Joana
estava deslumbrante, as calças de ganga, muito esticadas nas pernas, e o
camiseiro vermelho apertado no peito, punham em evidência os fartos seios. O
cabelo loiro, num estudado desalinho, caia em reflexos dourados nos ombros
descobertos.
Mirou-se pela terceira vez ao espelho, deu uma pequena volta para ver o efeito e, sem modéstia, achou-se linda e, como dizem os rapazes, sentiu-se "boa como o milho".
Ia ter com o André e queria arrasar, queria deixa-lo guloso, arfante como um cãozinho cansado.
Não era por ser o André, filho do dono das Industrias Portofinos, um dos dez mais ricos do país, isso era importante mas havia, também, uma questão de orgulho. O gajo andou sempre embeiçado naquela lambisgóia da Ana e, logo a Ana que não tinha graça nenhuma nem pejo de se enrolar com qualquer um.
Joana não era assim, não quer dizer que rejeitasse um bom enrolanço, mas tinha que ser, ou parecer, difícil.
Hoje era diferente, o André ia inaugurar o Rodopio, não a convidou formalmente, mas deu-lhe um ingresso e, a entender que se ela aparecesse, seria bem-vinda. Para Joana isso era mais de que uma incitação, era um desejo que deixou, no vago, com medo de alguma nega.
Joana estava impaciente, embora ainda fosse cedo mas, tinha por hábito, não sair antes de a mãe chegar. Não devia tardar, a mãe era advogada na firma Perestrelo & Filipa Advogados Associados, e em regra por volta das oito horas estava em casa. Muitas vezes chegava e, depois de jantar, ficava a trabalhar até as tantas.
Ela adorava a, sabia tudo da vida. Ficou viúva tinha, a Joana, 2 anos e soube ser pai e mãe ao mesmo tempo,
Era uma bela mulher, quando saiam juntas, tantas vezes, as confundiram como irmãs. Mas era falta de atenção, não se podia confundir uma senhora de 40 anos com uma miúda de 19, mas as pessoas gostam de dizer coisas e, como elogio à mãe, era justo.
A mãe chegou, um pouco antes das oito, estava linda, tinha arranjado o cabelo e as unhas.
-Então Joana pronta para a galderice?
-Estou doutora Filipa, estou à tua espera, hoje vou a uma festa!
-Aproveita rapariga, eu também vou sair, tenho um evento. Coisa simples!
*****
Estava
uma noite quente, havia muita gente na rua, mas táxi nem um. Foi experimentar
na curva, como estava perto dos restaurantes podia ter mais sorte. Nada e o
tempo a passar, devia ter pedido uma boleia à mãe, mas não teve coragem, ela
chegava cansada e, além do mais, hoje também tinha um compromisso. Já podia ter
tirado a carta, mas depois tinha carta e não tinha carro, ficava na mesma e,
confessa que não tem muita vontade de o fazer, faz-lhe confusão guiar um carro,
é uma trapalhada com os malucos que andam por aí.
Oi...finalmente
um táxi:
-É senhor aqui, táxi, táxi.....oi...!
Nem sequer olhou, sacana, deve estar para recolher.
Quase nove e meia, quando chegar já a festa está no fim, e alguma atrevida já sacou o André. As gajas andavam todas atrás dele e, compreende, é um gato e tem dinheiro.
Se
tivesse ido de transporte já lá estava, quase dava tempo de ir a pé.
Agora é
verdade, um táxi e parou.
Havia pouco transito, graças a Deus!
Dez e um quarto, chegou à porta da nova discoteca, que estava linda!
Néon,
de diversas cores, davam um ar feérico de festa.
O
segurança era enorme mas, com um sorriso, franqueou-lhe a porta.
A sala era imensa, grandes esferas brilhantes, giravam no tecto espalhando pontos de luz, que iam percorrendo os pares que se movimentavam ao som, daquele barulho a que chamavam música.
A sala era imensa, grandes esferas brilhantes, giravam no tecto espalhando pontos de luz, que iam percorrendo os pares que se movimentavam ao som, daquele barulho a que chamavam música.
Tinha que encontrar o André, não iria ser difícil, afinal era o anfitrião.
Olhou em volta, andou entre os pares que, de copo na mão, pulavam ao som de um ritmo da moda.
Nada do André, possivelmente, só lhe ofereceu o convite por cortesia.
Era
isso! O tipo sabe insinuar-se, todas as raparigas o disputam, ele sorri, faz
charme e nada de compromissos. Se podia ter muitas porque deixar enfeudar
apenas por uma?
Este
era o pensamento de Joana, mas o convite pareceu diferente, tinha algo de
esperança.
Foi até ao balcão, pareceu-lhe o mais lógico, e perguntou:
Foi até ao balcão, pareceu-lhe o mais lógico, e perguntou:
-Boa noite!
Sabe dizer onde posso encontrar o senhor André Vilaça?
Combinamos
aqui, eu sou quase a namorada!
O
emprego olhou-a, de uma forma muito profissional, e sem deixar de abanar o misturador,
limitou-se a uma resposta muito simples:
-O
senhor André, está no gabinete, no primeiro andar, com uma senhora que não é,
pelo menos parece, quase namorada!
Joana sentiu um rubor, as pernas fraquejaram um pouco, mas disfarçou o suficiente para agradecer e confundir-se, entre os pares, que freneticamente continuavam num baloiçar ao som do barulho.
Foi ao fundo da sala e olhou para as escadas de acesso ao piso superior, mas calculou que o segurança seria um obstáculo.
Joana sentiu um rubor, as pernas fraquejaram um pouco, mas disfarçou o suficiente para agradecer e confundir-se, entre os pares, que freneticamente continuavam num baloiçar ao som do barulho.
Foi ao fundo da sala e olhou para as escadas de acesso ao piso superior, mas calculou que o segurança seria um obstáculo.
Ia experimentar.
Aproximou-se de forma muito subtil e, com a voz mais doce possível pediu:
-Posso subir ao gabinete do André? Sabe! O senhor não me conhece mas eu sou a namorada e queria fazer uma surpresa!
O homem
não perdeu a postura e, com a voz mais calma possível, retorquiu:
-Desculpe
menina mas não a posso deixar subir, além disso, não seria ele a ter a
surpresa! Quando está com a doutora Filipa não gosta que o incomodem!
-Doutora
Filipa? Qual? A advogada?
O
segurança, apenas, resmungou:
-O que
ela é não sei, não me pagam para saber o que as pessoas são!