terça-feira, 18 de junho de 2013

Os dez sofrimentos







Qualquer semelhança com personagens ou factos existentes pode não ser pura coincidência.


                                                  1


-Mãe os meninos da minha escola só gozam comigo! Chamam-me caga-tacos e padre!

-Não ligue Gaspar, é inveja! Tu não és caga-tacos, és pequenino mas muito inteligente e a tua voz é especial. É verdade que, às vezes, quando te oiço fico com sono! Mas é contemplação!
 Não ligues querido, estuda e, ainda, um dia os vais castigar.
Agora vai dar de comer ao teu coelho e, de caminho, trás um cavaco para a lareira.


                                                  2


-Mãe, eu, sou o melhor a fazer contas e a minha professora diz que me engano muito.

-Não ligue, é inveja! Tu não te enganas, ela é básica e não tem inteligência para te acompanhar. Estuda filho que um dia, eles vão engolir isso tudo!
Lava as mãos e vamos comer, já dei uma ração ao teu coelho e, hoje, não preciso de nenhum cavaco.



                                                  3


-Mãe, hoje, um menino disse que eu, para ser parvo não me falta nada. Achas que eu sou parvo?

-Não ligue a esses pés rapados, não tem onde cair mortos. Continua a estudar e ainda os vais meter a todos na ordem!
O teu coelho tem que levar nas orelhas, anda a abusar, só faz merda, não tarde vai para o tacho. E cavacos já não são precisos mais, comprei um aquecer a óleo.


                                                      4


-Mãe vou para a faculdade, vou estudar para ministro das finanças!

-Mas Gaspar também se estuda para isso? Vais tirar Economia. Para ministro das finanças qualquer parvo serve, não é preciso estudar.

Mas mãe, eu quero ser especial, quero ser diferente e para isso tenho que estudar muito!
Quando entrar para a faculdade, vamos fazer um sacrifício para alegrar os Deuses. Vamos imolar o coelho, não é matar, e vai para o forno com bacon e cogumelos. Tem que ser, este já fez a merda que tinha a fazer, outro virá a caminho, que adora relvas e que nos vai fazer esquecer este!


                                                       5

-Afinal, mãe, os gajos da faculdade são a mesma coisa, não são tão directos, mas já os ouvi comentários sobre um caga-tacos e a voz de padre. Não sei se será por minha causa, sou pequenino mas essa da voz é que não compreendo.

-Oh Gasparzinho, são invejas por ser o melhor, o mais inteligente e o mais capaz para um futuro ministro das finanças. Quando à voz não te preocupes, sais à tua avó paterna, também falava assim, nesse jeito clerical.       

      
                                                 6


-Mãe já sou doutor, acabei a faculdade agora vou tirar meia dúzia de mestrados e pós graduações. A seguir vou fazer parte de muitas coisas, vou ser chefe de Comissões, Delegações e tudo isso. Sou pequenino mas vou chegar lá a cima.

-Mas como sabe essas coisas todas, Gasparzinho?

-Não digas a ninguém, mãe, mas foi uma cigana no Jardim da Estrela que me leu a sina.


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-Sabes mãe, o meu coelhinho deve ter ressuscitado, telefonou-me a convidar-me para ministro das finanças. Vou aceitar, toda a vida estudei para a vingança, agora vão ver quem é o caga-tacos e o vózinha de padre!

A maioria dos meus ex-colegas são funcionários públicos estão bem lixados vão pagar pela má-língua. Vou esmifrá-los com baixas de ordenados e impostos. Vão ficar a saber quem eu sou! Vão pagar com língua de palmo e se pensam que os pais os vão ajudar, que tirem o cavalinho da chuva, vou lixar as reformas dos velhos, não há ajuda para ninguém, que imigrem. Malandros!

-O Gasparzinho já está a abusar um bocadinho?

-Não mamã, eu já expliquei aos gajos, não sei se perceberam, pois quando acabei de falar, metade tinha abalado e a outra metade dormia profundamente.

-Mas filho assim, qualquer dia, as pessoas deixam de gostar de ti!

-Cada vez gostam mais, uma loucura total, onde vou estão à minha espera e cantam-me uma tal Grândola Vila Morena, não sabem outra. Gostam muito,  se não fosse a polícia vinham para cima de mim para me abraçar, mas não deixo, não gosto dessas manifestações de carinho.

-Mas filho o povo está queixoso!

-Não tenho culpa, se o Benfica tivesse ganho e se chovesse, todos os dias, seria diferente, mas assim tenho que carregar nos gajos.
Parece que já me estou a ouvir:
-Gaspar mais um roubito para compensar!

Tem que ser assim, não lhe posso chamar impostos senão esta cambada vai para o Tribunal Constitucional e, eles lá, não são muito melhores.

-Sabes uma coisa Gaspar, já começo a estar arrependida de te ter parido!


                                                      8

-Sabes mãe que aqueles cavacos que punhas no lume, também ressuscitaram?

-Não diga asneiras rapaz, aquilo eram cepos!

-E o que pensas que este é ? Mas é um gajo porreiro, nós fazemos tudo e ele fala no Facebook. Mas quem lê essas coisas se tem um BigBrother?
Até eu vejo muitas vezes, ando a estudar uma maneira de cobrar uns impostos, impostos não, umas massas àquela palhaçada.

-Ai Gaspar, estás cada vez pior!     


                                                     9

-Sabes uma coisa mãe, o nosso coelhinho, o que ressuscitou, agora é primeiro-ministro, é um espectáculo como se lembra de mim. Faz o que eu quero e digo. Tem cá um respeitinho!

-Porque não deixas isso e vais para Bruxelas como sonhas?

-Tudo a seu tempo, mãe! Ainda há gajos que respiram, ainda não acabei a minha missão.


                                                    10


-Houve filho de um comboio, a partir de agora não me chame mais mãe, não sou tua mãe! Eu pari um rapaz e não um monstro!

-Houve lá velha, não é assim! Se deixas de ser minha mãe tens que pagar umas taxas, não penses que te safas. Vou mandar aí os fiscais da finanças para cobrar e, não penses que fazes como o Viegas, que mandou os desgraçados a levar no cú.





10 comentários:

Sónia M. disse...

E lá vamos tentando rir, com aquilo que faz chorar...

Resto de uma boa semana.
Com o meu abraço

Sónia

chica disse...

Divertido de ler, não de viver,rs...abraços,chica

SOL da Esteva disse...

Manuel, meu Caro

As verdades, á moda da Revista á Portuguesa, tem mais graça. É uma forma de se dizer tudo nas entrelinhas, nas linhas e fora delas.
A verdade é apenas... VERDADE.
Actual (dolorosamente) e oportuno.



Abraços



SOL

Anónimo disse...

É isso, rir para não chorar...

Beijo.

Smareis disse...

Olá Manoel,
Interessante, mas pra ler, viver é pesado...
Como diz a Parole, é isso, Rir pra não chorar.

Beijos!





Unknown disse...

Esta paneleiragem já me tirou o sono e toda a vontade de rir.
Vão todos levar no traseiro lá para Bruxelas ou para a troika a andar...
São monstros engravatados....

Magia da Inês disse...

╮✿ °•.¸

História terrível!
Bom domingo!
Boa semana!
°º✿♫ Beijinhos.
°º✿

Palavras disse...

Muito bom!

Grande abraço

Leila

Anónimo disse...

Boa noite, Manuel!

Como está?

Claro que li este texto, e mais que uma vez, e a coincidência da história/conto, na minha perspetiva, não é mera, é, antes, total e propositada. Todavia, o Manuel é livre de escrever e dizer aquilo que muito bem entende, sem ofender terceiros ou os seus familiares.

Tanto abanão que o menino Gaspar e o seu grupo tem levado!

O Primeiro Ministro é um ingénuo, e isso vê-se logo pela sua vida particular, que eu não deveria chamar para aqui, mas, sou mulher e...

Vamos vencendo batalha a batalha, e a "guerra" logo se verá.

Falar da mãe de alguém, e sobretudo os homens, e se for em sentido pejorativo, é algo que ninguém gosta. O Manuel não gosta, pois não? Claro que não, porque, aos seus olhos, a sua amada mãe foi, é e será a melhor mãe do mundo.

Quando nós, alentejanos, dizemos: moço dum cab..., fazemo-lo sem sequer pensar que nos estamos a rotular, porque somos puros, bem intencionados e honestos, e as mulheres, em geral, muito decentes e sérias. Temos sentido de estado, diria eu.

Os Árabes, deixaram-nos usos e costumes, por isso, nos tapamos tanto no frio como no calor, ou em lutos profundos, como a morte de um filho/a, onde nunca mais vestimos outra cor, a não ser o preto. Claro que falo, genericamente, mas, se usamos outra cor, o coração mantém-se negro, sem qualquer luminosidade, SEMPRE!

Voltando ao seu conto, digamos que há por aí uns "intelectualóides" (esta palavra não existe, na Língua Portuguesa), que se dizem ou disseram apoiantes do atual governo, mas depois que não foram satisfeitas todas as mordomias, alteraram o tom de voz, e começam a falar como a gente do norte, "carago"!

Fizeram-se os 29 favores, e não os 30, e pronto, lá está o caldo entornado.

Tenha uma feliz noite.

Um beijo da Luz.

Vivian disse...

Ah! Meu amigo...os políticos são uma tristeza...
Fizeste uma analogia da situação que vive Portugal, mas também serve bem para o Brasil...
Beijos!