Foi um
cruzar de olhares daqueles que apenas acontecem uma vez na vida, intenso,
provocador e com uma enorme promessa de desejos.
Ele parou e ficou na expectativa, ela seguiu, olhando para trás, com um sorriso de desafio.
Ele parou e ficou na expectativa, ela seguiu, olhando para trás, com um sorriso de desafio.
O bambolear do traseiro, os cabelos soltos ao vento, a gaiatice do sorriso e aquele olhar de desafio deixou Ernesto confuso, ficou indeciso.
A mente, em segundos, trabalhou intensamente.
A cabeça contrariava a vontade, mas o desejo era mais forte e foi a
vontade que venceu.
Foi aumentando os passos, ela já tinha virado a esquina da rua, um pouco
envergonhado deu uma corrida e dobrou, também a esquina, mas a rapariga parecia
ter-se evaporado.
Era estranho, só havia uma pequena loja de venda de artigos religiosos, depois
um muro alto com um portão ao fundo. Não tinha tempo de ter chegado ao portão,
na loja só um senhor, já de idade, olhava para uns papéis.
Perguntou:
-Desculpe, senhor, não entrou aqui, agora, uma amiga minha?
Olhou-o, quase, com indiferença mas foi dizendo:
-Há dias, que aqui, eu sou o único que entra. Isto está mau. Será que foi ao cemitério? Mas não as estas horas, olhou para o relógio, já está fechado!
-Qual cemitério? Não conheço nenhum aqui.
Deu uma gargalha rouca antes de responder:
-É aqui o meu vizinho do lado, sem ele o meu negócio já tinha acabado.
Saiu disparado, o velhote tinha razão, ao lado era o cemitério, foi até ao portão, estava fechado. Espreitou por uma fresta e lá estavam as campas alinhadas. Voltou as costas e jura que ouviu uma gargalhada, que lhe percorreu o corpo como um arrepio.
Depois falou para ele mesmo:
-Não pode ser, não devo ter ouvido nada, foi aquela sensação de insegurança que faz ouvir coisas. Gargalhada? Sou mesmo parvo!
A noite não foi fácil, no sonho a rapariga ia à frente, olhava-o com um sorriso cheio de promessas, ele acelerava o passo, mais e mais, mas a distancia não se alterava, depois desaparecia num novelo de fumo e apenas ficava a gargalhada, a mesma gargalhada.
Acordou a tremer, transpirado e com a sensação de não estar só. Acendeu a luz e olhou medroso e envergonhado, o quarto estava normal.
Sou mesmo parvo, pensou, era apenas um sonho.
-Desculpe, senhor, não entrou aqui, agora, uma amiga minha?
Olhou-o, quase, com indiferença mas foi dizendo:
-Há dias, que aqui, eu sou o único que entra. Isto está mau. Será que foi ao cemitério? Mas não as estas horas, olhou para o relógio, já está fechado!
-Qual cemitério? Não conheço nenhum aqui.
Deu uma gargalha rouca antes de responder:
-É aqui o meu vizinho do lado, sem ele o meu negócio já tinha acabado.
Saiu disparado, o velhote tinha razão, ao lado era o cemitério, foi até ao portão, estava fechado. Espreitou por uma fresta e lá estavam as campas alinhadas. Voltou as costas e jura que ouviu uma gargalhada, que lhe percorreu o corpo como um arrepio.
Depois falou para ele mesmo:
-Não pode ser, não devo ter ouvido nada, foi aquela sensação de insegurança que faz ouvir coisas. Gargalhada? Sou mesmo parvo!
A noite não foi fácil, no sonho a rapariga ia à frente, olhava-o com um sorriso cheio de promessas, ele acelerava o passo, mais e mais, mas a distancia não se alterava, depois desaparecia num novelo de fumo e apenas ficava a gargalhada, a mesma gargalhada.
Acordou a tremer, transpirado e com a sensação de não estar só. Acendeu a luz e olhou medroso e envergonhado, o quarto estava normal.
Sou mesmo parvo, pensou, era apenas um sonho.
Apagou a luz mas ficou com a convicção que não era assim tão tonto, um
"frufru" percorreu o escuro e um cheiro adocicado a jasmim invadiu o
espaço.
Acendeu a luz e o pouco que dormiu foi com toda a claridade.
Levantou-se e quase não se reconheceu ao espelho, macilento e com umas olheiras de zumbi, mas pouco importava estava decidido, hoje, agora mesmo, ia ao cemitério. Não ia resolver, se calhar nada, mas deixava de cismar em coisas que lhe tiravam o sono e lhe abalavam a tranquilidade.
A loja estava no mesmo sítio mas o velhote não. Entrou, mais por curiosidade e perguntou ao moço que estava ao balcão:
-Será possível falar com o outro senhor que costuma estar aqui?
O rapaz pareceu surpreendido, esboçou um sorriso antes de responder:
-Só posso ser eu, estou aqui há dois anos, desde que o meu avô faleceu!
Estava a perder a paciência, quase gritou:
-Mas como? Ainda ontem estive aqui e falei com um senhor de idade, magro e um pouco careca. Tinha uma bata azul escura, uns óculos de vidros cortados e olhou-me por cima das lentes.
-Se tirou o dia para gozar comigo perdeu o seu tempo, respondeu o rapaz. Esse, de que o senhor fala, era o meu avô, morreu em Julho de 2011. Pode ir espreitar, aqui mesmo ao lado a campa 387, tem até uma foto. Não se importa deixa-me trabalhar porque não tenho tempo para brincadeiras! Nem paciência!
Saiu, irritado, a caminho do cemitério, ia ver todas as campas, uma a uma, principalmente as que tinham fotos.
Levantou-se e quase não se reconheceu ao espelho, macilento e com umas olheiras de zumbi, mas pouco importava estava decidido, hoje, agora mesmo, ia ao cemitério. Não ia resolver, se calhar nada, mas deixava de cismar em coisas que lhe tiravam o sono e lhe abalavam a tranquilidade.
A loja estava no mesmo sítio mas o velhote não. Entrou, mais por curiosidade e perguntou ao moço que estava ao balcão:
-Será possível falar com o outro senhor que costuma estar aqui?
O rapaz pareceu surpreendido, esboçou um sorriso antes de responder:
-Só posso ser eu, estou aqui há dois anos, desde que o meu avô faleceu!
Estava a perder a paciência, quase gritou:
-Mas como? Ainda ontem estive aqui e falei com um senhor de idade, magro e um pouco careca. Tinha uma bata azul escura, uns óculos de vidros cortados e olhou-me por cima das lentes.
-Se tirou o dia para gozar comigo perdeu o seu tempo, respondeu o rapaz. Esse, de que o senhor fala, era o meu avô, morreu em Julho de 2011. Pode ir espreitar, aqui mesmo ao lado a campa 387, tem até uma foto. Não se importa deixa-me trabalhar porque não tenho tempo para brincadeiras! Nem paciência!
Saiu, irritado, a caminho do cemitério, ia ver todas as campas, uma a uma, principalmente as que tinham fotos.
Pela
primeira vez na vida, entrou com medo, medo estranho que se impregnava nos
ossos e parecia tolher o raciocínio.
Havia muito poucas pessoas, duas ou três mulheres compondo as jarras das flores, em gestos mecânicos, movimentos muito suaves como se tivessem receio de perturbar os descansos.
Havia muito poucas pessoas, duas ou três mulheres compondo as jarras das flores, em gestos mecânicos, movimentos muito suaves como se tivessem receio de perturbar os descansos.
A campa
387, ficava mesmo ao fundo da álea, estava bem tratada, pedra mármore negra,
uma imagem de um anjo, uma placa com duas datas e, ao centro, uma foto
esmaltada. Não havia duvida era o velhote que viu, jurava que viu, na loja da
esquina.
Seguiu todas as campas, principalmente com fotos, tinha a esperança, já agora, de encontrar a da menina do olhar provocador. Andou nesta pesquisa tempo de mais, pois quando olhou já tinham fechado o cemitério, não deu por nada.
Começou a ficar em pânico, o vento que sussurrava nas copas dos ciprestes pareciam gargalhadas, em todos os lados adivinhava movimentos, mas era apenas o pavor que se havia apoderado de si.
O muro era demasiado alto, bateu no portão com todas as suas forças, mas era difícil, pois a rua, além da loja, só tinha campo abandonado, ninguém se atrevia a construir em frente a um cemitério.
Tinha que saltar o portão, tarefa difícil, era alto e encimado por uma espécie de lanças bicudas.
Tentou pular o máximo, com as pernas e os braços bem estendidos, mas faltava muito.
Olhou ao redor, mas não via nada que pudesse servir de base. Tentou mais algumas vezes, quanto mais tentava maior era o cansaço e menor o alcance.
Pensou em arrancar uma jarra mas isso seria profanação.
Teve medo, não fazia.
A noite começava a cair, olhava à volta e imaginava sombras.
No desespero viu uma tábua encostada à casa dos lavabos.
Empinou-a ao portão e trepou o possível, tentou passar o corpo mas a tábua não aguentou e caiu no momento que o corpo passava as lanças que encimavam o portão.
O resto é previsível.
A noite começava a cair, olhava à volta e imaginava sombras.
No desespero viu uma tábua encostada à casa dos lavabos.
Empinou-a ao portão e trepou o possível, tentou passar o corpo mas a tábua não aguentou e caiu no momento que o corpo passava as lanças que encimavam o portão.
O resto é previsível.
******
O velho
da loja e a moça do sorriso gaiato, tinham completado a sua missão, ninguém os
podia ver e agora já podiam descansar em paz.
Foi feito justiça, estes, nunca mais violariam ninguém.
15 comentários:
Nooooooooossa, aplaudindo tua inventividade e inspiração! Adorei e meio macabro, meio hilário, sempre legal! abração,chica
Quanto mistério... Gostei muito, Manuel.
Sabe, eu aprecio o seu blogue (ou a maneira como escreve) porque eu nunca saberei escrever assim, inventar histórias e isso, então: admiro quem o faz.
Beijinhos
Como sempre, fiquei presa à leitura.
Até os arrepios eu senti.
Que final!!!!!
Enfim... agora todos descansam.
Manuel, sempre bom ler tuas histórias.
Gratidão
Beijinhos
Olá, Manuel!
E que mistério!
Bem, a rapariga e o velhote morreram, ou melhor, já tinham morrido, então, ele falou com almas penadas, aparecidas, como se diz, no Alentejo. E ele morreu, também? Quando escreve: "o resto e previsível, eu deduzi isso. Será?
Bom fim semana.
Beijos da Luz.
PS: não tenho novidades literárias, no meu blogue.
Oi,Manoel!Nossa medo em cada linha, aff bem macabro esse texto,Aff.
Beijosss
✿⊱°•
História escabrosa, mas eu espera um outro final.
°º。♪♫Bom fim de semana!°。♪♬
Beijinhos✿♫° ·.
Brasil⊱°•
Que inventivo!
Bom serão, rrss
Lúcia Bezerra de Paiva deixou um novo comentário na sua mensagem "Mistério":
Fez lembrar-me as histórias do gênero que a família -a minha - ouvia junto ao rádio - ainda não havia tv , pelos anos 1950 - e tinha o nome de Assombração. Esta sua, teria grande audiência, como tem aqui, Manuel. Muito bom, ler seus criativos escritos!
Beijo,
da Lúcia
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Publicada por Lúcia Bezerra de Paiva em navoltadotempo a 16 de Março de 2014 às 20:24
um fim completamente imprevisível, e misterioso.
um conto de assombração.
tens talento.
:)
Olá, Manuel!
Eis, um belo argumento para um filme de suspense.
Por sinal eu gosto bastante de ver filmes de mistério e algum terror psicológico! Tipo "O Exorcista" "Góttica", etc!:))
O Manuel tem muito talento para criar esse clima arrepiante de estórias do Além!!
Um beijo.
Cruzes, meu amigo!!!
Um conto arrepiante!!!
Muito bom!!
Beijos e meu carinho!
Que tudo esteja bem por aí!
A cada Conto produzido, Manuel, mais me espanta tanta imaginação;
faz sentido e torna mais apreciado cada fecho de história.
Parabéns, Amigo.
Abraços
SOL
Deu até medo, mas é porque a história é muito boa.:)
Beijinho, Manuel.
Estou retribuindo a gentil visita ao Misturação, onde és bem vindo.
Agora vou dar uma "volta no tempo".
rs
Olá amigo Manuel, mais uma história cheia de mistério,mas esta é de parar a respiração. Adorei. Beijos com carinho
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