domingo, 19 de fevereiro de 2012

À primeira vista.....




Foi um caso de amor á primeira vista ou talvez, mais propriamente, ao primeiro olhar.

Vou contar, muitos não vão acreditar mas é a pura verdade. Juro!

Armindo entrou no café, olhou em redor como era seu costume e ficou, simplesmente, fascinado com a beleza da mulher sentada numa mesa ao canto da sala. Dizer que era linda seria um lugar-comum, pois havia algo que a tornava especial.
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Os cabelos, em suaves caracóis, emolduravam um rosto angelical onde a delicadeza das formas e a luminescência que irradiava, o tornava diferente de todas que já tinha visto.

Olhou-a com intensidade e esperou um gesto, um olhar, um sorriso mas apenas o encanto para o inebriar.

Bebeu o café sem tirar os olhos daquela angelical criatura, que Deus lhe colocou no caminho.

Ela continuava impávida passeando o olhar por tudo e por todos, quase como flutuando como uma brisa que nos afaga.

Armindo estava como que aparvalhado, absorto, num fascínio que o deixava preso na figura que parecia desafiar os sentimentos.

Quis prender-lhe o olhar mas, ela vagueava num alheamento que o perturbava e lhe fazia ciúmes, parecia olhar para tudo e para todos sem nunca, de verdade, olhar para ele de forma fixa.

Estava ali há meia hora e, ela, continuava só, bebendo em goles pequenos e suaves um copo de coca-cola.

Podia esperar alguém, mas não parecia, não mostrava a ansiedade de quem espera, estava calma e serena.

Armindo reuniu toda a coragem, levantou-se, dirigiu-se à mesa e perguntou:

-Posso fazer-lhe companhia?

Não pareceu surpreendida, fitou-o antes de convidar:

-Faz favor, há uma cadeira vaga, não há?

Olhou-a bem no rosto, de perto, a beleza era mais resplandecente. Pele de veludo, olhos de um verde tão transparente que pareciam gotas de orvalho no brilho da manhã.

-Senhor, começou ela, será que todas as mesas estão ocupadas, ou sucederá que nos conhecemos e eu não me lembro?

-Não, gaguejou ele, foi para meter conversa e, confesso, porque estava doido para a conhecer!

O sorriso, era uma pura loucura, quase luminoso.

-Pronto senhor já me conheceu, espero não o ter decepcionado.

-Mas, arriscou Armindo, podíamos, talvez, sair e conversar.

-Sabe, disse ela, mas já me conhece, já estamos a falar, não acha suficiente?

Armindo ficou desarmado, não estava preparado para esta resposta mas arriscou:

-Percebe que este conhecimento, se me permite, é como um amor à primeira vista, é uma atracção que não sei explicar, olhei para si e achei que era especial, houve como que uma campainha que disparou dentro de mim, não sei expor. Gostava de a conhecer melhor, queria que me visse mais vezes pois, quem sabe, não me começaria a ver com outros olhos.

Ela nem pestanejou, aqueles olhos verdes pareciam duas esmeraldas, e quase num sussurro murmurou:

-Sabe senhor, nunca o irei ver com outros olhos, só tenho estes e, para meu mal, são cegos.

Abriu a mala, tirou uma bengala extensível e calmamente saiu para o sol que brilhava lá fora.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O dia em nasci







Não sei quem sou, ando perdido...

Num caminho que nunca escolhi...

Por mais que procure não me encontro...

Pela vida, decerto, fui esquecido...

Destroços, pedaços do que não fui...

Tristezas do que queria e nunca vi...

Amarguras que o tempo não apaga,,,

Tristezas pelo que tive e já não tenho,,,

Saudades dum abraço que partiu...

Das palavras lindas que já não escuto,,,

Dos sorrisos que iluminavam este negrume,,,

Procuro em vão, mas nada existe...

Só esta agonia que me embala...

Que alimenta a tristeza que devora...

No futuro que já tive, mas não tenho...

Quero adormecer de mansinho...

Num sono calmo que conforta...

Acordar num dia que há-de vir...

Morrer todo este meu passado...

Voltar outra vez ao dia em nasci.




domingo, 5 de fevereiro de 2012

Tempos modernos



Não sabia o nome mas o seu coração já lhe pertencia.

Por diversas vezes tinha tentado fazer-se notado mas, ela, parecia indiferente ou fingia.

Não ia desistir, nunca o fizera e não iria ser agora, pois tinha a noção de que se estava a fazer difícil, e para ele, mulheres difíceis era um desafia que adorava e a que esta acostumado.

Hoje estava, ainda, mais radiosa, brilhava de sensualidade, pernas longas a que uma reduzida saia davam um encanto muito especial, o decote cortado de forma certa e propositada deixava ver o suficiente para fazer adivinhar o que estava escondido.

*****

Eduardo pensou que seria hoje ou nunca, não delineou nenhuma estratégia, não tinha nenhum plano mas tinha confiança no seu sex-appeal.

*****l

Francisca, assim que pisou a calçada apercebeu-se daquele ar embasbacado do homem, mas ia ficar indiferente e fingir que não percebia pois já estava habituada aos olhares gulosos de conquistadores baratos.

Tinha, quase, asco do andar gingão e do olhar laivoso daquele sujeito que só pelo facto de ser vizinho e doutorzinho, que vivendo à custa os papás, se sentia dono da rua, do bairro e se calhar do mundo.

Estugou o passo e fingiu não perceber o convite para um café e, muito menos, para um cinema.

Olhou de atravessado antes de dizes    :

-Não se importa de me desemparar a loja?

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Eduardo estava a ficar um pouco frustrado, a tipa era mais difícil do que pensava, mas estava desconfiado que era estratégia para se fazer mais desejada, as mulheres tem dessas coisas, sabem muito.

Pelo andar ia para a pastelaria, pelo menos levava esse jeito e aí, era um bom local para uma abordagem mais directa.

Não estava enganado, o borracho ia mesmo beber café.

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Apressou o passo, queria entrar antes, para que ela ao chegar o tivesse que encarar de frente.

Ela chegou majestosa, irradiando beleza, encaminhou-se para uma mesa onde outra mulher parecia espera-la.

Beijaram-se ternamente nos lábios, entrelaçaram as mãos e, enlevadas, saíram para o sol que brilhava esplendoroso.

Eduardo fez beicinho, colocou os cotovelos no balcão e pediu uma bica.

 Modernices!