problemas. Até já arranjou namoro com a filha do Lino Coveiro.

-Estou a ficar admirado.

-Vou-lhe contar mais uma. A Joana, filha da Alzira Coxa, nasceu-lhe uma coisa ruim na barriga. A rapariga andava descorçoada, até foi ao Hospital na cidade, onde a queriam operar. Mas não lhe prometiam nada, pois só depois de a abrirem podiam saber o que tinha. A mãe não se conformou e levou á rapariga ao Outeiro. Passaram lá a noite a por pachos com a água que estava ao luar, foi remédio santo. No outro dia, ouviu-se um estrondo e pum, aquilo rebentou e encheu um balde de porcaria. Ficou curada.

-Se não fosse você a contar eu não acreditava, mas assim nem sei que dizer.

-Passe bem amigo Jeremias!

********

-Então caro Meireles que cara é essa?

-Sabe aquilo que me contou ontem sobre o Outeiro dos Milagres? Pois quando deixei o amigo, fui a casa, peguei na minha Perpétua, num garrafão de água e numa bacia e pimba, fui a caminho do alto. Deitei a água na bacia que ficou ao luar. De hora a hora obriguei a mulher a lavar a cara com a água. Contrariada mas lá foi fazendo o que lhe disse.

-Então homem, qual era o problema da patroa?

-O problema, então não a conhece?

-Conheço e bem.

-Pois como pode ver não houve milagre nenhum. Foi feia e só não voltou pior, porque mais feia não se pode ser.

-Valha-me Deus


sábado, 14 de maio de 2011

Mulheres!!!!!





O meu telemóvel não costuma tocar tão cedo. Quem poderá ser a esta hora?

-És tu João? Que te deu hoje para seres tão matinal?
Ok, está bem, se precisas falar comigo lá estarei. No café as 3 horas. Está certo?

Pontualmente às 3 horas o João entrou com um ar diferente do habitual. O sorriso pronto estava transformado num esgar tão triste que era confrangedor. Aquele olhar vivo que nos contagiava não era mais que uma pálida imagem de desalento.

-Que se passa João, nunca te vi assim tão em baixo. Olhou-me com um sorriso amargurado e foi-se sentando à minha frente.

-Sabes Eduardo a minha vida mudou, penso que a Susana me anda a enganar com alguém.

Senti um baque e de certo que o meu rosto mudou de cor.

-Porque dizes isso João? Tens alguma coisa que te leve a pensar assim?

-É o comportamento. Não é a mesma, evita-me e quando a procuro está sempre cansada. Está diferente.

-Se calhar está mesmo cansada, não comeces a arranjar um filme na tua cabeça.

-Não Eduardo conheço a minha mulher. Há qualquer coisa. Ou tem outra pessoa ou, então, já não gosta de mim.
Vim falar contigo, és nosso amigo e a Susana tem muita confiança em ti e ouve muito bem o que lhe dizes. Fala com ela e tenta saber o que se passa. Sabes que eu faço tudo para a fazer feliz. Vá lá fala com ela. Fazes esse favor ao teu amigo?

Como entrou saiu, ombros caídos e parecendo arrastar o peso do mundo.

Peguei no telemóvel para ligar á Susana, mas não sabia bem como começar a conversa. O assunto era delicado e eu não estava muito á vontade.
Mas tinha que ser!

-Olá Susana, Estás só? Não, não é isso. É grave, é muito grave mesmo. O João anda desconfiado contigo, não nos podemos encontrar mais. Foi bom e vou ter muitas saudades tuas, mas temos que nos afastar. Vá, volta a conquistar o teu marido.

Desliguei, assobiei baixinho a malagueña e segui o meu caminho.

Mulheres!!!


sábado, 7 de maio de 2011

Saudades e lamentos….




As religiões são como os pirilampos, só brilham no escuro (desconhecido)



Eu acreditava. Seguia todos os passos que a cartilha me ensinara. Era medroso na fé que me incutiam. Cumpria com todas as estafadas regras de uma Igreja caduca que ainda vive agarrada a ideias já há muito ultrapassadas. Ia à missa, agradecia todas as refeições que EU ganhara. Rezava e pedia por tudo e por todos. Acreditava numa justiça divina, numa razão em que os bons seriam sempre lembrados, sem esquecer que os maus eram filhos do mesmo Deus. Vivi muitos anos agarrado a esse Deus que tudo me prometia e que afinal tudo me tirou.

Pedi, implorei e ofereci a minha vida. Ninguém me ouviu, todos me abandonaram, fiquei só. Perdi a crença, esqueci a fé, reneguei a vida.

Hoje ando porque tenho que andar, vivo porque querem que eu viva. Deixei de sonhar, perdi o amanhã. Existo, tal como a Igreja, num passado que me vai devorando lentamente.

Viver sem fé e sem esperança é difícil. Viver só de recordações é doloroso.

Quando acreditava era feliz.

Roubaram-me a confiança, levaram-me a felicidade.

Hoje não acredito e sou infeliz.





terça-feira, 3 de maio de 2011

Os teus olhos





Quando teus olhos me olham
Não é fortuito o olhar,
Bem sei quanto me desejam
E tanto que me querem amar

Quando os teus olhos me olham
Da forma com tu fazes,
Eu sinto o que eles pensam
E de tudo que são capazes

Quando teus olhos me olham
Na voragem dos desejos,
Apenas os posso abafar
Com o calor dos meus beijos

Não sei se Deus o deseja
Se são as lágrimas qu’os molham,
Mas sinto seja o que seja
Quando os teus olhos me olham...