terça-feira, 7 de agosto de 2007

Olhos Negros

Olhos negros……

Estavam ao meu lado os olhos mais negros que jamais me tinham fitado.

Corpo esguio, cabelos desgrenhados pela sujidade acumulada, rosto magro e vincado pelos infortúnios do dia a dia.

Não tinha mais que oito anos mas parecia arrastar em si a decadência de uma geração.

Mirava-me do fundo daqueles fundos lagos de escuridão com uma súplica nos lábios gretados. Na mão estendida a caixa de pensos rápidos, no rosto a tristeza vincada por muitos medos que um sorriso triste não conseguía disfarçar.

Olhei fascinado para o mundo de tristeza e desespero que aquele olhar deixava aperceber.

A custo uma cansada voz, deixou o pedido:

-Compre senhor!

Fiquei fascinado pelo sumido grito de desespero, pela súplica do apelo.

Os olhos negros, profundos, presos na montra dos doces e a mão estendida com a súplica na voz entoavam no mundo vazio que me rodeava.

-Queres um bolo? Perguntei para quebrar o drama de uma vida e disfarçar a vergonha

que de mim se apoderou.

Estendeu um magro dedo e apontou.

Agarrou e com um sorriso cinzento arrastou o corpo esquálido para o Sol que lá fora, continuava a brilhar.

Deixei o donutt, larguei o café e sai envergonhado por andar indiferente ou não querer ver os dramas escondidos à vista de todos.

Sem comentários: