Quando o galo cantou
já o mestre, Luís Inácio, estava a escanhoar os queixos, queria estar
aparaltado e vistoso para dar o ar de solenidade, indispensável nestas
situações.
Estava receoso, pois quando foi eleito, para
presidente da junta, não era, propriamente, para tratar de casos que diziam
respeito às autoridades.
O sargento, do posto da guarda, mais preocupado em fugir aos problemas, disse em alto e bom som que nada podia fazer, não havia provas, ninguém se queixou e, além disso, a dona Rosalinda era uma mulher livre, que podia ir onde lhe aprouvesse, sem dar contas a ninguém.
O mestre, Luís Inácio, agora senhor presidente, não gostou dessa passividade e convocou todos os munícipes, para uma reunião. Era preciso tomar decisões e, responsabilizar as autoridades, para cumprirem os seus deveres, aliás, era para isso que recebiam o ordenado, todos os meses, à custa dos impostos que o povo, contrariado, iam desembolsando para o erário publico.
E foi assim. Mandou afixar editais, em todos os locais públicos, para uma reunião das forças vivas, da povoação, para decidir sobre os problemas que tanto os vêm afligindo.
****
Ainda não eram 10 horas e, o salão da Casa do Povo, estava cheio, até o Barriguita se pavoneava, no meio da sala, sentindo a responsabilidade de ter protagonizado, talvez, o ultimo diálogo com a desaparecida. Mas por cinco Euros, como ela ofereceu, só merecia um manguito, nada mais.
Estava cogitando, nesta ideia, quando uma pancada na mesa despertou a atenção de todos os presentes.
A voz do Presidente, depois de pigarrear, sobrepôs-se à confusão, de diálogos, que enchiam a sala:
-Bom, continuou, todos sabem o motivo desta assembleia e, todos, temos que tomar uma decisão para resolver, de uma vez por todas, esta situação que têm o pessoal meio acagaçado.
O sargento, do posto da guarda, mais preocupado em fugir aos problemas, disse em alto e bom som que nada podia fazer, não havia provas, ninguém se queixou e, além disso, a dona Rosalinda era uma mulher livre, que podia ir onde lhe aprouvesse, sem dar contas a ninguém.
O mestre, Luís Inácio, agora senhor presidente, não gostou dessa passividade e convocou todos os munícipes, para uma reunião. Era preciso tomar decisões e, responsabilizar as autoridades, para cumprirem os seus deveres, aliás, era para isso que recebiam o ordenado, todos os meses, à custa dos impostos que o povo, contrariado, iam desembolsando para o erário publico.
E foi assim. Mandou afixar editais, em todos os locais públicos, para uma reunião das forças vivas, da povoação, para decidir sobre os problemas que tanto os vêm afligindo.
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Ainda não eram 10 horas e, o salão da Casa do Povo, estava cheio, até o Barriguita se pavoneava, no meio da sala, sentindo a responsabilidade de ter protagonizado, talvez, o ultimo diálogo com a desaparecida. Mas por cinco Euros, como ela ofereceu, só merecia um manguito, nada mais.
Estava cogitando, nesta ideia, quando uma pancada na mesa despertou a atenção de todos os presentes.
A voz do Presidente, depois de pigarrear, sobrepôs-se à confusão, de diálogos, que enchiam a sala:
-Bom, continuou, todos sabem o motivo desta assembleia e, todos, temos que tomar uma decisão para resolver, de uma vez por todas, esta situação que têm o pessoal meio acagaçado.
A guarda, embora o sargento esteja presente, nada tem feito para sossegar o pessoal e, é nossa ideia que têm obrigação de zelar pela tranquilidade e segurança do povo. Não é no quartel. é no terreno. que estes casos se resolvem.
O sargento Ambrósio, estava desconfortável e não se susteve:
-Senhor Presidente Luís Inácio, não está a ser justo! Nós temos instruções para agir, dentro de regras e, não só, porque alguém diz que vê, ou pensa que vê, uma coisa ao longe.
Mas quem? Sim! Digam quem molestou essa tal sombra? Sim se existe, ou a coisa, como alguns dizem?
-É lá….! Senhor Sargento! Gritou alguém do povo, não basta o que pode ter acontecido à Dona Rosalinda? Não acha que é suficiente? A pobre coitada até pode ter esticado o pernil e nenhum de nós, eu incluído, mexeu uma palha.
-Calma, pediu o sargento, calma e respeito pela autoridade, não recebemos qualquer participação de desaparecimento, ela pode ter ido a qualquer lado, é livre e não tem que dar conta do que faz, a ninguém! O resto é só imaginação, de quem não tem mais nada que fazer, eu estou farto de olhar e cá nunca vi nada. Mas mesmo nada!
O Zé da Póvoa não se conteve, não gostava de tomar a palavra, não tinha jeito, mas não se conteve:
-Quer então dizer que, o Senhor Sargento, acha que este povo é uma cambada de aldrabões? Que a dona Rosalinda fugiu, para aí, com algum príncipe encantado?
É natural que nunca tenha visto pois, de dentro do gabinete, não se pode ver.
O Sargento mudou de cor, não gostou mesmo nada, e respondeu de forma pouco simpática:
-Oiça lá senhor José da Póvoa, sabe que o posso levar para o posto por desrespeito à autoridade?
-Não vá por aí, Senhor Sargento! Gritou o presidente da Junta, estamos numa democracia e as pessoas têm todo o direito a dar a opinião. Aqui, agora, nesta sala, eu sou a máxima autoridade, o senhor está na qualidade de convidado.
Vamos continuar, ordeiramente, mas com liberdade de expressão.
O Barriguita, levantou a mão, queria falar mas alguém lhe deu uma tapa, na cabeça, e sossegou.
Havia um bruaá, ensurdecedor, na sala ninguém se entendia, foi preciso por ordem.
-Pessoal, berrou o presidente, vamos por ordem nos trabalhos, este zunido, que ninguém entende, tem que acabar. Se alguém tem ideias ou sugestões deve, agora, atirar cá para fora. Com paleio não vamos lá.
José Gamboa, o ferrador, levantou o braço.
-Diz Zé, pediu o presidente.
José, ficou um pouco encabulado, com tantos olhos na sua direcção mas não se intimidou:
-É a minha opinião, já sabem que eu percebo de bestas e de ferraduras, não sei nada dessas coisas de aparecidos, ou sei lá o que, mas é preciso fazer alguma coisa.
Não sei o que, mas contem comigo!
Dona Carmelinda, na sabedoria dos seus 80 anos, também, deixou o seu préstimo:
-Eu já não tenho muitas forças e, o raio da minha coluna, também não me deixa, mas acho que os mais novos, podiam ir ver o que se passa para aqueles lados.
Aquilo fica mais longe do que pensam, caminho onde poucos se atrevem, estevas, cobras e as maiores ratoeiras, são um obstáculo difícil de levar a cabo. Antes, não se chamava Cerro do Demo, era o Cerro dos enforcados. Contava a minha avó, que há muitos anos, era a propriedade de um homem, muito mau.
Eu cá não acredito, muito, nessas coisas, mas a minha avó dizia, que tinha acontecido, mas mesmo assim, se ainda tivesse forças ia convosco.
Foi com uma salva de palmas, que os presentes, recompensaram as palavras da dona Carmelinda.
****
Havia, na sala, um silêncio que doía. Os pensamentos queriam saltar mas, algo, tolhia as ideias, uma espécie de medo de sair asneira, uma timidez que silenciava a audácia.
Foi o presidente, da Junta, a tomar a iniciativa, para isso era o presidente:
-Bem pessoal, assim, não vamos a nenhum lado!
Vou dar uma ideia
que tem andado a bailar no meu pensamento.
Eu confesso que nunca vi nada, também é verdade que nunca andei a espreitar por binóculos, mas a maneira como a dona Rosalinda se evaporou deu-me que pensar.
Mas isto são, cá coisas, da minha cabeça e temos que tomar decisões.
Proponho que um grupo, de 8 ou 10 homens, acompanhados, por um agente da autoridade, se meta a caminho e, de uma vez por todas, se ponha termo a esta maluqueira colectiva.
Se quiserem eu sou um dos voluntários.
Muitos braços se levantaram, prontos, para fazer parte do grupo, até o Barriguita.
-Sendo assim, exclamou o presidente, falta ouvir o Senhor Sargento Ambrósio.
-Não estando de acordo, mas considerando que o povo é soberano, começou o Sargento, destacaremos um elemento da corporação para dar apoio logístico e protecção.
Ouviram-se umas, tímidas palmas que, envergonhadas, rapidamente se extinguiram.
Eu confesso que nunca vi nada, também é verdade que nunca andei a espreitar por binóculos, mas a maneira como a dona Rosalinda se evaporou deu-me que pensar.
Mas isto são, cá coisas, da minha cabeça e temos que tomar decisões.
Proponho que um grupo, de 8 ou 10 homens, acompanhados, por um agente da autoridade, se meta a caminho e, de uma vez por todas, se ponha termo a esta maluqueira colectiva.
Se quiserem eu sou um dos voluntários.
Muitos braços se levantaram, prontos, para fazer parte do grupo, até o Barriguita.
-Sendo assim, exclamou o presidente, falta ouvir o Senhor Sargento Ambrósio.
-Não estando de acordo, mas considerando que o povo é soberano, começou o Sargento, destacaremos um elemento da corporação para dar apoio logístico e protecção.
Ouviram-se umas, tímidas palmas que, envergonhadas, rapidamente se extinguiram.
*****
-Então, retomou o
presidente, se estiverem de acordo vamos escolher os oito homens para a missão.
Eu, porque é minha obrigação, o elemento da guarda, para haver uma força de segurança, o José Gamboa, porque é forte e determinado, o António Rabiça porque é um homem de fé, vai sempre à missa e podemos precisar de ajuda divina, o Orlando, é caçador está habituado a seguir os rastos, o Arnaldo, foi forcado e sabe como se apanham os touros pelos cornos, o Armindo, é a melhor companhia que se pode ter pela boa disposição que transmite e por fim, o Ernesto, porque é muito sensato e inteligente, precisamos de alguém assim.
Estão todos de acordo e aceitam?
Então vamos preparar tudo, para no sábado bem de manhã, nos metermos ao caminho.
****
Sábado parecia dia de festa na aldeia, uma multidão estava concentrada no largo da fonte, lugar de partida da expedição.
Os oitos escolhidos estavam prontos e, com tudo o que julgavam necessário para a viagem.
Duas mulas, emprestadas pelo dono da Herdade dos Regatos, carregadas de mantimentos e de todo o material necessário para pernoita e mudanças de temperatura, habituais à noite.
Eu, porque é minha obrigação, o elemento da guarda, para haver uma força de segurança, o José Gamboa, porque é forte e determinado, o António Rabiça porque é um homem de fé, vai sempre à missa e podemos precisar de ajuda divina, o Orlando, é caçador está habituado a seguir os rastos, o Arnaldo, foi forcado e sabe como se apanham os touros pelos cornos, o Armindo, é a melhor companhia que se pode ter pela boa disposição que transmite e por fim, o Ernesto, porque é muito sensato e inteligente, precisamos de alguém assim.
Estão todos de acordo e aceitam?
Então vamos preparar tudo, para no sábado bem de manhã, nos metermos ao caminho.
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Sábado parecia dia de festa na aldeia, uma multidão estava concentrada no largo da fonte, lugar de partida da expedição.
Os oitos escolhidos estavam prontos e, com tudo o que julgavam necessário para a viagem.
Duas mulas, emprestadas pelo dono da Herdade dos Regatos, carregadas de mantimentos e de todo o material necessário para pernoita e mudanças de temperatura, habituais à noite.
Começaram em fila, as mulas à frente e o pessoal, cabisbaixo, numa espécie de procissão.
O povo seguiu o cortejo com os olhos até à curva, a seguir ao cemitério., Depois o caminho, aos altos e baixos, cheios de tojos e estevas, não deixava ver nada a não ser, uma pequena poeira que ficava no ar.
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Vão passados dois dias, pode ser cedo, mas as pessoas andam desconfortáveis, os telemóveis no povoado tinham pouca, quase nenhuma rede, e então naquele Cú de Judas, para onde foram, nem pensar. Bem tentavam, mas nem um único sinal.
Agora, cinco dias passados, o pânico começa a ser visível. Os olhos e os ouvidos estão atentos.
O Zacarias ficou, de
plantão, pronto a largar um foguete logo que se aperceba do regresso.
****
Pum...pum...pum...pum. Um foguete, estrelejou no ar, e todos largaram os afazeres e saíram, em correria para o largo da fonte, local da partida e da chegada.
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Pum...pum...pum...pum. Um foguete, estrelejou no ar, e todos largaram os afazeres e saíram, em correria para o largo da fonte, local da partida e da chegada.
As duas mulas, empoeiradas, vinham chegando em passos trôpegos.
Traziam, apenas, a
carga que levaram.
Uma vinha arrastando,
por uma corda com uma ponta presa à perna que parecia de um homem e, a
outra ponta presa na albarda do animal.
Irreconhecível. Só pelo pouco, que restava das roupas, parecia ser o António Rabiça.
Mas era dificil.
Só a polícia, pelas
perícias, poderá confirmar.