A sala estava cheia e um publico muito atento que, olhava impaciente o candidato, que no palco tentava desajeitadamente por em ordem o monte de papéis onde anotara, meticulosamente, a sua prédica.
Limpou, cuidadosamente, a testa e o luzidio crânio do suor que teimosamente continuava a denunciar o seu desconforto.
Já estava arrependido, pois quando tomou a resolução de se candidatar, não pensou na fobia que sempre sentia quando enfrentava uma plateia.
Já em pequeno a professora, numa festa de Natal, o tinha posto a fazer de burro no presépio, mas a vergonha que sentiu quando viu tantas pessoas na sala, estragaram de tal forma a encenação que até o menino Jesus teve que esconder a cara nas palhinhas para suster o riso.
Agora era diferente, tinha crescido e pensava que a idade o tinha preparado para enfrentar todas estas situações, mas parecia que não.
O público apercebendo-se da pouca à-vontade do professor, saudou-o com uma calorosa salva de palmas na expectativa de o motivar, mas o resultado foi um desastre.
O professor deixou cair os óculos e na tentativa de os arragar, espalhou os papéis do discurso ensaiado.
Os espectadores perderam a compostura e desataram à gargalhado e, diga-se, com alguma razão pois o pobre do professor estava ridículo, de rabo para o ar tentando com uma mão, desesperadamente, encontrar os óculos enquanto com a outra arrebanhava, desajeitadamente, as folhas que lhe haviam fugido.
O pagode ria a bom rir, enquanto o pobre homem, enfiava a cara debaixo da peanha na tentativa de se esconder.
A situação estava caricata e, o que se pensava ser a apresentação de uma candidatura à presidência da ADQNF, tornou-se numa estranha situação de humor.
Foi preciso a Doutora Celeste Malaposta entoar a sala com um grito:
-Silencio por favor, deixem o professor acalmar!
O professor levantou-se, gravata desalinhada, as duas únicas melenas que restavam na polida careca estavam caídas ao longo da cara, pareciam as orelhas de um cocker.
Tentou ajeitar os óculos mas as coisas não lhe corriam bem, pois as hastes torcidas não acertavam com as coradas orelhas.
O líquido que lhe escorria da testa fazia-lhe arder os olhos, que o deixava com um ar perdido, tentando com os pulsos
atenuar o desconforto.
atenuar o desconforto.
Não se sentia bem, tinha a sensação de ter urinado as calças, os nervos eram superiores à vontade.
Tentou ordenar os papéis, tarefa difícil, os óculos embaciados e o suor que ardia e atormentavam os pobres olhos dificultava a tarefa.
Apetecia-lhe desistir, deixar a sala, fugir para o sossego da sua casa, mas não podia desiludir os seus apoiantes.
Encheu o peito de ar num respirar ofegante, perfilou-se com um ar seráfico, olhou atentamente, abriu a boca e deixou sair um:
-Sou o vosso can..diii..daaa....rrooouuu.
Caiu de bruços, emaranhou-se numa imensidão de fios, deslizou docemente e caiu com estrondo agarrado ao microfone.
Disse,o médico, que quando chegou ao chão já estava morto.
Disse,o médico, que quando chegou ao chão já estava morto.
18 comentários:
Morreu tentando... Feliz, possivelmente.
Ainda estou a rir. Que o caso acontece a muitos no desajeitamento de estar em público. Raríssimas vezes acontece o que se viu no final.Mas há finais e finais.
A descrição é soberba e a parte em que se imagina o Candidato a fazer de burro no espetáculo e o Menino a rir é do melhor que tenho lido!
Parabéns. Gosto disto.
Beijo
Oi amigo, sabe que lendo fique rindo bastante. Gostei desse final. Acho que morreu por medo. Abraço!
Ótima semana!
Smareis
EXCELENTE, Manuel!!! hehe..muito bom!!
[]s
Coitado...Depois de tudo morrer...Ah mas ao menos valeu o esforço. Bjos achocolatados
Muito divertido,Manoel.Imagina essa cena!!! sr abraços,tudo de bom,chica
Pelo menos não desistiu e morreu a tentar em vez de fugir. Muito bom :)
Beijinhos
Olá,Manuel!!
Minha nossa!!Coitado, morreu de medo!! rsrsr
É tragicômico!!rsrsr
Mas muitas pessoas tem este medo de falar em público...o medo os colocam em situações bem piores!!
Adorei o texto meu amigo!Você sempre surpreende!!Adoro suas histórias!
Beijos!
*Obrigada!
Passando para deixar um abraço e dizer que seu blog é um passeio de curiosidades diversas e que gostei , vou voltar, bjs no seu coração e estou te esperando lá no Perseverança.
http://www.feliciadeamorpaixao.blogspot.comlushili
também tive que rir.
um beijo
e saudade...
hoje tranquilamente
sento deixo um beijo e poesia...
OLHAR
Olhar doce...
Dá segurança...
Olhar meigo...
Ajuda a superar...
A vida...
A tristeza...
A solidão...
Mas...
Ao ver os olhos...
De verdade...
E de Amor...
Sentimos...
Que os olhos...
São mesmo...
O espelho da alma...
LILI LARANJO
Manuel
Domingo foi demais...
Do desespero à alegria...
beijo verde
Olá Manuel!
Pobre professor!
Não foi possível um final menos dramático, Manuel?-))
Desmaiar, por exemplo!!
Um abraço.
Janita
Manuel
Se não fosse um Conto, seria ... verdade.
É que os Candidatos reais, apenas não têm morrido nas suas apresentações.
O Drama é Comédia pura onde até o Menino Jesus esconde a cara para não ser notado.
Burro, sempre será burro; não por sê-lo, mas por saber das incapacidades reais e teimar.
Abraços
SOL
Maravilhoso texto!! Eu é que não sei se ficarei candidatada ao meu curso,parece que vamos ser pre-seleccionadas. mas tambem só começa em janeiro,até lá tenho que pensar muito se quero ir ou não,por um lado é bom porque é um curso subsidiado mas por outro parece que vamos ter que voltar as aulas,disciplinas dificeis como psicologia por exemplo,enfim. beijinhos e bom fim-de-semana!!
Felix final de semana...Bjos achocolatados
Oi Amigo, e tentando que se aprende rs.Desejo um belo domingo, com encantada semana. Beijo grande!
Smareis
Oi,Manuel!Nossa que trágico!Morreu o pobre coitado candidato...
Uma ótima smeana!
Beijosss
meu querido Manuel
Como sempre as tuas palavras prendem...e não devia mas achei graça, mas há pessoas mesmo com esse medo.
Deixo um beijinho e agradeço as tuas palavras de carinho que me deixas em cada visita.
Rosa
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