quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Por vezes, sim....



-Tio. Tu tens medo do escuro?

Resposta difícil a uma questão tão simples.
Dizer que não, é mentir. Dizer que sim, é alimentar uma lenda de “cocas” e “papões” que não tem razão de existir.

-Não querida. Porque havia de ter medo do escuro? O escuro não existe, o escuro é só porque a luz está apagada.

Mas a verdade é que muitas vezes tenho medo do escuro. Quantas noites, eu, fico perscrutando os indetermináveis sons que a minha imaginação alberga.

-Sabes amor, é natural que quando não vemos as coisas fiquemos com receios. Mas medo não devemos ter.

Tantas vezes, sinto que algo se move no meu medo. Oiço as vozes do meu desassossego.

-Mas tio todos os meninos e meninas tem medo!

Todos os meninos e tantos adultos. Nós dizemos que não, mas há algo que nos atemoriza. O escuro é como o desconhecido e, só os mais intrépidos se aventuram nessa descoberta.

-Tio agora que estás ao pé de mim, podes apagar a luz que eu não tenho medo.

-E eu ao pé de ti também não. Dorme descansada!

Fico absorto no enlevo do sono tranquilo.
Os meus medos ficam para depois, para quando a solidão se alberga dentro de mim.



1 comentário:

Luz disse...

O medo..., sempre o eterno medo que nos tolhe, que nos priva de sermos nós, de nos fazermos a nós, de decidirmos, de caminharmos, de ser livres..., eu não tenho medo ou, tenho aquele que todos temos de perder aqueles que amamos, da doença, de um acidente, uma catástrofe, mas o que eu quero mesmo é não ter medo e, pior ainda, não quero medo de ter medo..., esse é ainda o maior medo...

Mais um belo texto e, com um sentido que vai além de nós...

Obrigada Manuel por estes momentos.
Beijinho de Luz