Agora acaba mesmo! Nunca pensei ter que ressuscitar os mortos, para dar
continuação a este estória. Não deve ter saído muito bem! Peço desculpa! Mas
fiz o possível!
Saíram em silêncio, Ângela agarrou com
força a mão de Licínio, as ideias entrecortavam-se na cabeça, queria ser
racional mas o pensamento não a deixava ter um raciocínio lógico.
Licínio sentiu aquela procura de apoio e protecção, segurou-lhe a mão com um carinho tão grande, que ela olhou-o e sorriu.
Foram até ao carro sem trocar uma
palavra, os pensamentos pareciam querer saltar, era um silêncio que parecia
ecoar.
Começaram viagem e, Ângela, não se conteve:
-Sabes amor, houve qualquer coisa
naquela velha que me pareceu falso! O choro não era sentido, era forçado e só a
fragilidade lhe dava alguma credibilidade, a polícia não vai às casas por causa
de um seguro, não sei o que é mas… fiquei com uma pedra no sapato!
Licínio gostou do sabes amor, Ângela era
terna mas faltava-lhe uma pequena dose de romantismo.
Sorriu-lhe de forma, quase embevecida, antes de responder:
Sorriu-lhe de forma, quase embevecida, antes de responder:
-Fiquei baralhado, não queria dizer nada
para não parecer insensível, mas juro, que não acreditei na história que nos
contaram.
Naquela idade, quem perde um ente querido veste luto carregado e a mulher estava com roupa de cor.
Naquela idade, quem perde um ente querido veste luto carregado e a mulher estava com roupa de cor.
Ficaram os dois em silêncio, tentavam
alinhar as ideias, mas não era fácil, pois havia duvidas e interrogações, a que
não sabiam responder.
Ângela foi a primeira a quebrar o silêncio:
-Tenho estado a pensar, se o acidente
foi no dia 25, de há três meses, tem que haver noticias nos jornais e registos
na polícia, ou nos hospitais!
Licínio olhou-a embevecido:
Licínio olhou-a embevecido:
-Tenho a namorada mais esperta de Lisboa
e arredores! É isso, vou começar por ai, vou ver todos os jornais do dia e dos
dias seguintes, vou falar com um amigo da bófia que me vai ajudar.
Não digas, por enquanto, nada ao Elias!
*****
*****
Licínio encarnou com satisfação este papel de detective, estava entusiasmado.
Pegou na esferográfica e estabeleceu um
plano, não podia esquecer nenhum pormenor.
Anotou, cuidadosamente, tudo o que a avó
de Joana tinha dito, embora parecendo que havia fantasias e contradições
convinha analisar, pois, apesar das suas dúvidas podiam corresponder à
realidade, realidade que não queriam mas que tinham que aceitar, pois, podia
ser verdade.
Anotou a compra dos principais jornais
dos dias 25 e 26 de Maio, depois ia falar com o amigo Albino que era comissário
da polícia. Estava na dúvida por onde começar, mas se calhar o primeiro passo
era falar com o amigo. Os jornais vinham depois!
Foram três dias intensos, falou com o comissário que lhe prometeu ir indagar, passou um dia de visitas a jornais onde comprou, como tinha previsto, os diários que normalmente publicam essas notícias.
Foram três dias intensos, falou com o comissário que lhe prometeu ir indagar, passou um dia de visitas a jornais onde comprou, como tinha previsto, os diários que normalmente publicam essas notícias.
Leu, de fio a pavio, todas as notícias,
muitos acidentes, mas nada relacionado com o que procurava.
O Albino telefonou-lhe eram 10 horas e confirmou a notícia que já esperava, nenhuma emergência em relação a esse, hipotético, desastre.
Pegou no telemóvel e ligou para Ângela, quando a ouviu, com a voz mais doce que conseguiu:
-Olá amor, estou cansado mas muito entusiasmado. Tem calma! Vamos combinar assim, vens passar a noite comigo, aqui, e amanhã vamos a caminho de Cascais para desmascarar a velha que nos intrujou. Pois é verdade! Não querida, não houve nenhum acidente! Eu preparo o jantar. Um beijo!
****
Ângela acordou esfomeada, a noite
abriu-lhe o apetite!
Sentiu, na cozinha, o reboliço atarefado
de Licínio, o cheiro a café acabado de fazer aguçou, ainda mais, o desejo de um
pequeno-almoço reforçado.
Estômagos aconchegados depois de uma
noite bem colorida, meteram-se à estrada.
Havia um certo nervosismo, Licínio
queria parecer forte mas um nervoso tolhia-lhe os pensamentos e tinha medo,
pois algo que o ultrapassava estava a acontecer. Mas tinha que parecer forte,
tinha que impressionar a sua Ângela.
Quando chegaram à porta da vivenda, a primeira surpresa. Estacionado, mesmo em frente, estava o carro que o Licínio já conhecia.
Quando chegaram à porta da vivenda, a primeira surpresa. Estacionado, mesmo em frente, estava o carro que o Licínio já conhecia.
-Sabes, Ângela, estou a ficar nervoso,
aquele automóvel é o deles!
Ângela, muito serena, tentou acalmar o
namorado, a voz não lhe saiu muito convincente mas tentou:
-Mas isso é bom vem confirmar o que já
suspeitávamos! Vamos estacionar e visitar, outra vez, os senhores.
A vivenda não parecia a mesma, os
canteiros bem arrumados, a relva cuidadosamente aparada e os muros de buxo
delimitando os carreiros.
O som do carrilhão era diferente, aquela
dingue-dongue, suou de uma forma um pouco mais estridente.
Surpresa geral, na porta ao longe,
apareceu a cabeça do Ambrósio que com voz cerimoniosa perguntou:
-Em que os posso servir?
Quase em simultâneo responderam:
-Precisamos falar consigo ou com a
menina Joana!
O portão disparou e com toda a suavidade
foi-se escancarando. Entraram, alguma relutância, mas avançaram resolutos.
Ambrósio mandou-os entrar e, indicou-lhes
lugares para se sentarem, antes de responder:
-Com a menina Joana não vão poder falar,
está muito longe e, ainda, vai demorar algum tempo, mas se eu puder ajudar,
digam por favor!
Ângela contou-lhe da última vez que aqui
estiveram e da conversa com a avó da Joana.
O homem pareceu surpreendido e perguntou:
O homem pareceu surpreendido e perguntou:
-Tem a certeza que estiveram aqui, nesta
casa?
-Temos a certeza! Responderam os dois.
Ambrósio ficou pensativo, puxou um
Cadeira e sentou-se em frente deles.
-Mas qual o interesse em falar com
Joana?
Ângela contou o sofrimento do filho e da
promessa que fez em o ajudar.
-Já sei quem é, respondeu o homem, a
menina contou-me e parece-me que o seu filho também lhe deixou recordações.
Se calhar não devia, mas eu tenho uma
enorme dedicação pela Joana e vou contar.
A Joana como sabem é invisual, tem uma
Neurite óptica retrobular, não se sabem bem as causas mas pensamos que foi a
partir do acidente, que os sintomas se agravaram.
-Mas que acidente? Perguntou Ângela.
-Foi há doze anos atras, o pai da Joana
teve um acidente muito grave. Um despiste onde, infelizmente, o meu cunhado e a
avó da Joana perderam a vida, Joana, por milagre, sofreu poucos danos mas os
médicos pensam que o choque pode ter causado a inflamação do nervo óptico, Salvou
a vida mas perdeu a visão!
A minha irmã, mãe da Joana ficou, com
devem calcular, destroçada perdeu o marido, a sogra e ia perdendo a
filha.
Foi aí, que eu me tornei o seu guardião
e os seus olhos, passei a ser a sua luz e ao mesmo tempo a sua sombra.
Agora apareceu a esperança, uma clinica
em Sidney, tem conseguido grandes avanços na cura desta doença.
A Joana e a mãe estão na Austrália, a
minha sobrinha vai ser operada e temos esperança no sucesso da intervenção.
Quando regressarem, prometo, que se a
minha menina recuperar a visão vos telefono e combinamos um encontro!
Ângela, com o entusiamo, agarrou nas mãos do Ambrósio e, quase, com violência pediu:
-Promete que vai telefonar, seja em que condições
forem, não importa o resultado da operação! O meu filho está apaixonado pela
Joana!
O resto não importa!
O resto não importa!
-Prometo, conclui Ambrósio, deixem o
vosso cartão!
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Hoje, na Basílica da Estrela, realizam-se dois casamentos.
Joana e Elias, Ângela e Licínio juram, perante Deus, o amor que os une.