domingo, 19 de janeiro de 2014

Vitoriana










Ia tão apressada que se eu não fosse tão listo, o telemóvel tinha-me voado, das mãos, com o encontrão.

Virei-me com vontade, nem sei bem de que, mas o sorriso e aquele ar angelical deixou-me sem coragem para refilar.

Era tão doce e aquele:

-Desculpa tá! Tão açucarado, foi suficiente para quebrar toda a minha vontade, apenas me saiu:

-Desculpo com uma condição, vem beber um café comigo!

Deu uma gargalhada, saracoteou aquele rabo que parecia esculpido, por um qualquer Miguel Ângelo e desapareceu na confusão, dos embrulhos das compras de Natal.

Eu, ainda, tinha coisas a comprar, este ano, deixei para o fim algumas das prendas do Natal, é o costume, tenho que me habituar a fazer as coisas a tempo e horas.

Faltava alguma coisa para a minha mana Alzira, uma Nitendo para o meu sobrinho André, foi o que ele me pediu, o difícil era encontrar, parece que todos os miúdos se lembraram do mesmo. 

Para a minha afilhada Margarida, era fácil, um envelope um cartão e umas notas, foi o que me pediu:

-Padrinho não me compre nada, no Natal dá-me uma nota para eu juntar para comprar um IPad!

Pedido é pedido, vou fazer isso!

Para a Alzira, gostava de uma camisola, igual à da moça que tropeçou comigo. Era diferente, mas onde vou agora encontrar uma camisola assim?

Estou farto, ando há duas horas num entra e sai de lojas e apenas consegui a Nitendo, para o André, camisola nem sei por onde começar, acho que vou desistir e ofereço um cheque brinde para ela escolher à vontade. Não gosto desta solução mas o que hei-de fazer?

Que se passa? Meu dia de sorte! No meio de uma dúzia de sacos lobriguei a menina do encontrão.

Que borracho, meu Deus! O Pai Natal bem podia deixar uma igual no meu sapatinho.

Que bom, reparou em mim e brindou-me com um rasgado sorriso antes de me dizer:

-Oi que bom que o encontro, agora aceito o tal cafezinho, preciso mesmo descansar as pernas.

-Com muito gosto! Respondi. Vamos, é no piso de cima!

Ia à minha frente, saltitando numas botas de saltos de sete centímetros, calças muito justas que deixavam antever uma coxas firmes e um traseiro que fazia corar um santo.

Procuramos uma mesa vaga, largamos os embrulhos numa cadeira e repousamos o cansaço das pernas.

-Que quer para beber, ou comer para ir buscar? Perguntei

-Você vai pégar? Disse de forma açucarada.

Tentei imitar, sem muito jeito:

-Vou pégar mesmo, com muito gosto!

Estava agradável a conversa, ela, Vitoriana era um autêntico furacão.  Nasceu em Porto Alegre, filha de um português e de uma brasileira, aos 8 anos foi com os pais para o Rio. Quando o pai morreu tinha, ela, 16 anos a mãe regressou a Portugal onde voltou a casar. Ficou a viver com os avós, podia estar com o mãe e o padrasto mas prefere estar com os avós, está mais à vontade!
Acabou o curso, de Relações Internacionais, e sonha com uma carreira diplomática.
Mas, interrompi:
-Qual é o teu nome?
-Oi, nome difícil mesmo! Sou Vitoriana! Papai queria um rapaz, um Vítor, mamãe queria menina que seria Ana, mamãe ganhou mesmo, mas acertaram os nomes e fiquei com os dois.

-Sabe, disse Vitoriana, não sei porque estou falando para você tudo isto! As vezes pareço um pouco boba.

-Não, respondi, fez bem falar e eu adorei ouvir e agora quero uma ajuda sua. Pode ser?

-Ai parou! Depende do que quer cobrar. Respondeu com uma saudável gargalhada.

-Pouca coisa, respondi, só quero que me ajudes a comprar, para a minha mana, uma camisola como a tua, coisas para mulheres não tenho muito jeito.

-Só isso? Perguntou, não é demais pelo café e o docinho! Anda, vamos, eu sei onde encontrar!

Levou-me ao piso superior, seguiu o corredor até ao meio, entrou numa loja que eu nem conhecia, mexeu no expositor e mostrou-me uma camisola quase igual á que tinha vestida e perguntou.

-Tá bem esta? Agora é só escolher a cor!

Era mesmo o que procurava, a empregada sugeriu verde-tília, dizia que era a cor da moda. O tamanho, eu sabia, era o 36. Paguei e pedi um embrulho para oferta.

Enquanto a empregada tratava da embalagem, procurei a Vitoriana. Devia estar no corredor!

Não estava, corri o centro comercial, olhei em todas as lojas, subi e desci escadas rolantes, olhei para tudo o que era lado, nada da Vitoriana.

Não há dúvida, escafedeu-se, mesmo.

Nunca mais a vi mas, juro, sonho com ela.

Por isso é que eu não gosto do Natal!
 






18 comentários:

Projeto de Deus 👏 disse...

Oi amigo Manoel!

Sempre deixas esse mistério no ar em seus contos.
Onde será que Vitoriana foi parar?
Seria ela fruto da imaginação, nesse caso vc se colocou como
"O Protagonista " então seria fruto da sua imaginação?

Mas a magia do natal se fez presente literalmente, né mesmo?

Sou fá das suas historia, de verdade!

Bjos nesse grande coração!

chica disse...

mUITO LEGAL TEU CONTO E ESSA vITORIANA, DE pORTO aLEGRE( CIDADE ONDE MORO) ACREDITEI QUE IA TE DAR UM GOLPE E PEGAR OS PACOTES PRA ELA.mAS FOI DIFERENTE O TEU FINAL...gOSTEI! ABRAÇÃO PRAIANO,CHICA

Gina G disse...

Bem, assim é difícil gostar do Natal, lá isso é verdade...
Estive a ver (e principalmente ouvir) o vídeo, há mais de 20 anos que não ouvia esta canção. Cantei-a quase toda sob o olhar algo espantado da minha filha. ;)

Anónimo disse...

Oi, "quirido"!

Você pegava isso e muito mais, né, "Manuelzinho"?

Saltos de 7cm, bumbum bem gostoso. Nossa!

E que o Natal não demore muito não, tá?

"Amo você, viu?".

Beijussssssssssssss.

Olá, Manuel!

Como o seu texto é "pura invenção", esperemos que o personagem da sua história já tenha tido um "caso" semelhante com uma brasileira, assim, como a Vitoriana. Ó que vitória (o que é doce, nunca amargou)!

Boa semana.

JP disse...

Perder um rabo esculpido por um qualquer Miguel Ãngelo, no meio das compras, não é mesmo a melhor coisa que se pode ter no Natal...compreendo muito bem eheheh


Abraço

São disse...

rrssss rrrsss

Muito bem contado e com um termo que eu uso muito, mas raramente ouço /vejo "escafedeu-se"

Bons sonhos

Janita disse...

Eheheh Ó Manuel, este Natal, decididamente não deve ter tido o mesmo sabor.
Quando é assim, tem que se estar com um olho no burro e o outro no cigano!:)

Tem piada que o meu neto mais novo também pediu um 'envelope' para ajudar na compra do iPad.
E também recebi uma camisola, mas sem ninguém a perder Vitorianas...foi oferta da filhota!
Bom, espere pela Páscoa, quem sabe ela reaparece?:)

Um abraço compungido!:)

Janita

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

delícia de texto.

e o final bem esgalhado.

gostei muito.

boa semana.

beijo

:)

Laços e Rendas de Nós disse...


Estes seus textos fazem-me dar uma daquelas gargalhadas sádias!

Beijinho

(talvez para o ano volte encontrar alguém... que não desapareça.)))

Unknown disse...

Pois então...rabo de saia sempre sobrou né amigo?
Grande imaginação e muito àvontade na escrita...
Quanto ao resto, vai continuando a sonhar...é bom...

Anónimo disse...

É claro que ela sumiu, Manuel... Não sei nem como vc não levou uns tabefes por olhar assim para a bunda dela!!! rs [Não acredito que escrevi isso!!!] rs

Adorei o conto, querido.Como sempre.

Beijinhos.

SOL da Esteva disse...

De expectativa em expectativa, um magnífico final.
De um modo ou de outro, sou, quase sempre,levado durante as leituras dos teus textos, a uma espécie de "adivinhação" que... raramente acerto.
Assim, torna-se mais imprevisível e ineressante.
Parabéns, Amigo.

Abraços


SOL

Ritinha disse...

Gostoso quando lemos algo que nos faz prender a atenção e o mais legal foi o final...
ADOREI!!!
bjs
Bom final de semana
Ritinha

Unknown disse...

rsrsr só rindo mesmo, e vc sempre postando coisas agradavéis gostei viu alegra bem a gente


Abraços de bom final de semana

*✿¸.◦*´`✿*Rita!!

Flor de Lótus disse...

Oi,Manoel!Então a Vitoriana é de Porto Alegre,sou apaixonada por aquela cidade.tu sempre nos surpreendendo com teus finais.Eu se fosse ele também não ia gostar muito de natal,rs.
Beijosss

Flor de Lótus disse...

Oi,Manoel!Então a Vitoriana é de Porto Alegre,sou apaixonada por aquela cidade.tu sempre nos surpreendendo com teus finais.Eu se fosse ele também não ia gostar muito de natal,rs.
Beijosss

Evanir disse...

Mais uma semana chega o fim
a última do mês de Janeiro
de 2014.
Hoje já acostumados com o novo ano
novos planos novos sonhos
vivemos numa esperança continua em
busca da felicidade .
Quanto a mim minha felicidade
é ter saúde e poder estar sempre contigo.
Nesse ano teremos a Copa Do Mundo,
que já faz a diferença nesse sofrido Pais.
Eu desejo que tudo de certo
que realmente o Brasil
desempenhe um bom papel.
Que seja campeão para acolher
e ter tudo para oferecer.
Para mim tudo que vale é a alegria
ser campeão só se pode sonhar.
Que Deus abençoe seu final de
semana beijos escondidos no seu coração.
Carinhosamente ,Evanir.

rosa-branca disse...

Olá amigo Manuel, vá lá aprenda lá a gostar do Natal com ou sem Vitoriana.
Adorei meu amigo e como sempre fico surpreendida com o final que quase nunca acerto. Beijos com carinho