quarta-feira, 25 de junho de 2008

A Missão






Ao meu cunhado Zé, protagonista desta história que aconteceu e que,
tal como eu, acredita na natureza.
(Manuel)



Era uma quarta-feira de Verão intenso. O Sol em todo o seu esplendor envolvia tudo e todos em ondas de calor. As aves estavam escondidas nas folhagens e apenas os insectos se atreviam, maçadoramente, a importunar as pessoas.
Zé, passou o pulso pela testa na tentativa de suster o suor que teimosamente lhe escorria para os olhos, enquanto com a pequena enxada ajeitava a terra junto aos caules das árvores ressequidas pelo calor.
De repente a quietude da tarde foi quebrada pelo ruído de um voo de ave que teimosamente enfrentava a canícula e que em pequenos círculos parecia pedir a benção de um gole de água que lhe desse as forças que lhe iam faltando.
Enlevado no encanto do voo e percebendo o drama, Zé, procurou a mangueira e mostrou o jorro de água na tentativa de despertar a atenção do pobre pombo.
A medo foi-se aproximando, escondendo todo o receio no desejo de saciar a sedo que há tanto o atormentava.
Era o drama do desejo e a impotência de mostrar que apenas a queria ajudar. Dum lado o perceber que a resistência do animal estava esgotada do outro o medo do homem que sempre a perseguia. A vontade suplantou tudo e o pombo desceu, avidamente bebeu a seiva que lentamente sentia fugir. Sorveu a água de forma intensa e sentiu, novamente, a vida a percorrer-lhe o corpo. Os grãos de arroz, que entretanto, o nosso amigo lhe atirou serviram para recompor o cansaço
que a invadia.
Voou para um ramo de um pinheiro, fechou os olhos e num sono reparador recarregou toda a energia que o ultimo voo lhe tinha roubado.
Quem sabe, até, se não sonhou!
Acordou, estendeu a asa num espreguiçar de prazer. Olhou em volta, contemplou o seu salvador com a certeza que nem todos os homens eram iguais.
Levantou voo, tinha que ir, mas também tinha vontade de ficar. Andou as voltas como se tivesse duvidas; como se estivesse em luta entre o dever e o desejo.
Era um pombo-correio, tinha uma missão.
Num risco de asa acenou um adeus, num arrulhar deixou um:
-Obrigado amigo.
Subiu e desapareceu no horizonte.