segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
O cão da minha vizinha.
Por vezes confundimos a realidade com a ficção ou, então, ficamos na dúvida.
Eu tenho uma vizinha que parece ter sido tirada de um conto de Charles Dickens.
Mas cada um é como o criador o fez e esta não pode estar muito agradecida ao artista.
Mas isto é só um aparte, pois o que verdadeiramente interessa é o cão.
Sim… ela tem um rafeiro, lindo, ladino e, mesmo sem ter pedrigree, tem uma certa linhagem, não fica nada a dever a muitos animais que as senhoras exibem, pavoneadas, nas passadeiras das exposições.
Este cão é especial e quando me vê, parece que se apercebe de como eu gosto dele, abana o rabo, salta-me às pernas e late com alegria pedindo festas e mais festas.
Mas a Dona Perpétua, assim se chama a dona, logo se encarrega de o levar a puxões de trela.
Raios partam a velha! Fico mesmo frustrado, pois o animal mostra grande carência de mimos e, não imagino aquela saca de banhas desengonçadas a acarinhar o pobre bicho.
Até para se ser cão é preciso sorte!
Ontem estava eu sentado nos degraus da minha escadas, na porta de entrada, facto estranho, pois não me lembro de alguma vez ter feito tal coisa, mas a nossa cabeça às vezes leva-nos a realidades que nem lembram ao diabo.
Como dizia, estava sentado no degrau e apareceu o Manjerico, que nome arranjou para o pobre animal.
Saltou na minha frente e com uma voz bem timbrada disse-me:
-Então, estás sentado no chão como os cães?
Fiquei banzado. Um cão a falar, estou a ficar maluco, senil, ginja? Algo de anormal se passa comigo.
Não pode ser…os cães ladram, não falam!
Mas o Manjerico com um ar trocista insistiu:
-Pensavas que os cães não falavam? Mas falamos e se alguma vez lestes o La Fontaine já o devias saber.
-Mas, balbuciei, nunca ouvi um cão falar, nem conheço quem tenha ouvido. Só nos desenhos animados e isso é ficção.
-Pois, nunca prestaram atenção, é o grande mal dos humanos. Já a minha dona nunca me ouve. Leva-me 10 minutos de manhã à rua e anda à pressa para eu me despachar. Depois deixa-me fechado em casa até que volta ao almoço e lá vou mais dez minutos. Não chega, precisamos de mais, temos que cheirar para saber quem passou antes de nós.
-Mas, disse eu, todos os cães falam ou tu és um caso isolado?
-Achas que eu sou um caso isolado? És mesmo humano. Cão é só para companhia, não serve para se escutar! Os cães falam todos, vocês são limitados e não têm capacidade para nos compreenderem.
-Devo estar a ficar pirado!
-Não está não!
Agora tenho que ir embora porque a minha dona que é uma megera, mas gosto dela, está a chegar e eu não quero que me ouça a falar.
Fiquei banzado, um cão que fala e logo comigo.
Não sei o que dizer, eu… sentado no degrau a falar com um cão! Ao que o mundo chegou!
Tenho que ir ao médico, cão não fala e se estou a ouvir então o caso é já desesperado.
Que barulho é este? Ah... é o despertador.
Pela primeira vez gostei de te ouvir.
Porra… que alivio, pensei que me tinha passado dos pirolitos. Que pesadelo!
Agora tenho um dilema, sempre que vejo o bicho parece que ele me olha de uma forma trocista.
Será?
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5 comentários:
Manuel
Adorei a história...fez-me rir.
Gostei muito.
Beijinhos
Sonhadora
Um bom ano de 2010 para ti Manuel!
Olha não aprovei o teu comentário porque tinha lá o teu mail. Qualquer dia recebes notícias minhas!
Desculpa o silêncio!
Beijinhos
Vim aqui agradecer todas as palavras bonitas com que me presenteou.
Gosto de aqui estar de vez em quando.
Um abraço de bom Ano
Ná... É a tua imaginação a trabalhar... Assim como no sonho. ;)
Um mui feliz 2010
Beijos
Manuel,
Esta história fez-me sorrir, rir a bom rir e, quase consegui imaginar o Manuel a "viver" este momento de humor que, não deve ter sido agradável, mas quando acordou tudo ficou claro, pior é agora encarar o pequeno cão da vizinha :)
Gostei de mais uma das suas histórias e continue sempre assim!
Bjnhs de Luz
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