sexta-feira, 24 de abril de 2009

E amanhã...já lá vão 35 anos....



Como me lembro daquela madrugada em que o telefone me atirou para a rua.
Foi um raiar diferente, foi um andar de braço dado na expectativa do que vinha a seguir.
Foi um desfraldar de bandeiras e um gritar das vozes que há tanto estavam oprimidas.
Foi uma festa, uma euforia, um apregoar de reivindicações loucas, impensáveis, fruto de quem viveu sempre no desconhecimento da democracia.
Foi o esquecer de que a liberdade de cada um, começa onde acaba a dos outros.
Foi o atropelo louco, o lançar dos “ismos” até então desconhecidos de muitos.
Foi um empurrar de ideias, de tentar impor as nossas à dos outros.
Andei perdido, como muitos outros, na loucura de plenários, reuniões de trabalhadores.
Fui Delegado Sindical, Membro da Comissão de Trabalhadores.
Militei em Partido Politico, mentor e fundador de uma Secção desse Partido, membro da Comissão Instaladora, responsável pelo Órgão Informativo. Fiz bancas e organizei festas para angariação de fundos.
Fui convidado para Presidente de uma Junta de Freguesia e para candidato a uma Autarquia.
Recusei, tal como recusei também quando, de forma subtil, me tentaram censurar o boletim informativo.
Bati com a porta, tive que mostrar aos “aviaristas” que não estava ali por acaso.
Eu tinha um passado, eu tinha uma história de luta contra o conformismo e as mordaças.
Eu aguentei, como muitos outros, a cargas policiais aquando das manifestações do General Sem Medo.
Estive no Congresso Democrático de Aveiro e distribui as suas conclusões, enquanto os oportunistas de 26 de Abril estavam comodamente no aconchego do lar.
Não me foi necessário deixar crescer a barba, pois dentro de mim estavam todos os ideais porque sempre lutara.


Um meu grande e querido amigo escreveu, há anos, um livro sobre o “25 de Abril explicado ás crianças” e brindou-me com um exemplar.
Tinha uma mensagem singela “ao Manuel que nos disse que o 25 de Abril estava na rua.
Nada me podia saber melhor, porque esse homem foi quem me ensinou os ideais da democracia e me mostrou que a liberdade se pode conquistar.
A ele o meu muito obrigado.
Voltava a trilhar, ao seu lado, os mesmos caminhos.
Obrigado A.P.


4 comentários:

Filipa M. disse...

Ora ora... Tanta novidade num só texto!

Gostei do que li!

Manuel disse...

São pequenos retalhos de uma vida muito preenchida.

Unknown disse...

Bom é eu ter um Amigo que viveu isto assim!
Tenho muito orgulho em si!
E se se candidatar eu voto em si! Incondicionalmente!

[tb acho que a barba não o faria mais bonito...;o)]

Manuel disse...

Não o fiz quando podia, não o vou fazer no Outono da vida.Acredito que teria o seu voto, assim como terá o meu quando dele necessitar.
Para isso servem os amigos.