terça-feira, 18 de agosto de 2015

Uma Vida


Um amigo, ex-seguidor do meu Blogue, por perca de visão teve que se afastar da Blogosfera, tem grande dificuldade em ler ou escrever, só em negrito em formato muito grande.

Para conseguir escrever este pequeno texto necessitou de 3 semanas.

Emigrou ainda criança, correu alguns países e está, neste final da etapa, na Suécia.

Vou publicar esta pequena autobiografia, com autorização do autor, como homenagem a um homem que lutou e acredita num Portugal melhor.

Qualquer erro é fruto das dificuldades da falta da visão.













Heróis do mar, nobre povo,

Nação valente, imortal,

Levantai hoje de novo

O esplendor de Portugal!

Entre as brumas da memória,

Ó Pátria sente-se a voz

Dos teus egrégios avós,

Que há-de guiar-te à vitória!


Às armas, às armas!

Sobre a terra, sobre o mar,

Às armas, às armas!

Pela Pátria lutar

Contra os canhões marchar, marchar!



A Portuguesa


Aí pelas 5 da madrugada o rapaz é acordado, pelo som da Banda da Música. Subindo a ladeira do Arrabalde tocando uma música que lhe era desconhecida. Ouve um grande vozerio. O moço, que era pequeno mas bem curioso. Veste-se à pressa e vem à porta da rua. Vê subindo a Rua Luiz de Camões a Banda seguida de grande multidão, de archotes acesos. Cantando: 

Heróis do mar, nobre povo,

Nação valente, imortal...


Ele junta-se ao cortejo e pergunta. Qual o motivo de tão grande algazarra?!

Dizem-lhe que é a celebração de se terem livrado do jugo Castelhano.

Como a melodia era bonita o moço tenta aprender a cantar a letra que era bem bonita. Mas não entendia o significado de todas as palavras. Pergunta a um dos figurantes do cortejo. O que queria dizer a palavra Imortal. Disseram-lhe que nunca se morre.

O garoto ficou contente por dentro e disse para consigo: Ena pá, nunca se morre! Vou ser iguala Deus! Lá na catequese dizem que Deus nunca morre!”


A Charanga depois de ter percorrendo as principais rua da Vila regressa a Sede a qual estava no antigo Cinema.

Celebra-se o grande evento; com os adultos comendo figos passados acompanhados de aguardente. O rapaz come apenas uma broa de milho doce.

Como a manhã está um pouco fria. Acende-se uma fogueira rodeada dos principais figurantes do cortejo.

Em volta da fogueira o rapaz escuta historias sobre esta Nação Valente Imortal ...

Dizia um: “Afonso Henriques era homem valente; com a sua espada bem pesada e afilada derrotou em Ourique[1] cinco Reis Mouros”.

Um outro fazia lembrar: "Não te esqueças do nosso pai Viriato, do qual herdamos o nome de Lusitanos, que foi um valentaço ao derrotar os Romanos lá nos Montes Herminios!"

À medida que a fogueira ia morrendo; as histórias iam se enfraquecendo também. Pôs-se mais algumas cavacas no borralho e a labareda voltou e com ela retomava-se a contar feitos do povo Valente que derrota os Castelhanos em Aljubarrota. Um dos participantes da fogueira comenta: “Aquela padeira foi uma valentaça. Com a pá do forno mata três Castelhanos!” Um outro acrescenta: “Três não. Foram mais!” Mas não disse o número. Um outro, que devia ser bem infundado em História Portuguesa. Diz: vocês estão a esquecer o Valentão do Condestável Alves Pereira! Que duma virada, matou sei is Castelhanos. E na batalha de Valverde, nem sei quantos! No final da sua vida. Cansado de matar Espanhóis, virou Santo.

Do grupo um homem bem vestido. Talvez perito em navegação. Conta toda a Epopeia de Vasco da Gama, tintim-tintm por tintim-tintm. Desde do Restelo até à costa da India.

Por uns minutos faz-se grande silêncio, ouvindo-se apenas o estalar das brasas vivas.


O silêncio é quebrado por una voz ressonante mais sabida: “No futuro, segundo as trovas do Bandarra, vamos ser uma Grande Nação e que com a volta do Desejado, às vezes chamado, Encoberto. Iremos ser o Quinto Império[3]”.


Em 1975, até chegou a pensar que tinha chegado a hora. O povo “Valente” cantou: O Povo unido nunca será vencido”. Mas foi Sol de pouca dura. Com a formação dos partidos o Povo se desuniu Como nunca tinha ocorrido na sua História.

O slogan que se cantou. Se diluiu nas brumas do esquecimento. Sendo apenas palavras sem conteúdo e sem sentido.


O moço sonhador agora velho com os olhos gastos. Vê de longe o que se passa; no Jardim à beira Mar plantado.

Que uma corja de gatunos e charlatões invadiu o Jardim.


Em homenagem e à memória dos Verdadeiros Heróis.

Que os que governam o País. Ou mudam o texto da Portuguesa ou então mudam de atitude!



Um outro fazia lembrar: “Não te esqueças do nosso Pai Viriato[2], do qual herdamos o nome de Lusitanos, que foi um valentaço ao derrotar os Romanos lá nos Montes Hermínios!”


À medida que a fogueira ia morrendo; as histórias iam se enfraquecendo também. Pôs-se mais algumas cavacas no borralho e a labareda voltou e com ela retomava-se a contar feitos do povo Valente que derrota os Castelhanos em Aljubarrota. Um dos participantes da fogueira comenta: “Aquela padeira foi uma valentaça. Com a pá do forno mata três Castelhanos!” Um outro acrescenta: “Três não. Foram mais!” Mas não disse o número. Um outro, que devia ser bem infundado em História Portuguesa. Diz: vocês estão a esquecer o Valentão do Condestável Alves Pereira! Que duma virada, matou sei is Castelhanos. E na batalha de Valverde, nem sei quantos! No final da sua vida. Cansado de matar Espanhóis, virou Santo.

Do grupo um homem bem vestido. Talvez perito em navegação. Conta toda a Epopeia de Vasco da Gama, tintim-tintm por tintim-tintm. Desde do Restelo até à costa da Índia.


Por uns minutos faz-se grande silêncio, ouvindo-se apenas o estalar das brasas vivas.

O silêncio é quebrado por una voz ressonante mais sabida: “No futuro, segundo as trovas do Bandarra, vamos ser uma Grande Nação e que com a volta do Desejado, às vezes chamado, Encoberto. Iremos ser o Quinto Império[3]”.

 O moço que era pequeno e não era educado em letras. Desta vez não entendeu nada de todo aquele palavreado. A não ser as palavras: Quinto Império


A fogueira se extinguia. Cada um recolheu a sua casa para gozar o feriado do 1º de Dezembro.

O garoto também voltou para casa eufórico por todas as maravilhosas e grandiosas histórias, que tinha ouvido sobre o Povo Valente Português. Foi dormir o resto da manhã sonhando com o Quinto Império...


Aos 13 anos, não de livre vontade, foi obrigado a deixar a Vila. Andando à deriva por alguns anos. Visto que s que tinham obrigação de o acolher não o quiseram em suas casas.


Aos 18 anos de idade emigra paras as Terras de Vera Cruz. Começou a estudar. Ali a História era outra. Abriu os olhos. E viu que lá na sua terra natal, lhe tinham lavado o cérebro, com lendas e outras trafulhices históricas.

 Depois de alguns anos de estadia. Deixa as terras do Pau-brasil. Vai percorrer Mundo. Vivendo em terras estranhas mas civilizadas.


Já homem, veio morar para a terra onde o Sol não se põe à meia-noite.

Durante muitos anos ele nunca esqueceu a história do Quinto Império. Que tinha ouvido quando era criança.


Em 1975, até chegou a pensar que tinha chegado a hora. O povo “Valente” cantou: O Povo unido nunca será vencido”. Mas foi Sol de pouca dura. Com a formação dos partidos o Povo se  desuniu Como nunca tinha ocorrido na sua História.

O slogan que se cantou . Se diluiu nas brumas do esquecimento. Sendo apenas palavras sem conteúdo e sem sentido.


O moço sonhador agora velho com os olhos gastos. Vê de longe o que se passa; no  Jardim à beira Mar plantado.

Que uma corja de gatunos e charlatões invadiu o Jardim.


Em homenagem e à memória  dos Verdadeiros Heróis.

Que os que governam o País. Ou mudam o texto da Portuguesa ou então mudam de atitude!




João Caridoso

Örebro-Suécia

2015 07 24







[1] Segundo o historiador Alexandre Herculano na sua História de Portugal. Nunca se localizou, geograficamente Ourique. A batalha é uma lenda. Ao tempo o Condado Portucalense de superfície muito reduzida. Não comportaria seis exércitos como consta a lenda.
Assim como Afonso Henriques nunca teve qualquer Exército.
[2] Uma léria do Romantismo. Querendo fazer Viriato nosso “Pai”. À região, da qual faziam orate os Montes Hermínios, foi dado o nome de Lusitânia. Muito de pois do assassinato de Viriato.
[3] Apenas uma bobagem esta história. É de lamentar que o nosso grande Poeta Fernando Pessoa; em seu livro Mensagem 82-84. A maior artimanha poética que já se escreveu  em Portugal.  Creia nesta besteira do Quinto Império.
 [1] Apenas uma bobagem esta história. É de lamentar que o nosso grande Poeta Fernando Pessoa; em seu livro Mensagem 82-84. A maior artimanha poética que já se escreveu  em Portugal.  Creia nesta besteira do Quinto Império

14 comentários:

SOL da Esteva disse...

Concordo com o teor dos sonhos e lendas que enobreciam Povos e lhes davam algo em que valia acreditar.
A Portuguesa, ou Hino Nacional, quantos sabem o que diz? É vulgar "ver-se" em Cerimónias representativas, gente a abrir e fechar a boca como se entoassem o Hino; o grave é serem de entidades que representam a Pátria (qual Pátria?).
O João Caridoso e tu mesmo, Manuel, prestais uma grande Homenagem aos verdadeiros Patriotas, que ainda existem, porque ainda restam alguns.
Quem dera, também, que, nas escolas, ainda se aprendesse a cantar o HINO NACIONAL.
Obrigado, João Caridoso. Obrigado, Manuel, por dares caminho a tão grandes Mensagens.

Abraços

SOL

chica disse...

Bela homenagem a esse amigo lutador! Valeu! abraços aos dois! chica

CÉU disse...

O conceito de Pátria não deveria ter mudado, embora eu até possa admitir e entender novas performances, pke o mundo e as ideias não são estáticas, tal como o Idioma, a Língua, ou melhor, a Pátria será sempre a Pátria, agora, os "patriotas" é que não sabem o que é sentir e pulsar pela Pátria.

O João, seu amigo, e embora viva no "paraíso" não esquece o k de menos bom aconteceu por cá, mas a Suécia não tem uma História assim tão certinha e tão imaculada, como a maioria pensa, só que souberam fazer as "coisas" de outra maneira e as nossas origens são bem diferentes, pra melhor, digo-lhe, sem me armar em pavoa, apenas baseando-me em factos históricos.

O seu amigo percorreu, através da escrita, a História de Portugal, ao mesmo tempo k ia contando a dele, k também foi vasta e com algumas atribulações, julgo eu, mas os portugueses, sempre, foram aventureiros e estão espalhados pelos cinco cantos do mundo.

Nas escolas primárias e por incentivo do Governo de Portugal, canta-se o Hino Nacional, sim senhor, e até se ensina o autor da letra e da música. As crianças são aconselhadas a colocarem a mão no peito, no lado esquerdo, portanto no coração, e para k isso não seja entendido como reacionarismo (há cada ideia mais estúpida!) fala-se das atitudes no futebol, onde as pessoas, k assistem aos jogos ao vivo, sobretudo da seleção, colocam a mão no peito, também. Assim, esta moçada entende melhor.

A letra e a música da Portuguesa estão perfeitas, e sempre atuais, pke se hipoteticamente Portugal fosse invadido por outros povos, ah, decerto, k todos pegaríamos em armas na terra, no ar e no mar e faríamos bem melhor k a Padeira de Aljubarrota.

Boa semana, Manuel!

Unknown disse...

A vida é um presente que nos corre nas veias. Deu-nos beleza e juventude.
Mais tarde deu-nos desejos e sonhos.
Finalmente oferece-nos paz nas limitações que nos povoam os dias.

Unidos cantamos juntos o sonho de um país para todos.

Bell disse...

Gostei da homenagem e do carinho =)

Maria Luisa Adães disse...

Manuel

Interessante e muito, o que nos apresenta!

Sempre achei que o Hino de Portugal, (desde miúda), era aguerrido e só falava em armas que matavam e nada resolviam.
Seguindo esse hino, "Contra os canhões/ Marchar, marchar"...

Sempre achei, que em relação à evolução do mundo pretendida por mim, seria sempre uma apologia à Morte e não à Vida!

Sou portuguesa, amo Portugal, mas discordo deste hino que só fala de morte!
Sei que tantos feitos e batalhas, não correspondem ao real e Fernando Pessoa na "Mensagem", celebra situações que merecem esquecimento.
Ele próprio, louvava a África do Sul e o apartheid, pois nunca foi um poeta social e era um racista de primeira - sabia? Muitos não sabem, mas eu sei! Vivia num mundo só dele, muito dele e era a favor do terror racista, que criou o Holocausto e manteve o apartheid, tanto tempo quanto possível e ele - Fernando Pessoa - concordava e amava! O padrasto era da
Diplomacia e estiveram muito tempo na África do Sul e também em Londres!

Quem diria que o maior poeta, da primeira metade do século XX, seria o que digo...mas era, tal como digo!

Seus textos me trazem sempre à lembrança, tanta coisa de que discordava e encontro nesses textos a minha filosofia de amor, tal como Sócrates condenado à morte! Não se pode ser diferente do comum...Ainda não!...

Parabéns amigo
E louvo seus Textos e sua Amizade!

Com toda a minha ternura,
os meus agradecimentos

Maria luísa Adães

os7degraus

ania disse...

Encantada e muito emocionada, li e reli o magnífico e muito bem construido texto...Parabenizo o autor Sr. João Caridoso pela sensibilidade e talento, assim como, parabenizo, vc Manuel, por compartilhar conosco obra tão bela! um grande abraço, ania..

Janita disse...

Esta Nação Valente já foi a Pátria de grandes vultos, homens de garra que deram novos mundos ao Mundo. Passámos de invasores a invadidos e não sei mais se algum dia poderemos dizer que marcharemos contra os canhões, porque agora o inimigo é outro e as armas também.
Lamento muito o drama do seu amigo e felicito-o Manuel, por trazer até nós este belo texto fruto do sentimento intenso de um Português nobre e valente, mas não, imortal, porque da lei da morte poucos foram os que se libertaram.

Obrigada e um abraço.

Janita

Mirtes Stolze. disse...

Olá Manuel.
Hoje passando rapidamente para lhe desejar um feliz final de semana, uma bela escrita do seu amigo, com muita sensibilidade . Beijos.

A Casa Madeira disse...

Olá Manoel que interessante! só a assim mesmo para conhecer-mos a
verdadeira realidade de alguns fatos. Puxa gosto tanto de Fernando Pessoa
algumas de suas atitudes talvez não foram muito legais; será que ele não
tinha conhecimento sobre o assunto?
Bom... para mim o Brasil foi um país inventado para o povo daqui ter uma noção
de nação kkk. Então... tudo é possível nesse mundo de meu Deus.
E que ninguém me ouça ...
Bom final de semana.

Sinval Santos da Silveira disse...

Olá, amigo Manuel !
Saboreei esta aula de sonhos e esperanças,
da infância à maturidade, vividos por um
nobre coração. Muito grato por
compartilhar a nobreza deste episódio.
Um fraterno abraço, aqui do Brasil.
Sinval.

rosa-branca disse...

Olá amigo Manuel, linda esta homenagem ao seu amigo. Beijos com carinho

Palavras soltas disse...

Linda homenagem a seu amigo, Manuel.Fiquei triste por ele, mas sempre dá-se um jeito para agruras da vida. O importante é nunca deixar de acreditar.

Beijo aos dois.

Mirtes Stolze. disse...

Boa noite Meu amigo.
Agora com mais calma, linda homenagem ao seu amigo. Uma linda semana aos dois. Beijos.