Tentou
abrir os olhos mas, a dor aguda que o percorria, apenas lhe deixou entrar uma
confusão de luzes, barulhos e sons que não conseguia compreender. Havia uma
espiral de claridades azul, girândola que lhe atravessava as pálpebras
cerradas.
Queria falar
mas as palavras ficavam perdidas num emaranhado de confusão, que não sabia
explicar.
Não
sentia o corpo, estava leve, num levitar doce e tranquilo.
Viu o
pai, chamava-o de joelhos na areia molhada da praia. Correu para os braços,
fortes, que abraçaram com amor o seu corpo ainda tão frágil.
Era tão
criança a correr, atrás da bola que o pai atirou para longe. Correu molhando os
pés na água que se espraiava na areia.
Ao
longe a mãe sorria.
Viu-se
a receber o canudo da formatura, a mãe tinha os olhos molhados das lágrimas, de
satisfação, pelo seu menino. A Laura, estava ao lado e, sorria com
tanto amor, que lhe apetecia deixar a formatura e correr para os seus braços e,
beijá-la com todo o amor que sentia.
Lembrou
o dia do casamento, sentiu-se ridículo naquele trajo de cerimónia. A Laura
estava deslumbrante, tão radiosa.
Sentiu-se
a levitar, numa doçura e, numa tranquilidade como nunca sentira antes.
Era uma
música diferente, sons que nunca antes escutara, uma harmonia, que o embalava
como se flutuasse num mar de pétalas perfumadas.
A luz
avançava devagar, num salomónico de luzes suaves, que o levavam enleado em
reflexos de rostos que conhecia mas de que se não lembrava.
Depois………...
foi o silêncio.
***********************************
Jornal
Correio da Manhã do dia 24 de Dezembro.
Mais um
grave acidente ceifou uma vida na flor da idade e deixou outra em estado muito
grave.
João
Gomes, um jovem de 23 anos, quando chegou ao Hospital já era cadáver, a sua
esposa Laura Gomes está em observação com prognóstico muito reservado.
Segundo
testemunhas do acidente, pode ter sido o excesso de velocidade e o estado do
piso, devido ao mau tempo, os causadores do grave despiste que originou mais
uma tragédia na véspera do Natal.
As autoridades pensam que............
18 comentários:
Agora recuei à história de uma amiga minha. Perdeu o pai num acidente de automóvel quando ainda nem tinha nascido, a mãe estava grávida e sobreviveu. Tinham mais ou menos essa idade. Eu também estou a caminho dos 23 e senti um arrepio imediato, pode tudo estar a correr bem, mas de um momento para o outro tudo pode terminar.
É com textos assim que reflito sobre a vida e penso que realmente temos que aproveitar todos os dias como se fossem os últimos.
Beijinhos
Puxa, que lindo, triste, emocionante! Já de volta, curti bastante o filhão que já chegou bem na Inglaterra, abração,chica
Relatos reais do que se vai passando/acontecendo diariamente nas nossas estradas.
Existem casos em que não sobrevive ninguém... a vida é cruel...
Meu amigo, também ninguém devia de perder a vida na flor da idade. Com este texto o meu jardim ficou orvalhado. Infelizmente há tantos acidentes e a nossa juventude se vai sem dar por isso. Obrigado por regar o meu jardim que teima em secar. Beijos com carinho
A vida tem esses ciclos....essas curvas. Umas mais perigosas, outras nem tanto.....no fim sobrevive sempre o silêncio.
Abraço
Uau. Sempre me surpreendo quando venho aqui ler um conto seu.
O som do piano acompanhado com a leitura, proporciona uma harmonia incrível.
Dizem que quando estamos perto da morte, podemos nos lembrar dos momentos mais intensos que vivemos. Acho que foi isso o que pude perceber, lembrou-se dos momentos que mais lhe marcaram, com a família, a esposa, na formatura. Como um flashback de recordações antes que tudo tenha um fim, se é que tem, vai saber.
Enfim, encantador como sempre, Parabéns pelo texto!
Beijos!
Devo andar deprimida, Manuel, porque, ultimamente, me dá sempre um nó no coração...
Beijo
Laura
Olá Manuel,
Depois de um tempinho ausente cá estou de volta.
A vida tem essas passagens, deixa marcas, e como deixa!
Beijos e ótima semana!
Vim rapidinho responder: É porque tua criança ainda está dentro de ti. Isso é lindo e nunca nos podemos perder dela,né? abração,chica
Olá, estimado Manuel!
24 de Dezembro do ano passado? Pura invenção, ou associação de ideias?
Mais um texto de dor, de perda.
Nem sei o que lhe hei de dizer.
Aguardemos, então o parecer das autoridades.
Beijos da Luz, com amizade.
Manelamigo
Acabo de postar uma resposta lá na nossa Travessa que aqui transcrevo:
Desculpa o mau jeito, mas isto incha, desincha e passa, como dizem os militares. Tá tudo inspilicado.
Estou a preparar ambos os dois... personagens principais numa ida ao Brásiu pra investigar um caso fdp, ou seja e por extenso filho da pauta, ops,puta.
Alias, já comecei a escrever a primeira parte, pois o conto alarga-se e tem segunda. Penso assim, aumentar o çuspêçório, digo, o suspense...
Depois verás...
Abç
Henrique
______
NB - a ideia do livro com os contos do ORA AGORA, VIRA, já se alojou no cristalino bestunto. Sequência seguinte: Procurar uma editora: Editora que pague: A tempo e horas...
Plize, uóte simes iu abaute dis aidia? Tel mi,oançe more, plize.
Manuel, meu Amigo
Contos, assim relatados, misturam-se na realidade com tal veemência,que, sem querermos, acabamos por nos afundar neles os no que deles emana.
Parabéns, Amigo.
Gostei, particularmente deste.
Abraços
SOL
O pior é que a cada dia que passa essa é uma realidade cada vez mais constante nas nossas estradas...
Gostei bastante Manuel!!!!
bjs
anacosta
Olá boa tarde !!!
Um conto muito bem colocado
eu gostei muito parabéns...
Abraços de bom final de semana
Bjuss
Rita!!!!!
(¯`v´¯)
`·. ¸.·´
☻/
/▌
¸.•°❤❤⊱彡
Isso me entristeceu... porque é isso mesmo que acontecesse todos os dias.
Bom fim de semana!
Beijinhos do Brasil°º✿♫
°º✿
º° ✿♥ ♫° ·.
¸.•°✿✿⊱彡
E ai vida é assim meu caro Manuel um intervalo entre o ir e o partir,a morte é uma das poucas certezas que temos na vida.E ela pode vir assim tão inesperadamente e nos levar sem aviso prévio por isso devemos viver intensamente cada minuto que temos.
Um forte abraço.
Manelamigo
Estória magnífica como todas as outras e sempre fazes (e sabes fazer). Pela minha parte, façarei mais coisas na nossa Travessa. Este propósito não serve de desculpa para o não vir cá há algum tempo.
Mas isto não quer dizer que te tenha abandonado - muito longe disso!
Abç
Henrique
Olá, Manuel!!
Que saudades meu amigo!!!!
E que belo conto!!!De uma beleza poética ímpar!!!Comoveu-me profundamente!
Beijos! Meu carinho e admiração sempre!
Enviar um comentário