Foi um caso de amor á primeira vista ou talvez, mais propriamente, ao primeiro olhar.
Vou contar, muitos não vão acreditar mas é a pura verdade. Juro!
Armindo entrou no café, olhou em redor como era seu costume e ficou, simplesmente, fascinado com a beleza da mulher sentada numa mesa ao canto da sala. Dizer que era linda seria um lugar-comum, pois havia algo que a tornava especial.
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Os cabelos, em suaves caracóis, emolduravam um rosto angelical onde a delicadeza das formas e a luminescência que irradiava, o tornava diferente de todas que já tinha visto.
Olhou-a com intensidade e esperou um gesto, um olhar, um sorriso mas apenas o encanto para o inebriar.
Bebeu o café sem tirar os olhos daquela angelical criatura, que Deus lhe colocou no caminho.
Ela continuava impávida passeando o olhar por tudo e por todos, quase como flutuando como uma brisa que nos afaga.
Armindo estava como que aparvalhado, absorto, num fascínio que o deixava preso na figura que parecia desafiar os sentimentos.
Quis prender-lhe o olhar mas, ela vagueava num alheamento que o perturbava e lhe fazia ciúmes, parecia olhar para tudo e para todos sem nunca, de verdade, olhar para ele de forma fixa.
Estava ali há meia hora e, ela, continuava só, bebendo em goles pequenos e suaves um copo de coca-cola.
Podia esperar alguém, mas não parecia, não mostrava a ansiedade de quem espera, estava calma e serena.
Armindo reuniu toda a coragem, levantou-se, dirigiu-se à mesa e perguntou:
-Posso fazer-lhe companhia?
Não pareceu surpreendida, fitou-o antes de convidar:
-Faz favor, há uma cadeira vaga, não há?
Olhou-a bem no rosto, de perto, a beleza era mais resplandecente. Pele de veludo, olhos de um verde tão transparente que pareciam gotas de orvalho no brilho da manhã.
-Senhor, começou ela, será que todas as mesas estão ocupadas, ou sucederá que nos conhecemos e eu não me lembro?
-Não, gaguejou ele, foi para meter conversa e, confesso, porque estava doido para a conhecer!
O sorriso, era uma pura loucura, quase luminoso.
-Pronto senhor já me conheceu, espero não o ter decepcionado.
-Mas, arriscou Armindo, podíamos, talvez, sair e conversar.
-Sabe, disse ela, mas já me conhece, já estamos a falar, não acha suficiente?
Armindo ficou desarmado, não estava preparado para esta resposta mas arriscou:
-Percebe que este conhecimento, se me permite, é como um amor à primeira vista, é uma atracção que não sei explicar, olhei para si e achei que era especial, houve como que uma campainha que disparou dentro de mim, não sei expor. Gostava de a conhecer melhor, queria que me visse mais vezes pois, quem sabe, não me começaria a ver com outros olhos.
Ela nem pestanejou, aqueles olhos verdes pareciam duas esmeraldas, e quase num sussurro murmurou:
-Sabe senhor, nunca o irei ver com outros olhos, só tenho estes e, para meu mal, são cegos.
Abriu a mala, tirou uma bengala extensível e calmamente saiu para o sol que brilhava lá fora.