quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Cupido






Por regra apenas publico, no Blogue, trabalhos meus mas, por vezes, tenho que fazer uma exceção.
Este pequeno conto, real, foi escrito há muitos anos por um seguidor, que por ter perdido a visão foi obrigado a deixar.
Não podia dizer que não e, mesmo, considerando que o texto necessita de ser revisto, mesma nível de pontuação, vou publicar.
Tem uma ilustração.
 Fica assim!.


















E sentarem-se juntos, no mesmo banco, ouvindo música que não entendiam.

O rapaz olhou aquele Ser diferente de perfil. Ele sentiu, nas entranhas, coisas difíceis de explicar.

A respiração aumentou. O coração batia-lhe forte. As palmas das mãos ficaram suadas e água cresceu-lhe na boca.

Teve até a impressão que os cabelos da sua cabeça ficaram de pé! Porque sentiu o boné bailar.

Mas o rapaz não lhe tocou.

 Porque quando se sente desta maneira. Uma pessoa não toca. Não mexe.

Adora-se. Contempla-se.

Ele ficou fascinado com tão grande descoberta.

O Outro que era Outra era o seu oposto.



O rapaz todo eufórico., contou aos da casa onde vivia, o que se tinha passado lá no banco do jardim, enquanto a charanga tocava Música.

A mulher, onde ele morava emprestado, e que às vezes não era Gentil, disse-lhe: "Badameco o que é tu pensas e sabes dessas coisas?!" 'Dessas coisas'.

Ele ficou sabendo mais tarde, que significavam coisas do Amor.



O miúdo, que era pequeno, não sabia explicar tão grande atração. Só algum tempo depois veio a saber que a Natureza para ser Natureza precisa sempre dos dois.

E que em outras culturas são chamados: Yang e Yin.



Passados alguns anos.

O rapaz, agora jovem, todo faceiro. Foi ao baile do Clube. Ela estava  lá . Agora ainda mais Bonita Dançaram . Sentiu o calor da sua aproximação. O moço ganhou coragem. Disse-lhe que ia para terras de Santa Cruz. E que voltava dentro de cinco anos para se juntarem. Ao dizer isto ele estremeceu, sentindo a mesma Vibração que havia sentido,  lá naquele rústico banco.



Partiu cheio de vida por dentro e por fora, para às terras de Vera Cruz.

Lá nas suas andanças em terras de  Pau brasil. Ele nunca A esqueceu e muito menos toda aquela Vibração, quando sentado, ao lado dela. Olhando-a de perfil naquele banco tosco do jardim.

Trocaram-se algumas cartas simples, sem promessas.



Voltou como tinha dito. Mal desembarcou. Perguntou como está H...?! Disseram-lhe: Ela tinha casado.



Depois de alguns anos de ter  andado à deriva. Foi parar às terras onde o Sol se não se põe à meia-noite.



O homem agora velho, com olhos gastos, nas suas caminhadas pelos   verdes bosques, em terras de Sigurdo. Ele ainda espera encontrar a Outra parte do seu Ser. Porque o homem só fica inteiro. Quando integrado com o seu Oposto.



João Cardoso

ilustração: Ana Ferreira






16 comentários:

CÉU disse...

Penso que já aconteceu publicar um conto de um amigo ou conhecido seu, por incapacidade física deste.

Pois, compreendo-o, perfeitamente, mas quem espera, por vezes, desespera. Uma outra virá preenche-lo e enchê-lo de alegria.

Bom resto de semana.

Gina G disse...

Um texto sentido e um gesto muito bonito. O seu. Beijinhos.

Ricardo Santos disse...

Ao ler o teu texto lembrei-me d’ O namoro

Palavras soltas disse...

Um conto triste, mas o amor, muitas vezes, não resiste a distância.
Gostei muito, Manuel, como sempre.

Beijinhos aos dois.

redonda disse...

Que pena ela não ter esperado por ele.

Blog da Gigi disse...

Abençoado final de semana!!!! Abraços

Helena disse...

Existem amores assim, iniciados quando ainda nem se sabe como defini-los, que nem sempre se prolongam pela vida a fora. Em geral chegam apenas à adolescência, mas se uma separação mais prolongada se faz necessária, muitas vezes a distância não consegue sustentar o sentimento. Quando apenas um dos envolvidos se mantém fiel à lembrança, ocorre uma mágoa, um sofrimento que se torna eterno caso o amor sentido não tenha se concretizado. Trata-se apenas de um sonho vivido por um, pois a outra parte muitas vezes sofre as pressões sociais que alertam para as incertezas e acaba sendo subjugada a não esperar que o tempo concretize o sonho, partindo em busca de realizações mais efetivas. Acredito que o amor necessite da presença, do cultivo, do cuidar de um pelo outro, caso contrário o tempo mesmo se encarrega de desfazer esperanças e sonhos.
De toda a postagem, meu amigo, fica a tua generosidade em atender um amigo nessa intenção de que tivesse o conto publicado de alguma forma. Belo gesto o teu!
Um beijo e os votos de um final de semana de alegrias e realizações,
Helena

Sinval Santos da Silveira disse...

Oi, Manuel !
O texto é lindo, e até comovente,
frente à frustração.
O fundo musical dá o tempero
emocional. Um fraterno abraço,
aqui do Brasil.
Sinval.

CÉU disse...

Só agora reparei no título da publicação. Bonito, simples, mas apropriado e com muita imaginação.
Cupido tem ou tinha cá uma pontaria!
Agradeço nova visita sua e comentário. Deixei no meu blogue resposta às suas palavras.
Bom fim de semana, que parece vai ser de chuva.

São disse...

Fez muito bem em publicar, caro amigo.

Bom domingo

Unknown disse...

As coisas que tu guardas amigo
Esta história é comovente.
Porque teria ela deixado arrefecer o amor?
Leis da natureza:
- Longe da vista longe do coração!

SOL da Esteva disse...

Entendo que as preciosidades devam ser partilhadas; fizeste bem em partilhar.
A vida é feita de acontecimento surpreendentes. Realidade ou ficção, Conta as "dores de Amor" que perpassam por cada um de nós.

Abraços
SOL

Bloguinho da Zizi disse...

Quando os sentimentos são verdadeiros nem mesmo a falta de pontuação atrapalha.

Tua generosidade mostra quem és!

Gratidão

Rose Sousa disse...

Não podemos deixar passar a oportunidade de um grande amor...
Maravilhoso Emanuel!

Anónimo disse...

Manelamigo

Afinal um conto com um final infeliz. Algum dia havia de acontecer. Sabes, Manelamigo, que nestes dias já não se escrevem cartas de amor; claro que sabe-lo tu e o Mário Zambujal...

Afinal a ida ao Brasil e a vota são um déjá vu do Cabral. Só que sem Pêro Andrade Caminha...

Uma vez mais um bravo!!! para o Autor - que és tu Manelamigo

Abç do Leãozão

Helena disse...

Enquanto não trazes nova postagem para nos encantar o olhar, vou deixando beijos no teu coração aguardando tua volta.