terça-feira, 11 de junho de 2013

A partida






Há muitos dias que a ideia lhe bailava na cabeça,  era um pouco estranha mas era uma ideia que ia crescendo. Primeiro surgiu quase por acaso, foi um pensamento subtil, quase tímido mas cresceu e agora fazia parte do seu quotidiano.

Tentava pensar numa solução e, por mais voltas que desse à cabeça, não lobrigada uma maneira de se libertar. Por vezes até parecia gostar da situação, tal o amorfismo e um certo deixa andar, como se o tempo, que tudo resolve, pudesse vir em seu auxílio.

De repente, foi como se uma luz se tivesse acendido no seu cérebro, um fogacho e a ideia instalou-se como uma lapa. Primeiro devagarinho, para ganhar espaço, depois grudou de tal forma que parecia fazer parte da própria cabeça.

****

Ao princípio não se importou muito, pareceu-lhe quase natural mas, com o decorrer do tempo, uma certa estranheza foi-se instalando, não era normal, depois de um namoro romântico, de palavras doces sussurradas em surdina, veio um casamento que parecia abençoado.
Depois esta violência. Primeiro eram as palavras ladradas em frases cruéis, a ausência dos carinhos, depois os sopapos que doíam mais na alma que no corpo.

A alegria morreu no medo da companhia, antes tão desejada.

As noites eram pesadelos sofridos nos bafos de vinho ordinário, numa entrega, ausente, de corpo massacrado num uso de afecto forçada.

Depois os interregnos, curtos, muito curtos, de arrependimentos que morriam no saciar dos desejos.

Não queria mais nódoas negras, nem cremes para as disfarçar, não queria mais desculpas para esconder o que todos já sabiam.

Ia perder o medo, afinal já tinha morrido há tanto tempo que se morresse, mais uma vez, não ia notar, mesmo nada.

*****

Pensou em tantas coisas que já estava baralhada, imaginou acabar com a raça do gajo ou cortar-lhe, algo, com a tesoura de podar. Havia riscos, se lhe acabasse com a existência ia presa, se lhe cortasse, aquilo, corria o risco de ele acordar e então, havia um cadáver mas não seria o dele.

Estava confusa, no fundo ainda sentia algo por ele, não sabia bem o quê, mas sentia.

*****

De verdade, ainda gostava dele.
Talvez as coisas pudessem mudar.
Mais uma oportunidade. Afinal, ele, não era assim!





8 comentários:

chica disse...

rs...Gostei das possibilidades todas, das dúvidas dela,rs Cortar ou não? Matar?rs Muito legal o final! abração,chica

JP disse...

A violência doméstica é outro dos problemas prementes atuais e que urge resolver....

Há o medo, a vergonha e, porque não dizê-lo, até amor que impedem as denúncias.

Nova oportunidade? cada um julga à sua maneira....

Abraço

http://odeclinardosonhos.blogspot.com disse...

Este é de facto um problema muito sério e que infelizmente na maior parte dos casos ainda é falado pelas vitimas em surdina pela vergonha que sentem...
Eu no meu blog já fiz um post sobre este tema, pois se há coisas que me repugnam esta é sem dúvida uma delas...
Parabéns pelo tema!
bjs
anacosta

Laços e Rendas de Nós disse...


Nova oportunidade, Manuel?

Mas a mente humana enrodilha-se toda nestes casos.

Beijo

Laura

Anónimo disse...

Quantos homens e mulheres, por aí, vivendo estas tristes realidades.

Uns/umas acomodam-se, para sempre, outros/as fazem uma "revolução".

Resto de dia feliz.

Beijos da Luz.

AFRICA EM POESIA disse...

Com um beijinho vim matar saudades..

África



África...
Linda...
Imensa...
E mágica...
África dos Leões...
Dos elefantes...
Das girafas...
E do salalé...
Do muito...
E do pouco,,,
Da magia,,,
Da vida...
Do amor...
E da saudade...
África...
É tudo isto...
África...
É a imensidão...
Do ir... Do amar...
E do querer... Voltar!...

LILI LARANJO

Vivian disse...

Nossa...tocaste num ponto crítico!! Há tantas mulheres assim...passam a vida acreditando que um dia (que nunca chega...) as coisas mudam. Quem bate uma vez, bate uma segunda,uma terceira....

É triste...e não consigo entender.
Sou uma rebelde!rs Jamais me conformo!E vi tanto isso quando pequena que jurei que jamais me sujeitaria a um relacionamento que não reinasse o amor e o respeito mútuo! Não aceitaria nada menos!

Beijos, meu amigo!!!!
Estou na correria de final de semestre! Passou voando!

Anónimo disse...

É por dar mais "uma" chance que muitas acabam mortas... Muito triste, mas como sempre resultando numa leitura deliciosa.

Beijo, querido.