sexta-feira, 12 de março de 2010
Mudar de vida
Vestiu-se quase mecanicamente, movimentos simples e automáticos.
O pensamento bailava na sua cabeça, irreal, sem nexo.
Catadupas de ideias acotovelavam-se num tropel de confusão e irrealismos.
Sempre fora covarde, ou melhor, sempre fora um homem simples e comedido que fugia às confusões para poder viver em paz.
Em criança foi o bombo na escola, todos lhe batiam e ele fugia, dizia, não por medo mas porque não queria alimentar guerras, pois sabia que atrás de violência mais violência viria.
Andou na vida de forma calma e comedida, sem atropelos, quase despercebido.
Cumpriu, sempre, todas as regras sem nunca perguntar: - porque ou para que?
Agora tinha chegado ao limite, não podia mais.
Estava farto de sorrir, de dizer sim.
Estava cansado de ser atropelado e ultrapassado. Não queria mais ser pisado e vexado.
Tentou reagir mas ninguém o levou a sério.
Gritou que estava farto, mas todos se riram.
Hoje estava calmo embora confuso.
Olhou-se ao espelho e a imagem que se reflectia era diferente da habitual,havia nos olhos um ódio que nunca tinha sabido, uma firmeza que desconhecia, uma determinação que estranhava.
Abotoou o caso e confirmou que tinha a arma bem segura no bolso.
Suspirou como se, hoje, fosse o princípio de um mudar de rumo.
Quando entrou no gabinete do chefe já sabia que daqui para diante tudo seria diferente.
Ouviu-se um tiro seco seguido de um baque.
Depois fez-se o silêncio.
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1 comentário:
Olá,
entrei para conhecer o seu blog e fui ficando.
Seus textos são ótimos. Admiro muito que consegue escrever o que sente.
Até parece que já te conheço.
Bjs.
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