segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Pouca vergonha!







-Credo! Gritou a dona Augusta, onde já se viu tão pouca vergonha?

Foi um desabafo, apenas um desabafo de alguém que ainda vive, um pouco, num época que já passou. Era do tempo, como dizia, em que havia vergonha e em que as coisas eram feitas no recato do lar.

Dona Augusta foi casada 18 anos, o seu Augusto faleceu e ela garante que nunca, mas mesmo nunca, foi capaz de se despir ao pé do marido, onde se viu uma sem “vergonhança” dessas.

Ela era uma mulher de princípios e dizia com frequência:

-Foi assim que a minha mãe me ensinou e foi assim que eu eduquei a minha Vanessa.

Agora aquela pouca vergonha, como aqueles, além na esquina na maior indecência que se possa imaginar! Ela nem se consegue ver de tão enrolada no rapaz e com as bocas a sorverem as línguas. Que nojo!

Que porcaria, onde se viu tanto descaramento, já pensei ir até lá e 
dar-lhe uma descasca para eles aprenderem o que é o decoro e ficarem a saber, que as poucas-vergonhas tem lugar próprio, se querem pecar que vão para uma pensão como fazem essas desgraçadas que estão, à noite, na esquina da rua, só não fui lá porque a minha Vanessa ficou de me telefonar a dizer as notas que saem hoje.

Sim que a minha filha é uma rapariga que sabe o que quer e, que graças a Deus, nunca me deu desgostos como aqueles desgraçados além no assento do jardim.

Que coisa! Mãe do céu! Está uma mãe descansada, em casa, a pensar que a filha anda no bom caminho e acontece como aquela infeliz, ali no banco, estrafegada pelo rapaz e lambendo-se de uma forma que não lembra a ninguém. Esta juventude está perdida, não sei por este caminho onde isto vai parar.

-Não, não posso aguentar mais, isto é um atentado à moral pública.

Tirou o avental, ajeitou o carrapicho no alto da cabeça e abalou para descompor os desenvergonhados que estavam a dar semelhante espectáculo.

Ainda não tinha chegado, bem ao local, e já se fazia ouvir em alto e bom som:

-Meninos! Vocês ai no banco! Se querem fazer cenas tristes vão para as vossas casas! Isto aqui é um sítio público, não é nenhuma hospedaria!

O casal entrou no real, a rapariga tentava ajeitar o descomposto da roupa e com espanto olharam para tão estranha aparição.

Dona Augusta estancou como se um raio a tivesse atingido, quase por encanto, mudou a cor do rosto.

Adoçou a voz e, baixinho, murmurou:

-Oh Vanessa! Oh querida! A mãe, ao longe, não te conheceu!
 Não demores filha! Tenho o jantar quase pronto!






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19 comentários:

chica disse...

rssssssssssss.... Levou nos dedos a faladeira.Era a filhinha,rs abração,chica

Palavras disse...

Olá meu amigo,


é sempre assim, os pais são os últimos a saber quem são, verdadeiramente, os seus filhos...rsrs.

Coitada desta mãe!

Abraços

Leila

Sónia da Veiga disse...

Ai os telhados de vidro... ;-P

Bloguinho da Zizi disse...

Bom dia. Estava com saudades e vim lhe visitar.
É realmente assim, há quem só veja o errado e indecente nos filhos dos outros.
A vida mostra um dia, quem é quem.
Abraços

Anónimo disse...

Sôdade do cê Manuel!

E os tempos mudaram né? :)
Bjs.

Laços e Rendas de Nós disse...


Surpresas...

Muito engraçado!

Beijo

Laura

rosa-branca disse...

Olá Manuel, a vida ás vezes tem destas coisas e quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras. Passou-lhe logo a sem vergonhice...Adorei meu amigo como sempre está espectacular e traz uma bela mensagem. Beijos com carinho

Catita disse...

é sempre mais fácil falar e criticar os outros.

Beijinhos

Maria Lucia (Centelha) disse...

Olá Manuel, que bom poder voltar aqui pra apreciar mais um dos teus maravilhosos contos!
Gostei demais dessa "Pouca Vergonha", porque ela retrata bem, o nosso cotidiano em que, o que nos outros nos incomoda, é porque existe o mesmo em nós!

Lembrou-me uma historieta em que uma mulher vivia falando mal dos lençóis da vizinha secando no varal. Que eram sujos, mal lavados, encardidos, e até chamar o marido pra ver o que tanto a indignava...O marido mais sensato, passou os dedos pela vidraça da janela em que estavam, pra dizer: oh, mulher, não estão os lençóis mal lavados, é a nossa vidraça que está suja demais!!

E o nome Manuel , estampado no meu quadro Blogando Entre Amigos, é o teu mesmo, meu amigo, com alegria!

Obrigado pela visita sempre esperada por mim!

Beijos da Lu...

AFRICA EM POESIA disse...

Manuel
Amor de Mãe é assim...

o Batuque foi bem batucado
agora aguardo os proximos capitulos...

eu estava muito zangada...

Quanto a férias aqui no centro tbm são boas Aveiro tem praias razoaveis e o alojamento é gratis.
beijo verde

Unknown disse...

E quantas diferença há hj em dia, esse texto é bonito, mas que pena que a gente vê tantos erros por ai.....
Valeu a pena ler
Gostei
Bjuss Rita!!!

Anónimo disse...

Boa noite, meu querido.

É mais fácil regular a vida dos outros que a própria.Adorei!


Beijinhos.


SOL da Esteva disse...

Pois, só as Vanessas dos outros?...
Um belo Conto a fazer uma chamada para reflexão sobre costumes... dentro de portas.
Muito bem Manuel.

Abraços


SOL

Magia da Inês disse...

彡♡` Olá, amigo!

É isso aí, pimento nos olhos dos outros é refresco!!!!

Lindo dia!
Bom fim de semana!
Beijinhos.
Brasil ♡彡.
¸.•°`♥✿⊱╮

Evanir disse...

Uma das grandes bênções da vida
é a experiência que os anos vividos nos concebem.
Aniversariar é uma amostra das oportunidades que temos de aprender a contar os nossos dias.
mais uma janela e abre diante dos meus olhos,
mais um espinho foi retirado da flor,
restando somente a beleza de tão bela data.
Com fé, na esperança e no empenho por ser melhor a cada dia.
Seguindo pelos caminhos da verdade e do amor.
Um dia encontrarei o mais belo jardim, o jardim que representará a realização
dos meus maiores sonhos.
Com saudades .
desejo um feliz final de semana
venha curtir meu aniversário.
Beijos na sua Alma,Evanir.

Gina G disse...

Fartei-me de rir, Manuel. Ainda me ri e tudo.

Beijinhos

Janita disse...

Ah, Manuel, os valores morais mudam, assim como Deus dá o frio conforme a roupa!!
Esta história fez-me lembrar aquela anedota da sra. que desabafava com uma amiga a sorte da filha, por ter casado som um rapaz tão bom! Levava-lhe o pequeno-almoço à cama, despejava o lixo, preparava as refeições, enfim, um amor de marido.
"Então e o teu filho?" Perguntou a outra.
"Nem me fales, a minha nora é uma "sostrona"! O meu pobre filho é que faz tudo lá em casa e até o pequeno-almoço lhe leva à cama"

Desculpe lá Manuel, mas de vez em quando dá-me para isto!

Beijinhos.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido Manuel

Hoje passando para oferecer o meu selinho de 3 anos de blogue,uma fatia de bolo e uma taça de champanhe e agradecer o vosso carinho que foi o que me fez chegar aqui.

Um beijinho com carinho
Sonhadora

Vivian disse...

Por esta a senhora tão conservadora não esperava!!Mas como, nada disse?!rs
O pior cego é aquele que não quer ver...é sempre mais fácil falar da vida dos outros do que perceber a sua própria...
És um mestre meu amigo!
Beijos e meu carinho!
*Demorei, mas vim!!rs