segunda-feira, 24 de junho de 2013

Mais um ano vai passado

  24 de Junho de 2007



                                              24 de Junho de 2013







Para todos os que me tem ajudado com palavras, amizade e carinho o meu muito obrigado.

Façamos um brinde!






terça-feira, 18 de junho de 2013

Os dez sofrimentos







Qualquer semelhança com personagens ou factos existentes pode não ser pura coincidência.


                                                  1


-Mãe os meninos da minha escola só gozam comigo! Chamam-me caga-tacos e padre!

-Não ligue Gaspar, é inveja! Tu não és caga-tacos, és pequenino mas muito inteligente e a tua voz é especial. É verdade que, às vezes, quando te oiço fico com sono! Mas é contemplação!
 Não ligues querido, estuda e, ainda, um dia os vais castigar.
Agora vai dar de comer ao teu coelho e, de caminho, trás um cavaco para a lareira.


                                                  2


-Mãe, eu, sou o melhor a fazer contas e a minha professora diz que me engano muito.

-Não ligue, é inveja! Tu não te enganas, ela é básica e não tem inteligência para te acompanhar. Estuda filho que um dia, eles vão engolir isso tudo!
Lava as mãos e vamos comer, já dei uma ração ao teu coelho e, hoje, não preciso de nenhum cavaco.



                                                  3


-Mãe, hoje, um menino disse que eu, para ser parvo não me falta nada. Achas que eu sou parvo?

-Não ligue a esses pés rapados, não tem onde cair mortos. Continua a estudar e ainda os vais meter a todos na ordem!
O teu coelho tem que levar nas orelhas, anda a abusar, só faz merda, não tarde vai para o tacho. E cavacos já não são precisos mais, comprei um aquecer a óleo.


                                                      4


-Mãe vou para a faculdade, vou estudar para ministro das finanças!

-Mas Gaspar também se estuda para isso? Vais tirar Economia. Para ministro das finanças qualquer parvo serve, não é preciso estudar.

Mas mãe, eu quero ser especial, quero ser diferente e para isso tenho que estudar muito!
Quando entrar para a faculdade, vamos fazer um sacrifício para alegrar os Deuses. Vamos imolar o coelho, não é matar, e vai para o forno com bacon e cogumelos. Tem que ser, este já fez a merda que tinha a fazer, outro virá a caminho, que adora relvas e que nos vai fazer esquecer este!


                                                       5

-Afinal, mãe, os gajos da faculdade são a mesma coisa, não são tão directos, mas já os ouvi comentários sobre um caga-tacos e a voz de padre. Não sei se será por minha causa, sou pequenino mas essa da voz é que não compreendo.

-Oh Gasparzinho, são invejas por ser o melhor, o mais inteligente e o mais capaz para um futuro ministro das finanças. Quando à voz não te preocupes, sais à tua avó paterna, também falava assim, nesse jeito clerical.       

      
                                                 6


-Mãe já sou doutor, acabei a faculdade agora vou tirar meia dúzia de mestrados e pós graduações. A seguir vou fazer parte de muitas coisas, vou ser chefe de Comissões, Delegações e tudo isso. Sou pequenino mas vou chegar lá a cima.

-Mas como sabe essas coisas todas, Gasparzinho?

-Não digas a ninguém, mãe, mas foi uma cigana no Jardim da Estrela que me leu a sina.


                                                          7

-Sabes mãe, o meu coelhinho deve ter ressuscitado, telefonou-me a convidar-me para ministro das finanças. Vou aceitar, toda a vida estudei para a vingança, agora vão ver quem é o caga-tacos e o vózinha de padre!

A maioria dos meus ex-colegas são funcionários públicos estão bem lixados vão pagar pela má-língua. Vou esmifrá-los com baixas de ordenados e impostos. Vão ficar a saber quem eu sou! Vão pagar com língua de palmo e se pensam que os pais os vão ajudar, que tirem o cavalinho da chuva, vou lixar as reformas dos velhos, não há ajuda para ninguém, que imigrem. Malandros!

-O Gasparzinho já está a abusar um bocadinho?

-Não mamã, eu já expliquei aos gajos, não sei se perceberam, pois quando acabei de falar, metade tinha abalado e a outra metade dormia profundamente.

-Mas filho assim, qualquer dia, as pessoas deixam de gostar de ti!

-Cada vez gostam mais, uma loucura total, onde vou estão à minha espera e cantam-me uma tal Grândola Vila Morena, não sabem outra. Gostam muito,  se não fosse a polícia vinham para cima de mim para me abraçar, mas não deixo, não gosto dessas manifestações de carinho.

-Mas filho o povo está queixoso!

-Não tenho culpa, se o Benfica tivesse ganho e se chovesse, todos os dias, seria diferente, mas assim tenho que carregar nos gajos.
Parece que já me estou a ouvir:
-Gaspar mais um roubito para compensar!

Tem que ser assim, não lhe posso chamar impostos senão esta cambada vai para o Tribunal Constitucional e, eles lá, não são muito melhores.

-Sabes uma coisa Gaspar, já começo a estar arrependida de te ter parido!


                                                      8

-Sabes mãe que aqueles cavacos que punhas no lume, também ressuscitaram?

-Não diga asneiras rapaz, aquilo eram cepos!

-E o que pensas que este é ? Mas é um gajo porreiro, nós fazemos tudo e ele fala no Facebook. Mas quem lê essas coisas se tem um BigBrother?
Até eu vejo muitas vezes, ando a estudar uma maneira de cobrar uns impostos, impostos não, umas massas àquela palhaçada.

-Ai Gaspar, estás cada vez pior!     


                                                     9

-Sabes uma coisa mãe, o nosso coelhinho, o que ressuscitou, agora é primeiro-ministro, é um espectáculo como se lembra de mim. Faz o que eu quero e digo. Tem cá um respeitinho!

-Porque não deixas isso e vais para Bruxelas como sonhas?

-Tudo a seu tempo, mãe! Ainda há gajos que respiram, ainda não acabei a minha missão.


                                                    10


-Houve filho de um comboio, a partir de agora não me chame mais mãe, não sou tua mãe! Eu pari um rapaz e não um monstro!

-Houve lá velha, não é assim! Se deixas de ser minha mãe tens que pagar umas taxas, não penses que te safas. Vou mandar aí os fiscais da finanças para cobrar e, não penses que fazes como o Viegas, que mandou os desgraçados a levar no cú.





terça-feira, 11 de junho de 2013

A partida






Há muitos dias que a ideia lhe bailava na cabeça,  era um pouco estranha mas era uma ideia que ia crescendo. Primeiro surgiu quase por acaso, foi um pensamento subtil, quase tímido mas cresceu e agora fazia parte do seu quotidiano.

Tentava pensar numa solução e, por mais voltas que desse à cabeça, não lobrigada uma maneira de se libertar. Por vezes até parecia gostar da situação, tal o amorfismo e um certo deixa andar, como se o tempo, que tudo resolve, pudesse vir em seu auxílio.

De repente, foi como se uma luz se tivesse acendido no seu cérebro, um fogacho e a ideia instalou-se como uma lapa. Primeiro devagarinho, para ganhar espaço, depois grudou de tal forma que parecia fazer parte da própria cabeça.

****

Ao princípio não se importou muito, pareceu-lhe quase natural mas, com o decorrer do tempo, uma certa estranheza foi-se instalando, não era normal, depois de um namoro romântico, de palavras doces sussurradas em surdina, veio um casamento que parecia abençoado.
Depois esta violência. Primeiro eram as palavras ladradas em frases cruéis, a ausência dos carinhos, depois os sopapos que doíam mais na alma que no corpo.

A alegria morreu no medo da companhia, antes tão desejada.

As noites eram pesadelos sofridos nos bafos de vinho ordinário, numa entrega, ausente, de corpo massacrado num uso de afecto forçada.

Depois os interregnos, curtos, muito curtos, de arrependimentos que morriam no saciar dos desejos.

Não queria mais nódoas negras, nem cremes para as disfarçar, não queria mais desculpas para esconder o que todos já sabiam.

Ia perder o medo, afinal já tinha morrido há tanto tempo que se morresse, mais uma vez, não ia notar, mesmo nada.

*****

Pensou em tantas coisas que já estava baralhada, imaginou acabar com a raça do gajo ou cortar-lhe, algo, com a tesoura de podar. Havia riscos, se lhe acabasse com a existência ia presa, se lhe cortasse, aquilo, corria o risco de ele acordar e então, havia um cadáver mas não seria o dele.

Estava confusa, no fundo ainda sentia algo por ele, não sabia bem o quê, mas sentia.

*****

De verdade, ainda gostava dele.
Talvez as coisas pudessem mudar.
Mais uma oportunidade. Afinal, ele, não era assim!





domingo, 2 de junho de 2013

Marcas







Tentou abrir os olhos mas, a dor aguda que o percorria, apenas lhe deixou entrar uma confusão de luzes, barulhos e sons que não conseguia compreender. Havia uma espiral de claridades azul, girândola que lhe atravessava as pálpebras cerradas.

Queria falar mas as palavras ficavam perdidas num emaranhado de confusão, que não sabia explicar.

Não sentia o corpo, estava leve, num levitar doce e tranquilo.

Viu o pai, chamava-o de joelhos na areia molhada da praia. Correu para os braços, fortes, que abraçaram com amor o seu corpo ainda tão frágil.

Era tão criança a correr, atrás da bola que o pai atirou para longe. Correu molhando os pés na água que se espraiava na areia.

Ao longe a mãe sorria.

Viu-se a receber o canudo da formatura, a mãe tinha os olhos molhados das lágrimas, de satisfação, pelo seu menino. A Laura, estava ao lado e, sorria com tanto amor, que lhe apetecia deixar a formatura e correr para os seus braços e, beijá-la com todo o amor que sentia.

Lembrou o dia do casamento, sentiu-se ridículo naquele trajo de cerimónia. A Laura estava deslumbrante, tão radiosa.

Sentiu-se a levitar, numa doçura e, numa tranquilidade como nunca sentira antes.

Era uma música diferente, sons que nunca antes escutara, uma harmonia, que o embalava como se flutuasse num mar de pétalas perfumadas.

A luz avançava devagar, num salomónico de luzes suaves, que o levavam enleado em reflexos de rostos que conhecia mas de que se não lembrava.

Depois………... foi  o silêncio.

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Jornal Correio da Manhã do dia 24 de Dezembro.

Mais um grave acidente ceifou uma vida na flor da idade e deixou outra em estado muito grave.
João Gomes, um jovem de 23 anos, quando chegou ao Hospital já era cadáver, a sua esposa Laura Gomes está em observação com prognóstico muito reservado.
Segundo testemunhas do acidente, pode ter sido o excesso de velocidade e o estado do piso, devido ao mau tempo, os causadores do grave despiste que originou mais uma tragédia na véspera do Natal.
As autoridades pensam que............