sexta-feira, 5 de junho de 2009

Calimero......



Avançava para mim de uma forma lasciva. Os bicos dos peitos, rosados, apontados como dois dardos às carícias das minhas mãos, os lábios carnudos quais duas cerejas maduras, pareciam, prontos a serem devorados pelos meus, sequiosos e sedentos das promessas que se adivinhavam.
Era o encantamento total, o êxtase, a loucura, o vibrar de toda a magia que o momento iria proporcionar.
De repente um estridente, trrriiimmmmmmmmmmmmm..., matou o encanto.
O despertador acabou com o sonho, o feitiço desapareceu e a gaja foi com ele.
O dia começava mal, um bom sonho quebrado por este traste velho que todas as manhãs, de forma mecânica, me tira do descanso para a luta diária.
Como sou muito metódico deixo, á noite, tudo preparado para que o despertar não seja tão doloroso.
Está tudo a jeito. O café é só ligar a máquina e o pão é só colocar na torradeira..
Tudo se vai arranjando enquanto faço a barba. Tarefa diária. Suplício masculino.
Porra! Já me cortei, lá tenho que estancar o sangue com algodão e água oxigenada.
Cheira a queimado. Meu Deus as torradas.
Não tenho tempo, é raspar e aproveitar o possível.
Raios, sujei a camisa de café. Tudo me acontece, tenho que vestir outra.
Começo a ficar atrasado. Toca correr escadas baixo. A porcaria do elevador está sempre fora de serviço. Um dia tenho que reclamar.
Só me faltava mais esta. Mal ponho os pés no passeio piso merda de cão. Malditos donos, que raio! Porcos!
É raspar na borda do passeio e esfregar na relva. Que cheiro horrível para começar o dia não está nada mau!
Oh...pá, isto é demais! Esqueci as chaves do carro, não podia deixar de ser, as da casa estão juntas. Que azar o meu!
Resta-me correr para a camioneta. E eu que nem sei os horários. Seja o que Deus quiser.
Tenho sorte não está ninguém na paragem.
Meia hora depois lá vem ela, dengosa, velha, pintada de laranja.
Só duas pessoas na camioneta? Que se passa? Não acredito, oiço dizer tanto mal e afinal não é bem assim.
Vai um negro, auscultadores no ouvido, balouçando a cabeça ao ritmo da música. Uma senhora de mais idade, deixa duas agulhas bailarem nas mãos, entrelaçando, de forma ritmada, as linhas numa renda que vai nascendo.
A viagem é fastidiosa e sinto todos os solavancos, de uns amortecedores velhos e cansados a marcarem a minha coluna.
Finalmente a chegada e a corrida para a estação do metro.
Deve estar apinhada como de costume. Já me imagino apertado entre as mamas gordas de uma matrona e o cheiro do sovaco de um cabo-verdiano.
Estou a imaginar o meu chefe, o Senhor Lopes, com um ar de beato em dia de quaresma, a resmungar por este atraso.
Eu não tenho culpa, afinal EU sou o Qualimero desta desgraça.
Que é isto? Estação vazia e uma carruagem, quase, só para mim. Esta malta anda sempre a dizer mal de tudo e, afinal os transportes não são assim tão maus. É mesmo só vontade de falar.
Vou chegar a horas e ainda vou ter tempo para um cafezito antes de enfrentar a fera.
-Bom dia, uma bica faz favor.
-Para já. Hoje por aqui?
-Como todos os dias, qual a admiração?
-É que aos feriados não é costume!
Acabou de me cair o Mundo na cabeça. Vejam lá a sorte de um homem.



Sou ou não sou um Calimero?

3 comentários:

Unknown disse...

Tem a certeza que não era 6ª feira 13?? ehehehe

Filipa M. disse...

ahahahahahahah

Genial... Não sei se a história é verídica mas sem os contratempos já me aconteceu ir trabalhar a um sábado... :)))

Manuel disse...

Espero que nunca a ninguém tenha acontecido algo igual.