quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Quase perfeita...






Estava sentada num banco junto à muralha, pernas delicadamente cruzadas.

Era uma posse estudada, pois o brilhante bronzeado, descaindo de uma curta saia e terminando numas sandálias vermelhas, era motivo para muitos olhares.

O rosto, parecia, perfeito pois uns enormes óculos de sol escondiam a maior parte, mas deixavam ver uns lábios carnudos onde, um leve carmim, contrastava com uma blusa branca atada de forma, quase, displicente deixando perceber dois hemisférios, tão bronzeados como as pernas.

Estava serena, contemplando o mar, como se mais nada existisse em seu redor.

Elias estava vidrado, a visão daquela deusa era superior a tudo o que alguma vez tinha imaginado.

Era linda, de uma beleza calma e tranquila.

Os homens passavam num embasbacamento, misto de admiração e desejo, as mulheres não deixavam perceber mas transpiravam uma inveja difícil de disfarçar.

Aproximou-se quase como se flutuasse e, consegue jurar, que apenas queria ver mais de perto a obra perfeita do criador. Muito timidamente perguntou:

-Posse sentar-me, aqui, no banco?

Sem mudar um milímetro, nem o rosto mexeu, respondeu:

-Caro senhor, o banco é público e desde que tenha lugares, pode estar à sua vontade!

Elias ficou sem jeito, queria replicar mas a frase ficou como que enrolada na garganta. Olhou ao longe tentando esconder um certo constrangimento, mirou o mar que, calmamente, se desfazia em espuma contra as rochas. Ganhou coragem para retorquir:

-Peço perdão, quis apenas ser delicado, não tome as minhas palavras como uma tentativa de nada, só quis partilhar o gosto por observar o mar.

A moça, sem alterar a posição sorriu:

-Mas não tomei a mal a sua pergunta, achei natural, mas eu não observo o mar, apenas o escuto, sinto o seu cheiro e aqueles sons que apenas, ele, nos sabe transmitir.

Hoje já tenho a minha parte, não tarda vai arrefecer!Boa tarde cavalheiro!

Ergueu um braço num gesto de quem chama alguém.
Um senhor, que pareceu surgir do nada, deu-lhe a mão e encaminharam-se para um descapotável prateado.

Elias nem teve tempo de responder, foi tudo tão rápido. Uma meia despedida, um gesto e um homem que aparece como se sempre ali tivesse estado.

Não devia ser marido, não tinha aliança e era demasiado velho e demasiado formal.

Seria motorista? Era isso, ainda há pessoas que têm, também, dessas coisas. 

******

Elias ficou naquele desespero, que é um misto de impotência e de aselhice, primeiro porque não sabia o que fazer e depois, porque não soube reagir e tentar saber algo mais, sobre a moça que o perturbara daquela maneira.

Ficou em trivialidades como um pateta, falar sobre o mar! Sim como se fosse o mais importante! Nem lhe perguntou o nome.

O mar continuava ali, onde sempre esteve, mas ela foi, quase, numa áurea de mistério.
Era mesmo burro!

Agora só lhe restava a esperança de que um dia voltasse.

Sempre, desde que adivinhasse um raio de sol, ia passear à beira mar e sentar-se naquele banco, talvez Deus o brindasse, novamente, com aquela celestial aparição.

Todos os fins-de-semana, Elias, vestia a sua melhor roupa, salpicava o corpo de Davidoff, o seu predilecto. Uns Ray-Ban, espelhados, davam-lhe aquele ar que, pensava ele, o deixava irresistível.

Andava no cais num passo miúdo, olhando todos os cantos onde o sol pudesse aquecer os corpos, onde um banco servisse de recanto a quem, com cabelos cor de fogo, olhasse o mar como se nada mais valesse a pena.
De soslaio adivinhava um descapotável que, também, primava pela ausência.

Foram semanas seguidas de desespero. De vez em quando, talvez pela necessidade de não desistir, parecia-lhe ver a mulher mistério mas, quando se aproximava caia na realidade, não era ela.

A frustração começava a fazer parte do seu dia-a-dia, não só por não voltar a encontrar a deusa mas, sobretudo, pela burrice de não ter perguntado algo mais.
Nem sequer o nome!

Para a semana, pensou, ia alargar a procura, todos os dias percorreria o espaço, pois, a meteorologia anunciava sol, o que aumentava a expectativa.

Segunda-feira ia recomeçar a viver a esperança, que aos poucos se ia diluindo, pois a semana estava a terminar e nada que lhe desse animo.

Foi no sábado, um grupo de crianças brincavam numa alegre algazarra e, no mesmo banco, quase na mesma posição, estava a sua diva.

Os mesmos óculos de sol, os lábios com o mesmo brilho de sensualidade.

Uma t-shirt branca, com uns desenhos bizarros, da cor dos curtos calções rosa, davam maior realce ao brilhante bronzeado das elegantes pernas.

Estava tão concentrada no leve e suave bater das ondas que, imaginou, nem deu pela sua chegada.

Ficou quieto, a embriagar o seu espírito no quadro, que estava perante os seus olhos. Meu Deus era uma visão quase divina!

Ia abrir a boca para a desnecessária pergunta, mas ela antecipou-se:

-Não vai pedir permissão para ocupar um lugar vago e que não me pertence?

Sentou-se e esperou que o fitasse mas não, continuava observando as águas como se nada, mais, existisse.

Ganhou coragem para desabafar:

-Porque me castigou? Ando, há três semanas, na esperança de a voltar a ver e só hoje a sorte me bafejou.

Voltou a cara na sua direcção, era linda embora os óculos não deixassem ver-lhe os olhos, sorriu num sorriso que ofuscou, por momentos, o brilho do sol, antes de responder:

-Posso ver melhor o seu rosto?

Ficou vaidoso, fez o melhor sorriso, que não lhe deve ter saído muito bem, abanou a cabeça e foi dizendo:

-É isto que está à vista mas pode ver à sua vontade!

Ergueu umas mãos delicadas, dedos longos, unhas cuidadosamente tratadas. Com suavidade percorreu-lhe o rosto, os dedos deslizaram suavemente na depressão das suas órbitas, deslizaram pela testa e, com vagar, desceram às maçãs do rosto e quedaram-se num leve deslizar no contorno dos seus lábios.

Recolheu as mãos, voltou a olhar o mar e ergueu o braço, naquele gesto que já conhecia.

O senhor apareceu e estendeu-lhe a mão. Levantou-se, olhou-o de frente, sorriu e deixou numa despedida:

-É muito bonito! Foi o que os meus sentidos me disseram, já que os meus olhos, são os deste senhor que me acompanha.

Dirigiram-se para o carro, não era o mesmo, mas tal como o outro, desapareceu suavemente na avenida marginal.

Burro! Gritou. Nem sequer lhe perguntei o nome!




 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Senhor Tobias









A situação estava difícil, as convulsões sociais eram a causa de muito do que acontecia e de tudo o que estava para vir.

Dona Brites não conseguia compreender as razões, porque o pobre do marido, Tobias da Silva, estava condicionada nos pensamentos políticos que o norteavam. Era um homem de convicções, quase um sonhador, pois tinha na sua imaginação, que um dia os homens podiam expressar livremente as suas ideias e ideais, sem medo da polícia política. que parecia nascer em cada esquina das ruas da cidade.

Hoje, ainda a manhã não tinha rompido e já tinham levado o pobre homem e alguns livros da sua estante, a caminho da Rua António Maria Cardoso, onde ia ser sujeito a tortura e humilhações para denunciar pessoas, que ele próprio não conhecia, mas para a Pide, quem tinha ideias mais progressistas fazia, decerto, parte de alguma organização tenebrosa preparada para por em causa este Estado Novo, que era tenaz a manter a mordaça em todos os que suspiravam pela democracia.

Em norma, passados oito dias, voltava a casa mais velho e muito desgastado, mas mais convicto da justeza dos seus anseios.

Naquele dia vieram ao cair do dia e o desgraçado do Tobias, mais uma vez, foi manietado e arrastado como se fosse o mais perigoso facínora.

Era um pobre homem, magro e indefeso, que aqueles algozes, meteram numa carrinha que desapareceu no escuro da noite.

Voltaram os interrogatórios violentos, sem nexo, a tortura de horas intermináveis em pé, os sonos proibidos para amolecer as vontades e quebrar a resistência dos mais tenazes.

Tobias já tinha sentido todas as torturas, sempre resistiu sem um queixume, sem um lamento e sem abrir a boca para pronunciar uma palavra.
Mas hoje eram de mais, as tremuras e o mau estar sobrepunham-se ao cansaço.

A idade e a forma como lhe iam moendo o corpo, para lhe chegarem ao pensamento, estavam a tirar-lhe a noção do local, a quebrar a pouca força física que ainda lhe restava.
Queria morrer, desejava que o deixassem dormir!

Fechou os olhos, perdeu o conhecimento e desfaleceu pendurada nas correias com o que mantinham amarrado.

Já não ouviu, alguém, gritar:

-Levem esse gajo, já deu o que tinha a dar!

Não percebeu nem sentiu mas, parece que tinha conseguido a liberdade sonhada.

*****

Desta vez dona Brites estranhou tão grande ausência.
Arrastou as dores que faziam parte do seu dia-a-dia e foi saber notícias do seu homem.

Dias e dias e sempre a mesma resposta, nunca tinham ouvido falar nesse senhor Tobias Moreira da Silva, naqueles serviços nunca entrou.
Devem estar a fazer confusão!

                                                                 
Dona Brites insistiu e foi ameaçada.
Tinham muito que fazer e não podiam estar a aturar os devaneios de uma mulher que perdeu o marido.
Se voltasse ia arrepender-se!

Ela consultou um advogado, pagou 10 contos de réis, para nada pois quando voltou a saber noticias o advogado aconselhou:

-Não se meta com essa gente! Não vale a pena. O seu marido já não deve estar vivo e o corpo nunca vai aparecer!

*****

A existência sem o seu Elias era diferente, não era vida. Quando estavam juntos e, foram 18 anos, sentia que estava completa, o marido preenchia a sua vida, pelo amor, pelo carinho e pela forma boa e plena, como completava todos os instantes da sua existência.

A política era a única discordância no seu quotidiano, ela não concordava com essa ideia do marido, querer mudar o que era imutável, o regime já existia há três décadas e estava firme e controlava tudo e todos, como podia um homem fraco e indefeso, como o seu Elias, mudar o que os fortes e poderosos não conseguiam?

Agora estava só, vivia das recordações, das memórias e de uma dor de nunca ter feito o luto de um marido, que sabia morto mas queria pensar que ainda podia estar vivo.

  ****

Quando o telefone tocou, tão cedo, arrastou as dores que lhe tolhiam o corpo, e atendeu.

-Olha Brites houve uma revolução e o regime caiu! Gritou o cunhado do outro lado da linha.

-Oh Jorge e isso é bom ou mau? Perguntou na sua ingenuidade.

-Todos esperam que seja o princípio da liberdade porque o Elias tanto lutou e, também, tenho a esperança que agora consigamos saber o que lhe aconteceu. Vamos fazer o nosso luto e o funeral que anda dentro de nós!

******

Estávamos no final de Abril de 1974, numa bonita tarde de primavera, quando uma pancada na porta despertou dona Brites, do cochilar a seguir ao almoço.
Como o ouvido já lhe ia pregando partidas, aproximou-se e espreitou pelo ralo da porta.
Estava alguém no outro lado.

Abriu uma fresta protegida pela corrente segurança.
Devia ser um mendigo, era habitual aparecerem.
Coitados que havia de fazer?

-Espere um pouco, disse com voz triste, vou ver se tenho alguma coisa para o ajudar!
O homem, do lado de fora, curvado, roupa desalinhada e com uma velha boina bilbaína na cabeça, numa voz cansada gritou:

-Abre a porta amor! Tenho saudades tuas e da nossa casa.
 Abre!

Estou há muito tempo preso!

Suspirou.

 



quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Doce vingança.....



O (Tem uma bolinha)



Quando ela lhe apareceu, naquela “lingerie” vaporosa, sentiu um fogo a percorrer-lhe o corpo.
As pernas altas, enfiadas numas meias de ligas e o corpo nu, apenas envolto num trapo vermelho, totalmente transparente, eram um doce pecado.

Sentiu o sangue subir à cabeça e algo se alterou no seu corpo.

Atirou a mulher para cima da cama, desenvencilhou-a daquele empecilho e deixou as mãos percorrerem aquele corpo ardente, que ia gemendo aos sentidos de uns afagos, quase de veludo, descendo devagar, deslizando na cintura, acariciando a anca e terminando numa afago nos joelhos, depois, subiu lentamente das coxas ao rabo, acarinhando suavemente a nádega. 

Ela apenas gemia numa espera desesperada, ele continuava em enlevos, deixando a língua percorrer-lhe a boca, entrar os ouvidos e descer, lascivamente, até dois bicos túmidos, num corpo ardente e impaciente em sentir o marido dentro dela.

Tomou a iniciativa e puxou-o, para lhe sentir o peso e levou a mão na procura do que mais desejava.

O marido sentiu a mensagem, largou e mulher e gemeu:

-Desculpa! Mas não sou capaz!

Depois chorou em desespero.

A mulher transpirava raiva, vermelha como a “lingerie” que estava abandonada no chão frio.

Olhou o marido, olhos brilhando de frustração e raiva, com ódio na voz gritou:

-Desgraçado, incapaz! Quarenta anos e acabado, é a segunda nega numa semana, ou estás morto, ou as putas com que andas, já te tiraram a tesão. O que tu precisas e estás a pedir, é um belo par a ornar-te a testa.

-Desaparece! Deixa-me em paz! Ou sais tu da cama ou vou eu!

O homem desapareceu. A mulher completou-se em contorções e adormeceu profundamente.

****

Raimundo fugiu para a sala, enroscou o corpo nu no sofá e chorou, chorou convulsivamente, até que o desespero e o ódio se acalmaram no seu corpo.

Era a segunda vez, nunca tinha acontecido, na primeira foi a uma consulta de andrologia, o doutor Fagundes fez-lhe testes, descansou-o, era uma situação de stress, de ansiedade, cansaço, excesso de trabalho.

Devia acalmar e, com a ajuda da companheira, tudo ia voltar ao normal.

Aquela frase, ajuda da mulher, gritava-lhe aos ouvidos
... ajuda da companheira,
                            …ajuda da companheira,
                                            … ajuda da companheira,
não valia a pena, a mulher não sabia o que era ajudar. Egoísta, esperava tudo e não dava nada!
Começou a odiar quem, até agora, foi o amor da sua vida.

Vestiu um fato de treino, fez a barba, massajou o rosto, verteu uma boa porção, de Carolina Herrera 212, nas mãos, esfregou no pescoço e alisou os cabelos.

Espreitou o quarto. O monstro dormia profundamente.

Desceu à garagem, foi buscar o escadote e atou, à trave central do tecto, uma corda, deixando-a pendurada com um nó de corrediça na ponta suspensa.
Arrumou cuidadosamente o escadote, voltou à cozinha, desfez alguns comprimidos num copo de água, engoliu com uma careta, lavou o copo, limpou e guardou-o no armário.
 Voltou à cave, com um pedaço de um pau deu alguns golpes na nuca, até notar sinais de sangue e alguns cabelos agarrados, deitou o pau para um canto, escondido, da garagem.
De seguida, agilmente e à força de braços, percorreu a trave até ao local da corda, a custo, passou a cabeça no laço e, quando enfiou o pescoço, largou as mãos. 

Apenas um pequeno gemido, um estremecer e um corpo, num leve balanço.

******

Narcisa acordou com a claridade que trespassava as persianas, olhou o lugar do marido e lembrou-se que devia estar a dormir no sofá. Era para aprender!

Foi espionar.
Não estava na sala, nem na cozinha, nem em lado nenhum. Safado! Se calhar foi dormir com alguma cabra, mas não percebia para que, o gajo já não dava nada.

Foi espreitar o carro, parecia estar na garagem. Desceu, entrou e viu um corpo balouçando, suavemente, na trave do tecto. Era o marido, roxo, língua pendurada ao canto da boca.

Subiu em pânico e ligou para o 112.

-Não mexa em nada, disseram do outro lado da linha.

Demoraram 45 minutos. Uma ambulância e um carro da polícia.

A mulher soluçava, o corpo tremia-lhe em ligeiras convulsões.

Os paramédicos olharam o corpo e abanaram a cabeça:

-Nada a fazer!

Os guardas selaram o local, montaram guarda e ficaram a aguardar, o médico-legista e a polícia judiciária.

Demoraram algum tempo.

O médico calçou umas luvas, subiu a uma cadeira e observou, minuciosamente, o corpo.

Olhou os agentes e observou:

-Já está morto há mais de oito horas, apresenta sinais de ter sido agredido. Podem mandar descer o cadáver só depois, na autópsia, posso adiantar mais alguma coisa.

Os agentes examinaram cuidadosamente todo o local, fotografaram, guardaram indícios.
Encontraram o pedaço de madeira com vestígios de sangue e com alguns, cabelos agarrados.

O agente mais velho, olhou o colega e comentou:

-Este gajo não tinha asas, não há nada que pudesse estar debaixo dos pés para se pendurar, tem ferimentos na cabeça, ou muito me engano ou foi assassinado. Vamos mandar recolher o cadáver e aguardar o resultado da autópsia. Mas tenho poucas dúvidas!


*****

Oito horas da manhã, Narcisa é acordada com fortes batidas na porta. Vai, meia estremunhada, espreitar. São dois homens que mandam abrir.

-Mas quem são os senhores? Pergunta.

-Policia Judiciaria, abra depressa! Gritou um dos homens.

Abriu-a, tentando tapar o peito com o roupão. Um dos agentes segurou-lhe um abraço e disse-lhe:

-Tem que nos acompanhar! Está detida por suspeita na morte do seu marido.

Ela ficou sem saber que responder, apenas murmurou:

-Posso ir vestir-me?

****

Foi interrogada e por mais que clamasse a sua inocência, não conseguia demover os agentes que insistiam:

-Era melhor dizer quem é o seu cúmplice neste crime, o juiz vai levar isso em conta e, sempre pode, ter uma pena mais leve.

A mulher chorava e insistia:

-Eu amava o meu marido e não lhe ia fazer mal, ele suicidou-se.

O agente respondeu com sarcasmo:

-Pois, já sabemos isso! Mas… as evidências e a autópsia dizem outra coisa. A senhora não fala, mas nós, vamos explicar. Primeiro, deu-lhe uma bebida com uns calmantes e quando ele adormeceu com a ajuda, se calhar de um amante, uma pancada na cabeça para ele não acordar. Depois, os dois, penduraram o desgraçado pelo pescoço. Não deve ter sido fácil, ainda eram 70 e tal quilos!

Tinham tudo bem estudado mas, esqueceram um pormenor, pequeno mas importante, ele para se enforcar precisava de um banco ou de um caixote. Não tinha asas!

****

Foi condenada a 18 anos, apesar de jurar a sua inocência.

E desta vez estava, mesmo, inocente!

Mas isso, só nós sabemos!









segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Dois momentos




1º.

A cara amiga Rain, do Blogue Escritos de Inverno, ofereceu-me este selo, que agradeço pelo que representa.

Fico muito feliz e orgulhoso.

Não vou seguir as regras que estavam adjacentes a esta oferta, mas tenho liberdade de usar a velha máxima, de que as regras existem para serem violadas.

Este selo é também vosso!

Está aqui para ser partilhado com todos.

2º.

A simpática amiga Leila Rodrigues, do Blogue Palavras, teve a gentileza de escrever e dedicar-me este belo momento.

Fico muito feliz e, perdoem-me, um pouco vaidoso com tanto carinho.

Obrigado Leila!

Deixo para poder compartilhar com todos.

O relógio

Até que veio me visitar o Manuel. Sim aquele meu velho amigo de Portugal, escritor dos bons, com quem gosto de tirar uns dedos de prosa.
Contou-me o Manuel que estava triste naquele dia, pois procurava respostas para algumas perguntas difíceis de responder.
Então lhe contei a história abaixo. Fato verídico meu caro amigo. Acontecido comigo mesmo, este seu amigo de muitos anos. Contar-lhe-ei apenas para que você não procure mais respostas, pois que estas chegam por si.
Certa vez, ganhei um relógio. Quando abri a caixa e vi que o presente era um relógio, fiquei alguns minutos parado, observando, sem saber o que dizer.
- O relógio é lindo! Uma peça de colecionador. Obrigado.
Explico a minha reação. Eu nunca usei um relógio na vida. Ou melhor, usei sim, dois dias quando eu estava no colégio e comecei a chegar tarde demais para o almoço. A minha mãe me deu o relógio, aquele até então único que eu havia usado. O objetivo era que eu não me demorasse mais para o almoço. Mal sabia a minha mãe que eu saia correndo da escola para encontrar com a Eliza, filha da Diretora da escola que estudava na escola particular a duas quadras da minha escola... Coisa de adolescente.
Depois teve a fase do banco que tínhamos hora marcada para chegar, mas nunca para sair. Todo bancário é escravo de relógio, mas eu me habituei tanto a me guiar pelo movimento dos meus amigos dentro do banco, que nem assim eu tomei gosto pela peça.
Depois vieram o celular, o relógio no computador e cada dia mais o relógio de pulso foi se tornando desnecessário. Pelo menos para mim.
Mas eu acabara de ganhar um relógio da minha filha que chegou de Londres. Um relógio lindo, uma peça rara. E agora?
Não usá-lo desagradaria e muito a minha filha; usá-lo desagrada minha doce mania de não gostar de relógio. O que fazer?
Coloquei o relógio no meu criado mudo para incentivar uma discussão comigo sobre o uso ou não do dito cujo.  Toda noite eu olhava para ele e pensava:  Amanhã eu usarei. O amanhã chegava e nada de eu criar coragem e colocar o relógio no pulso. O problema é que eu nem sequer tentava. Imaginava que ele seria pesado, que ia me incomodar, que eu ficaria suado debaixo dele e isto poderia ser muito desconfortável, enfim, não me faltaram fundamentos para o não uso da peça.
Enquanto eu não me decidia, fui para a minha janela observar o movimento da cidade, como o faço todas as tardes. Lá embaixo, um jovem sem os dois braços atravessa a rua.  Observei em silêncio. Em silêncio entrei em casa e ainda em silêncio coloquei o relógio. Está no meu pulso até hoje e a minha filha ficou feliz que só. 

Leila Rodrigues

Para o meu amigo Manuel com todo respeito e admiração