quinta-feira, 15 de julho de 2010
O convite
Talvez fossem os olhos que me fascinaram.
Fundos e de uma negrura que me deixaram perturbado.
Não é que eu me atarante com facilidade, mas aqueles olhos mexiam comigo.
Eram intensos e frios, pareciam dois gumes de aço prontos a cortar.
E era pena, pois o sorriso era radioso como o nascer do Sol.
Mas os olhos, esses tinham algo de soturno e, ao mesmo tempo de misterioso, que me deixava desconfortável.
Quando se sentou na cadeira, à frente da minha secretária, não cruzou as pernas deixando-me um pouco desiludido pois, nos filmes, é normal cruzarem as pernas num enorme mostrar de calcinha.
Mas tive azar, apenas juntou os joelhos e puxou a saia numa forma natural. Gesto casual mas de uma elegância que denotava ser pessoa de requinte.
Olhou-me com um sorriso de dentes que cintilavam em suaves reflexos de pérolas, os olhos rebolaram de uma forma tão lânguida que senti um formigueiro a tomar conta de mim.
Tentei fingir não me deixar impressionar e aguçando a voz perguntei:
-A que devo a sua simpática visita?
Olhou-me, mais uma vez, daquela maneira que arrepia, pousou as mãos na minha secretária, aproximou a boca do meu ouvido e segredou:
-Quero pagar-lhe para matar o meu marido! Quanto leva?
Fiquei siderado, primeiro pela visão que um farto decote proporcionava, depois pelo insólito da desconcertante pergunta.
-Matar o seu marido? Quando levo? Mas a senhora endoideceu?
Olhou-me do fundo daqueles lagos frios e, com um calma desconcertante atirou:
-Não seja tonto eu sei que é detective e que se encarrega de casos difíceis.
-Minha senhora, balbuciei, eu trato de casos difíceis mas não sou assassino.
Sorriu, mostrou mais um pouco do que o decote tinha para desvendar. Semicerrou os olhos que ficaram como dois traços cintilantes e, com um rilhar de dentes sibilou:
-Não se faça difícil seu sacana!
Deitou-me as mãos ao pescoço e começou violentamente a sacudir-me.
Estava totalmente transtornada, colérica.
Tentei defender-me, gesticulei em vão. Era mais forte do que pensava e começava a sentir dificuldade em respirar, arrisquei lutar e ripostei com força. Levantei os braços e as pernas numa tentativa de me libertar.
Ia caindo da cama.
Maldito pesadelo.
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12 comentários:
Nooooossaaaaaaaaaa...que agonia!
Já que era um pesadelo, ao menos a moça poderia ter feito a tal cruzada de pernas, pra valer o quase tombo, não, Manuel?
Rs
Beijo, beijo.
ℓυηα
Olá, amigo escritor!
Você é demais!...
Sempre imagino uma coisa e o desfecho é outra totalmente diferente!...
Adoro ler tudo que você escreve... tem muito bom humor e criatividade.
Beijinhos.
Dila
Brasil
Manuel estimado amigo:
Se ela tivesse cruzado as pernas e mostrado o que que é suposto ver, quem morreria de emoção seria o Manuel.
Excelente texto como é habitual vindo de si.
Como sempre é óptimo este pedaço que aqui venho à sua companhia.
Bom fim de semana e p.f. receba o meu sincero kandando.
Genial! rs...Ainda bem que era pesadelo. No entanto ela poderia usar de sedução para que valesse a pena toda essa agonia,do apertão no pescoço um grande abraço e as pernas...Melhor cair da cama a dois...rs... Montão de bjs e abraços meu doce amigo
KKKKKKKKKKKKK...
menino pesadelo assim é quase entrar em desespero, Deus me livre.
Bjos achocolatados
gosto de quando nos conduz a um caminho, e termina em outro...
emoção...
belo texto !!!!
beijo
Manuel
è isso meu amigo
Acertaste pois quero ser sempre assim ser o que sou.
é bom sermos nós próprios
Faz-nos sentir mais nós
No teu coração um beijo
E pensava o Belchior que ía dormir tranquilo depois da sua confissão?!?
Desabafar é bom, mas a consciência não se limpa só com isso...
Pelo menos é uma consciência toda jeitosa!!! ;P
♥Olá, amigo escritor!!!
Feliz Dia do Amigo!!!♥♥
Beijinhos.
Com carinho,
♥Itabira
Brasil♥♥
Passando para desejar um ótimo final de semana a ti.
bjos achocolatados
Bjos achocolatados e um lindo final de semana.
Amigo Manuel,
Mas que história! Ou melhor que pesadelo! Pleno de emoção!
Espero que o tombo não o tenha magoado...
Beijinho da Luz
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