sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A coincidência



 



Iam passados três anos e o regresso era um misto de alegria e de angústia, uma incógnita e algum medo pela incerteza na forma como ia ser recebido.
No dia em que me foram prender estava a sofrer pela morte misteriosa da Vera, o meu grande amor, mas não acreditaram na minha inocência e fui condenado por um crime que não cometi. Três anos passados, por falta de prova, devolveram à vida um homem desiludido e destroçado.
Hoje vou voltar à casa que me viu nascer, vou rever as lembranças dum passado que me manteve agarrado à esperança deste regresso.
Os nossos País já tinham morrido e a Matilde, minha única irmã, casou com o Gilberto e foi para Lisboa.Enquanto estive na prisão foi ela a minha força e o meu amparo, graças à sua persistência e às diligências, constantes, do meu advogado conseguiram a minha liberdade.
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Nada tinha mudado e tudo parecia diferente, as mesmas ruas, as mesmas tascas e até os homens que se sentavam às portas pareciam os mesmos.  

A casa estava ainda mais bela, imponente nas suas seis empenas, nas janelas rasgadas em molduras de pedra cinzelada, mantinha um ar senhorial que a tornava diferente de todas as restantes, mais térreas, com janelas simples e com ombreiras caiadas de branco. A nossa casa era diferente, dizem que foi uma extravagância do avô Geraldo com o dinheiro que ganhou no contrabando do volfrâmio.
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Quando meti a chave à porta senti um mundo de emoções, as minhas pernas tremeram e o meu coração disparou.
Estava tudo como quando o tinha deixado mas, ao mesmo tempo, tudo parecia diferente.  
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Foi no mês de Junho, de há três anos, que eu e a Vera tivemos um dia muito especial, em enlevos de palavras bebidas, olhares de mel e beijos que nos alimentavam como divinas ambrosias. Corremos felizes pelas areias quentes da praia, enchemos de ais as dunas, rebolando os corpos fundidos em suspiros que se deixavam diluir no encanto da entrega e na loucura do desejo. O mundo era todo nosso, só nosso, o Sol brilhava apenas para nós os dois.
O jantar na esplanada, à beira-mar, foi feito de olhares e sorrisos.
Quando lhe ofereci o anel e lhe perguntei se queria casar comigo, as lágrimas tornaram mais brilhantes os olhos que por magia me abraçaram e me responderam.
Ficamos noivos.
Eram duas horas, da madrugada, quando a deixei à porta de casa. Deu-me um beijo fugidio e disse:
-Eu não te mereço.
Tapou o rosto e desapareceu no escuro da noite.
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Foram uns pescadores que encontraram o corpo junto à vereda que leva ao rio. Grotesca, descomposta e com o rosto desfigurado, irreconhecível. Foi violada, barbaramente agredida e por fim estrangulada de forma violenta.
Ninguém viu ou ouviu nada, apenas restava eu.
Fui acusado, detido, julgado e condenado por um crime que alguém cometeu.
Matilde, a doce Maltide, esteve sempre certa da minha inocência moveu céu e terra na procura da verdade e passados três anos estou de volta, libertado mas com o estigma da dúvida e sem provas da minha inocência.
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As pessoas da terra nunca mostraram qualquer dúvida, sempre acreditaram que eu seria incapaz de crime tão hediondo mas parecia-me que aquela fluidez de palavras de antigamente era diferente, encurtavam o diálogo como se estivessem apressadas, assim me parecia.
Antes procuravam-me, contavam os factos das suas vidas, pediam opinião, falavam do Sol e da chuva, comentavam as colheitas, diziam da vida e contavam da morte. Agora era o sorriso e o bom-dia, ou boa-tarde, senhor doutor.
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Foram três anos feitos de esperas, dúvidas e rancor.
Os dias eram maus e as noites plenas agonias, sonhos perturbados pela última imagem da Vera, estática na disforme mascara da morte.
O meu pensamento procurava o porque e quem?
Quando fechava os olhos parecia ver a alegria de Vera contemplando o anel brilhando, no seu delicado dedo, mas a policia não quis acreditar no pedido de casamento e na oferta do anel. Diziam, eles, que não havia nada e que o pedido era uma encenação que eu arranjara para os tentar iludir.
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Estamos no Verão, as tardes passam dolentes.  
Remodelei o meu consultório, reactivei todas as convenções e mandei colocar alguns autocolantes a informar que iria reabrir no próximo dia 1 de Setembro.
Passei os dias olhando para o computador e a folhear o Simposium, na esperança de voltar a ver novamente a sala de espera cheia de pacientes a aguardar uma consulta, mas os meus antigos doentes não regressaram, não voltaram a acreditar, o que aumentava o meu desgosto e frustração.
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No segundo mês as coisas começaram a sorrir, alguns começaram a surgir nas consultas.
O professor Matias, a Dona Zulmira viúva do Camilo Farmacêutico, a Esmeraldinha, o Zé da Moca presidente da Junta, o Chico da Aparecida e até, o meu amigo, o Padre Querubim.
Não era propriamente o ganho que me fazia falta, felizmente não precisava, mas motivação de ver que as pessoas voltavam a confiar em mim, no médico que sempre os serviu e continuava a estudar para poder prestar melhor serviço ao cuidar da saúde de todos.
A pouco e pouco a animação voltou ao consultório e, a Zefa, retomou o seu lugar de minha assistente no consultório.
Voltei a sorrir.
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Era uma quinta-feira quando me apareceu na consulta a Isabelinha, filha do Zé Inácio, aperaltada como se fosse para um casamento.
Quando me estendeu a mão direita fiquei petrificado, num dos dedos brilhava o anel que eu tinha oferecido à Vera.
Gelei, fiquei estarrecido, não tinha dúvida porque tinham-me garantido, na compra, que era exemplar único.
A custo fui recuperando e tentei disfarçar:
-Então Isabelinha, quais são as tuas queixas?
-Sabes, disse ela, eu nunca me preocupei do que diziam de ti, sempre soube que eras inocente,mas só hoje arranjei coragem para vir, preciso de falar com o amigo e também preciso do médico.
Contou-me dos problemas já antigos, dos pruridos nos cotovelos, na descamação das unhas e do mau estar que sentia.
Observei as unhas, mais interessado em ver o anel do que no resto, e arrisquei um diagnóstico que pensei estar certo:
-Penso, Isabelinha, que tens Psoríase.
Olhou-me com os olhos marejados de lágrimas, a custo conteve o choro, estendeu a mão e agarrou-me o braço.
-Sabes, Rogério, o que tenho parece grave, mas não é o que mais me preocupa neste momento. Sei que me vais tratar e que vou ficar boa, tenho confiança no teu saber.
-Vou sim tratar de ti mas, não te quero enganar, a tua doença ainda não tem cura, vamos controlar e arranjar maneira de te manteres confortável. Mas, desculpa a pergunta, donde te veio esse anel?
-Pois era ai que eu queria chegar, reparei na tua mudança quando o vistes no meu dedo. Não é meu, é teu, vinha para to devolver.
Ia dizer qualquer coisa mas ela não deixou:
-Como sabes a Vera era a minha melhor amiga, éramos confidentes, como irmãs. Quando aconteceu aquilo, deu-me este anel e pediu-me para to entregar. Disse-me que não teve força para não o aceitar, porque tu não merecias, porque eras o melhor homem que se podia desejar, ela quis mas não teve coragem.
Aqui tens o anel, é teu.
-Mas Isabel, como é possível a Vera está morta. Tu sabes!
-Não Rogério, a Vera abalou para o estrangeiro, não sei para onde, foi ter com alguém que conheceu na Internet.  
Não foi capaz de te decepcionar, pediu-me para te devolver o anel e só hoje encontrei coragem para o fazer, Espero que me saibas perdoar.
Mas, perguntei.
-E o cadáver?
-Não é de ninguém conhecido, foi apenas uma boa coincidência!








segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A trovoada




A casa estava escura, a trovoada foi tão intensa que a luz desapareceu como por encanto, e a escuridão encheu de sombras e barulhos a velha mansão.

Não me sentia cómodo com os ruídos e tonalidades que iluminavam o espaço que uma bruxuleante vela não conseguia clarear.

Podia ser o estalar da madeira seca, ou o ranger dos meus dentes a provocar esta sensação de que alguém estava a acompanhar-me nesta noite tormentosa.

O medo, que sempre sentia pelo desconhecido, tinha-me arrepiado a pele e deixava-me um desconforto e uns calafrios que não sabia explicar e, hoje, as coisas estavam a piorar.

Os ruídos faziam lembrar passos carregando pesadas vestes que deixavam como que um arrastar algo lúgubre e misterioso, um arrepio de frio que me tolhia o corpo e o deixava com um sentimento de entorpecimento.

O vento uivava nas janelas e o medo ia-se apoderando de mim.
Era uma sensação estranha tal como eu as tentava criar nos meus livros, mas agora muito mais real e assustadora, pois nos meus escritos eu tentava descrever situações que ouvira, na minha mocidade, aos serões na casa dos meus avós.

Nessa altura ouvia fascinado e ansiava por mais, mas depois ia para a cama olhando para todos os cantos, e tremendo quando qualquer sombra parecia agitar o medo que me mantinha num arrepio constante.

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Esta casa era dos meus avós, depois foi dos meus pais e agora é o meu futuro refúgio.

Estava desabitada há alguns anos, desde que eles faleceram, e só presentemente agarrei a coragem necessária para tomar conta, recupera-la e tornar a velha casa um local para viver.

Desde que enveredei pela literatura e a tornei como minha actividade principal que penso num local sossegado, longe do bulício e da confusão da cidade e a velha vivenda de Stº. Aleixo é o ideal.

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Lá fora a trovoada continuava impiedosa e o ribombar dos trovões era constante e muito estranho em, Agosto, mas a natureza anda trocada.

Acabei por adormecer no sofá num sono estranho e desconfortável, num desassossego que não conseguia explicar, num acordar constante com uns cânticos que pareciam ser entoados dentro da casa, mas sempre que acordava o silêncio tomava conta de tudo e eu ficava com uma estranha sensação e convicto de que não passava de fruto da minha imaginação.

Acordei quando o Sol invadiu a minha sala.

Que lindo dia a proceder uma noite de tão más recordações.

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Fui tomar o pequeno-almoço ao café do Armindo que me recebeu com um olá menino, como nos velhos tempos da minha mocidade.

-Olá Armindo, arranja aí um pequeno-almoço reforçado porque esta noite me deixou com uma fome de cão.

-Oh menino, quem foi a magana que o conseguiu por nessa fraqueza?

-Antes fosse isso, mas foi a trovoada que me estragou a noite.

-Trovoada, perguntou Armindo, pensei que o menino tinha ficado cá na aldeia!

-E fiquei, não me digas que tens um sono tão pesado que nem ouviste os trovões?


-Já sei! O menino bebeu uns canecos, não está habituado, e sentiu uma trovoada dentro da sua cabeça. Falta de hábito, tem que treinar mais. Aqui nesta secura nem chuva, nem trovoadas há mais de um ano.
Coma porque isso também pode ser da fome.

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Era estranho, não tinha havido trovoada! Mas então todo o resto tinha sido minha imaginação. De facto nunca bebo e ontem emborquei dois largos whiskies e, possivelmente, isso fez-me sonhar com um trovoada tão real e todo o resto que me atormentou. Não voltarei a beber, é mais seguro.

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Terminado o pequeno-almoço meti o jeep ao caminho, ia à cidade trazer as coisas que mais precisava e, muito especialmente, a Licas a minha companheira de há quatro anos.

Foi ao cair da noite de um chuvoso dia de Fevereiro que a encontrei, esgalgada e com aspecto de não comer já há algum tempo. A medo estendi a mão, pois o seu tamanho não dava azo a muita confiança, e recebi em troca uma lambidela imensa e um olhar de ternura que me deixou totalmente apaixonado.

Seguiu-me e quando abri a porta do carro foi a primeira a entrar e a aconchegar-se no banco da retaguarda, com uns olhos tão termos e tão suplicantes que apenas me restou dizer:

-Bem vinda Licas a partir de agora fazes parte da família!

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Voltei ao fim do dia com o carro cheio de tralhas que faziam parte das minhas necessidades diárias e, enroscada no banco traseiro, Licas que olhava atentamente para tudo o que passava sem mostrar qualquer ansiedade.

Quando entrou na nova casa cheirou todos os cantos e parecia que algo a incomodava, pois ficava tensa e com os pelos eriçados como se pressentisse algo que a perturbasse, arfava e olhava-me à espera de algum sinal da minha parte.

Era estranho, nunca a tinha visto assim mas, pensei eu, deve ter detectado o odor de algum cão que por aqui passou ou, até, de qualquer roedor que possa existir na casa, o que irei verificar cuidadosamente pois detesto ratos.

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O dia passou rápido com tantas coisas para fazer, inventariar as necessidades e tentar arrumar as tralhas que fui buscar a Lisboa.

Estava cansado e não tinha vontade de fazer qualquer coisa para jantar, a Licas continuava deitada junto à janela com ar muito infeliz, parece que não gostou da mudança.

Agora que o sol baixou, a temperatura é mais suportável, e já nos podemos afoitar a sair de casa, vou dar um passeio com a Licas e de volta passo pelo café do Armindo para jantar na esplanada.

Comi um belíssimo gaspacho a acompanhar um peixe frito, enquanto a cadela deitada aos meus pés continuava a mostrar algum desassossego.

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A noite estava linda, nem a mais pequena brisa para amenizar o calor que se fazia sentir, o céu estava maravilhoso com uma profusão de estrelas a brilhar intensamente.

No caminho de volta, a cadela seguia-me de cauda caída, o calor tornava penosa esta pequena caminhada.

A casa destacava-se entre as outras, talvez por ser a única de dois pisos e varandas largas no meio de casas térreas e com pequenas janelas de paredes grossas.

Abri a porta e fiquei à espera que a Licas entrasse mas, estranhamente, ficou a aguardar que eu o fizesse e só depois me seguiu.

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Ainda não tinha televisão, seria uma das primeiras compras, liguei o portátil ia rever algumas páginas de uma crónica que andava a alinhavar.

De repente e sem que nada o fizesse prever estourou, novamente, uma trovoada com um relampejar que me deixou apavorado.

A cadela acompanhava o ribombar do trovão com um uivo lancinante e em vez de se esconder, como normalmente fazia, olhava desesperadamente para a porta na esperança de a ver aberta.

As luzes começaram naquela dança habitual nas trovoadas, num acender e apagar constante, até que desapareceram por completo.

Foi então que surgiu algo, que ainda agora tenho dificuldade em descrever, era como que um funeral de figuras translúcidas, que se moviam em levitação, velas bruxuleantes transportadas por braços que pareciam chamiços saídos de túnicas negras enquanto um cântico lúgubre, fantasmagórico, soturno, como que um gemer alucinante, entrava em nós como uma injecção de iodo, acompanhava o macabro desta arrepiante cerimónia.

Fiquei petrificado, o medo tolheu-me o corpo, sentia os pelos dos braços anestesiados por um frio que os invadia e os deixava sem qualquer reacção.

Entretanto a, tenebrosa, visão continuava com todas aquelas figuras macabras a transportar um caixão formado por um entrançado de luzes de um vermelho de fogo intenso.

De repente, quase como que um relâmpago, a Licas ergueu o corpo em arco, pelos eriçados, rosnar estranho e investiu, qual touro, sobre a estranha visão que se esfumou em espirais de fumo incandescente.

A sala transformou-se, como por encanto, em novelos de fumos negros que lançavam gritos cruciantes, bofetadas estalavam-me no rosto enquanto braços descarnados e esquálidos tentavam puxar-me para o crepitar das labaredas que em gritos demoníacos se apoderaram do espaço.  
Peguei na minha valente cadela e fugi para o refúgio da rua.
A noite continuava, quente e com um céu estrelado como há muito não via.

Entramos no jeep e, sem olhar para trás, tomamos o caminho de Lisboa.

Amanhã vou colocar um anúncio no jornal: 


Vende-se casa bonita a pessoa corajosa.
Bom preço


domingo, 11 de setembro de 2011

O Candidato..







Quando subiu o palanque vinha com a testa perlada pelo suor que os nervos produziam.

A sala estava cheia e um publico muito atento que, olhava impaciente o candidato, que no palco tentava desajeitadamente por em ordem o monte de papéis onde anotara, meticulosamente, a sua prédica.

Limpou, cuidadosamente, a testa e o luzidio crânio do suor que teimosamente continuava a denunciar o seu desconforto.

Já estava arrependido, pois quando tomou a resolução de se candidatar, não pensou na fobia que sempre sentia quando enfrentava uma plateia.

Já em pequeno a professora, numa festa de Natal, o tinha posto a fazer de burro no presépio, mas a vergonha que sentiu quando viu tantas pessoas na sala, estragaram de tal forma a encenação que até o menino Jesus teve que esconder a cara nas palhinhas para suster o riso.

Agora era diferente, tinha crescido e pensava que a idade o tinha preparado para enfrentar todas estas situações, mas parecia que não.

O público apercebendo-se da pouca à-vontade do professor, saudou-o com uma calorosa salva de palmas na expectativa de o motivar, mas o resultado foi um desastre.

O professor deixou cair os óculos e na tentativa de os arragar, espalhou os papéis do discurso ensaiado.

Os espectadores perderam a compostura e desataram à gargalhado e, diga-se, com alguma razão pois o pobre do professor estava ridículo, de rabo para o ar tentando com uma mão, desesperadamente, encontrar os óculos enquanto com a outra arrebanhava, desajeitadamente, as folhas que lhe haviam fugido.

O pagode ria a bom rir, enquanto o pobre homem, enfiava a cara debaixo da peanha na tentativa de se esconder.

A situação estava caricata e, o que se pensava ser a apresentação de uma candidatura à presidência da ADQNF, tornou-se numa estranha situação de humor.

Foi preciso a Doutora Celeste Malaposta entoar a sala com um grito:

-Silencio por favor, deixem o professor acalmar!

O professor levantou-se, gravata desalinhada, as duas únicas melenas que restavam na polida careca estavam caídas ao longo da cara, pareciam as orelhas de um cocker.

Tentou ajeitar os óculos mas as coisas não lhe corriam bem, pois as hastes torcidas não acertavam com as coradas orelhas.

O líquido que lhe escorria da testa fazia-lhe arder os olhos, que o deixava com um ar perdido, tentando com os pulsos
atenuar o desconforto.

Não se sentia bem, tinha a sensação de ter urinado as calças, os nervos eram superiores à vontade.

Tentou ordenar os papéis, tarefa difícil, os óculos embaciados e o suor que ardia e atormentavam os pobres olhos dificultava a tarefa.

Apetecia-lhe desistir, deixar a sala, fugir para o sossego da sua casa, mas não podia desiludir os seus apoiantes.

Encheu o peito de ar num respirar ofegante, perfilou-se com um ar seráfico, olhou atentamente, abriu a boca e deixou sair um:

-Sou o vosso can..diii..daaa....rrooouuu.

Caiu de bruços, emaranhou-se numa imensidão de fios, deslizou docemente e caiu com estrondo agarrado ao microfone.

Disse,o médico, que quando chegou ao chão já estava morto.