Vou estar uns
dias vagueando, por aqui e por ali, numa espécie de férias, mas vou tentar
acompanhar os vossos escritos.
Um abraço.
Sabia
que gostava dela porque gostava, não sabia explicar porque, nunca fora bom nessas
coisas das palavras, era apenas aquela coisa que lhe ia dentro e o sufocava
quando ela se afastava, era como um doer que apertava no peito, punha o coração
num alvoroço e deixava as pernas numa total tremedeira.
***
Foi
numa daquelas tardes parvas, na casa do Afonso, onde entre uns pires de
caracóis e umas minis geladas se discutiam trivialidades, que ele a conheceu.
Estava numa alegre tagarelice com duas amigas quando, por acaso, os olhares se
cruzaram de forma tão diferente, quase antagónicas, ele ficou vidrado, ela numa
indiferença quase desdenhosa.
Era
linda duma beleza diferente, cabelo amarrado num rabo-de-cavalo, olhos
brilhando em reflexos de um azul-turquesa, quase ciano.
As
suas gargalhadas eram como água cristalina em suaves gorjeios, o rabo-de-cavalo
dançava ao maneio da cabeça em ritmos quase sensuais.
Ele,
José Maria, ficou preso na imagem e o coração disparou em batidas fortes e
descoordenadas, o pensamento parou no momento do fugaz cruzar dos olhares.
Ela,
Raquel, parecia uma daquelas moças para quem a vida é um caminhar feliz e com
alegria para distribuir por todos os que faziam parte do seu universo.
José
Maria ficou num estado de pura fascinação, perdeu a capacidade de raciocinar,
quedou num total aparvalhamento.
Estava
nessa quase letargia absorto nos seus pensamentos quando o Rui Pisco o acordou
para a realidade:
-Então
pá, não comes nem bebes?
Deu
um pequeno salto como quem desperta com o susto, olhou com surpresa o amigo
antes de responder:
-Desculpa
mas não estava aqui, aquela ruiva de rabo-de-cavalo tomou conta do meu
pensamento e monopolizou o meu olhar. Que loucura de mulher!
-Quem?
Perguntou o Rui, aquela de blusa branca? É a Raquel, moça gira mas não vais ter
sorte, acho que tem namorado mas vem que eu apresento-te, as três, e tu
desenrascas-te!
Muito
deprimente, foi apresentado mas as moças limitaram-se a um "muito
prazer" e desapareceram abanando os quatro rabos, mais propriamente três
rabos e um rabicho ruivo.
***
Ia
começar o jogo da sedução, não sabia bem como isso se fazia mas ia tentar,
enviar flores ou bombons, ou quem sabe, fazer uma serenata ou talvez escrever
uma carta apaixonada ou, então, dedicar-lhe um poema intenso e vibrante, havia
estas formas mas não! Era um problema difícil de resolver. Enviar flores ou bombos
era demasiado vulgar, uma serenata impensável, pois Deus não se lembrou dele
quando distribuiu o talento, poema só se o pudesse encomendar a alguém mais
dotado, ele não sabia sequer por onde começar.
Talvez,
pensou, uma jóia mas era um risco pois ela podia aceitar e continuar a ignorá-lo.
Estava
a ficar deprimido, não tinha ideias.
Todos
os dias, de manhã, ficava especado na esquina da rua até que a visão dos seus sonhos
aparecia naquele equilíbrio elegante, nos 14,5 centímetros dos seus saltos, no
corpo moldado numas calças de ganga que mais pareciam fazer parte da própria
pele, o peito arfava ao baloiçar das passadas, tentando romper a delicada blusa
que o cingia. Era, para José Maria, a loucura em movimento, o êxtase dos
sentidos, a provocação dos desejos e o sonho de qualquer anjo por mais puro que
pudesse ser.
Atirava-lhe
um bom dia entremeado de ternura e paixão mas ela, no alto do pedestal,
continuava naquela indiferença que fazia doer.
*****
Começou
a ficar preocupado, hoje era o segundo dia em que ela não aparecia, talvez
tivesse adoecido, coisa normal, mas para ele era um dor no coração pensar que a
sua paixão estivesse a sofrer, decerto seria coisa pouca e amanhã já iria
aparecer.
Vai
passada uma semana e nada de Raquel, a preocupação passou a fazer parte do
quotidiano do Zé Maria, tinha pesadelos, sonhava com Raquel a voar num cavalo
alado para longe, para bem longe.
****
De
repente uma luz brilhou no seu pensamento, o Rui Pisco conhecia a Raquel e, se
calhar, sabia o motivo da ausência.
Foi
bater-lhe à porta e, azar o seu, o Rui não atendeu, não estava em casa.
Restava
procurar no emprego, sabia que ele trabalhava numa seguradora. Ia lá.
O
Rui estava de férias de casamento só voltava para a semana.
Não
tinha outra solução tinha que aguardar, iria voltar.
Na
semana seguinte foi, novamente, procurar o Rui que já estava de volta ao
trabalho. Ficou muito admirado com a presença do Afonso.
-Que
fazes por aqui Afonso, perguntou Rui.
Afonso
procurou as palavras:
-Parabéns
Rui, já sei do teu casamento! É alguém que eu conheça?
Rui
deu uma gargalhada e respondeu:
-Acho
que talvez, casei com a Margarida a irmã do Óscar. Conheces?
Afonso
pensou um pouco tentando descobrir, mas não, não sabia mesmo.
-Sabes
Rui, há duas semanas que não vejo a Raquel, a ruiva do rabo-de-cavalo, por
acaso sabes o que se passa com ela?
-Não
faço ideia, desde que estivemos em casa o Afonso, quanto ta apresentei, não
soube mais nada dela.
****
Raquel era uma rapariga um pouco enigmática,
filha de boas famílias, mas um pouco arreigada a hábitos um pouco
ultrapassados. Queria casar virgem e só aceitava namorar quando se apaixonasse verdadeiramente.
Já tinha reparado no interesse do amigo do Afonso que o Rui lhe havia apresentado
mas, confessava que apesar de ser um homem muito interessante, não tinha feito disparar
o clique que esperava.
Quando ele se postava na rua num ar de peralta
aparvalhado, olhando-a de forma um pouco “pseudo-conspícua” sentia uma espécie
de repulsa, não queria mas era isso que lhe fazia a sua presença.
Começava a estar farta daqueles bons-dias
tímidos e da falta de coragem para uma abordagem convincente. Não gostava daqueles
tímidos e semi-balbuciados "bons dias".
Não queria ser deselegante, mas já estava a
sentir algum desconforto por esta, quase, perseguição.
Ia, tentar, arranjar uma solução que talvez (quem
sabe?) poderia resultar.
No sábado foi à cabeleireira, cortou o cabelo,
de ruiva passou a loira com reflexos dourados e nada de rabo-de-cavalo, cabelo
curto de pontas irregulares.
Olhou para o espelho e gostou do que viu na
imagem, estava linda.
Na segunda-feira passou, como sempre, no mesmo
local onde o admirador se postava e graças a Deus resultou.
Ninguém lhe disse bom dia.
Afinal
do que ele gostava, mesmo, era do rabo-de-cavalo e esse já era.
Deixo esta bela canção dum querido
amigo Eleutério Sanches, que não vejo há algum tempo mas que continua no meu coração.
14 comentários:
Ai que homem apaixonado tão trengo...
Realmente estava apaixonado era pelo rabo-decavalo, mais nada...
Que trsiteza.
Pior p'ra ele, melhor p'ra ela! ;-)
Boas férias Manuel, e que saibam pela vida! :-D
Esse se deu mal...Colocou o amor no rabo,rssr abração,tudo de bom,chica
Esqueci: Boas férias!!!
Amei!!!!
Bjs Manuel
Que paixão mais esquisita a dele....
Gostei muito do que li no final até me ri... :)
Beijinhos e BOAS FÉRIAS :)
Só tu, Amigo. Só tu para criares uma obra de expectativas até ao rabo... de cavalo.
No Amor é-se cego pelos mais ínfimos pormenores. Aqui o atestas, com uma paixão apenas por um pormenor da imagem.
Boas férias, Amigo.
Abraços
SOL
♡¸.°.¸♫♫♪
Kkkkkkkkkkkkkkkk!!!
Que amor mais fajuto o desse gajo!!!!
Bom fim de semana!
Beijinhos.
Brasil
♡彡♫♪°.¸.•°`
Olá amigo, mais um final de mestre e que eu estava longe de o adivinhar. Boas férias Manuel e quando voltar quero um daqueles contos, que nem me deixe pestanejar, não vá eu perder alguma letra. Estou a brincar meu amigo. Eu, quase nem pestanejo cada vez que o leio. O amigo tem o condão de me deixar agarrada à leitura. Beijos com muito carinho
A inteligência da Raquel fez com que se livrasse de um admirador distraído e louco por rabos de cavalo ;)
Boas férias meu caro amigo.
Beijinhos
Meu querido Manuel
Mais uma história maravilhosa e com um final sempre inesperado.
Deixo um beijinho e desejo que as férias sejam boas.
Sonhadora
Como estava um pouco afastada estou tentando voltar aos poucos
novamente tentando digerir o desconforto que estou passando no momento.
Eu não posso parar muito menos desistir de lutar como sempre fiz.
E a amizade nos da força sempre para continuar nossa jornada.
Nessa rapida visite convido você a ler minha postagem
também dizer se gostou do novo visual da nossa Viagem.
Lindo final beijos no coração,Evanir.
Estou com saudades de vc amigo.
E as férias?Boas? Relaxa bastante! abração,chica
Amigo Manuel, continuação de bom descanso. Beijos com carinho
Olá,Manuel!!
Ah!Algumas paixões são bem complicadas...ainda mais se não são correspondidas...mas quem já não passou por isso,né?!
Eu que pensei que ia ser solteira pra sempre,sei bem...rs
Mas no fim dá tudo certo!E encontramos a pessoa certa.
Mais um conto surpreendente meu amigo!Beijos e meu carinho pra ti!
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