terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Um Milagre de Natal







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-Mãe, disse Alice, não sei o que se passa com o Buinhas, costuma passar horas a dormir no sofá e, hoje, não sai da porta da rua. Abana a cauda como se alguém conhecido estivesse a aparecer, mas não! Espreitei pelo ralo e não vejo ninguém.

-Não ligues, disse a mãe, deixa o cão e vai fazer um pouco de companhia ao pai.
Logo vamos, as duas, enfeitar a árvore de natal.

-Tá bem mãe, eu ajudo e ponho os enfeites na porta. Agora vou brincar um bocadinho com o pai.

****

O pai estava junto à janela, olhando ao longe, agora passava o dia, sempre, assim.
Triste mas quando ele brincava, com a filha, parecia esquecer e voltava a sorrir.

-Pai, disse Alice, posso ficar aqui ao pé de ti?

-Oh amor, nada me dá maior alegria. Senta aqui ao pé do pai.

-Agora estou de férias, da escola, posso estar contigo muitas vezes! É bom não é pai?

 *******

O pai da Alice é, ou era, um dos maiores empreendedores na indústria aeronáutica. Bem-sucedido, criou uma Empresa líder que o tornou referência em, quase, todo o mundo.


Tinha uma família, a mulher Charlot e uma filha, que era a maior enlevo e fortuna do casal.
Linda, terna, inteligente e com muito apego aos pais, os seus verdadeiros heróis.


********

Naquele dia, coisas do destino, ou do diabo. Não sabe bem. Sabe, apenas, que sentiu uma enorme vontade de ir almoçar com a mulher e a filha.


A Charlot, professora de biologia, almoçava às 13 horas. Passava pelo colégio pegava na menina, ia à faculdade e, os três, iam a um almoço especial.
Se bem o pensou melhor o fez, estava um pouco atrasado, mas o Porsche era rápido e em 20 minutos estaria a fazer a surpresa.



****



Foi na curva, o camião vinha a ocupar demasiado as faixas, tentou fugir para a direita mas não teve tempo, o carro galgou a berma, empinou e foi tombar no fundo do declive.
Os airbags dispararam mas, o motor recuou e prendeu as pernas, e comprimiu o tronco, do condutor. Foi desencarcerado, e levado para o hospital. Não ia muito bem.

Pensaram o pior. Foi o fim, tinha uma lesão medular completa, perdeu na totalidade o controle e a sensibilidade da parte inferior do corpo.

Quando voltou para casa, muitos pensavam que não voltaria, mas voltou, sim voltou, mas numa cadeira de rodas.

Não era o mesmo, apenas um vulto na penumbra de um quarto.

-Amor, disse Charlot, há-de existir, nalgum lado do mundo, medicina para te curar a paraplegia! Tenho a certeza que há e nós vamos, onde for preciso.

E foram, correram, procuraram, consultaram e voltaram mais tristes e infelizes de que quando partiram.

Para lá, levavam a esperança, na volta já não a traziam.

Não morreu, mas era como se tivesse, perdeu o sorriso, a vontade e passou a existir como um boneco, velho abandonado, numa cadeira.
Dependia de todos, para tudo.

Os negócios mantinham-se, o cunhado, irmão da Charlot, deixou o país onde nasceu, França, e veio para ajudar na gestão da Empresa, era bom mas faltava o criador.


Reuniam, semanalmente, ali no quarto, frente à janela. Ele escutava, dizia que sim, com a cabeça, mas não tinha ouvido nada. O pensamento estava longe, demasiado longe.

******

O Natal estava à porta, sentia a azáfama e as saudades de ser ele, como sempre a enfeitar, com a Alice, a árvore de natal.
Lembrava a filha pequena, qual boneca bailarina, tentando chegar para deixar uma bola, ou prender uma fita dourada. Ele depois, sem ela notar, ia corrigindo.
No fim as palavras, da filha, ainda hoje faziam eco nos seus pensamentos:

 -O pai é o melhor arranjador de árvores de natais, o melhor do mundo!

Corria para ele, abraçava-o e lambuzava-lhe a cara de beijos.
Momentos únicos de felicidade, agora instantes dolorosos de recordações.


Na cabeça, os pensamentos maus, ideias negras eram derrotadas pelo amor que sentia pela mulher e pela filha, pensava mas desistia, elas eram a luz dos seus olhos.

Agora estava ali, imóvel, nuns momentos de felicidade ouvindo e sentindo todo o amor da Alice, que ia palrando:

-Olha pai, agora nas minhas férias, podíamos ir dar um passeio, a mamã também tem férias nós, ajudamos, para não estares sempre aqui triste. Tu finges mas eu já sou grande e vejo que estas triste.

-Não querida, respondeu com os olhos molhados, não estou triste! Contigo, aqui, não podia estar mais feliz.



*****


A azáfama era grande, os sogros vinham passar o Natal, a Portugal, com eles, gostava mas não se sentia feliz, diminuído e dependente, mas a mulher e a filha mereciam.

*****

-Mãe, disse Alice, o Buinhas continua maluco, não larga a porta, abana a cauda como se estivesse alguém à entrada. Está estranho mãe!

-Não te preocupes, filha, deve andar por ai alguma cadela.

Alice estava curiosa, o cão nunca esteve assim e no jardim não entravam cadelas. Foi uma desculpa da mãe, mas quando ninguém estivesse próximo ia espreitar.



**********



E foi, abriu a porta e, os seus olhos viram, o menino mais bonito que se podia imaginar. Cabelos loiros, em caracóis doirados, emolduravam o mais lindo e suave rosto que podia imaginar. Os olhos de um azul brilhante, eram intensos de doçura.


Vestia uma túnica, feita de fios de luz, que brilhava mais que o Sol.
Não era um mendigo, tão lindo e tão bem vestido não podia ser.
Estaria perdido! Era melhor chamar a mãe.

O menino soube do pensamento, não sabe como, mas soube porque falou, tão doce e reconfortante:

-Alice não precisas chamar a mãe, vai ser um segredo nosso.

-Mas, balbuciou Alice, a mãe não quer que eu fale com estranhos.

O menino abriu um sorriso que pareceu iluminar o espaço, tão lindo e radioso.

-Sabes, Alice, não sou um estranho, tu, todas as noites, quando vais para cama, falas comigo, há muito tempo. Já não somos estranhos.

-Mas, disse a menina, eu à noite só falo com o Jesus e digo a oração que a avó me ensinou.

-Estás a ver que já me conheces! Todas as noites eu aceito essa oração. Agora vais-me dizer que prenda gostavas neste Natal?

Alice estava paralisada, não era medo, era um bem-estar que não conhecia. Mas tão bom.

-Sabes? Eu não pedi prendas, não preciso de prendas, só pedi para que o meu pai possa andar outra vez.

Faz-me tanta falta!

O menino, cada vez mais brilhante, respondeu:

-Vai junto ao teu pai e diz-lhe, tal como te vou ensinar:

 Pai, levanta-te, caminha, tu podes!




Dito isso, tão pronto como apareceu, o menino volatizou-se num novelo de luz que desapareceu como se nunca, ali, tivesse estado.

Alice correu para a quarto, do pai, que continuava absorto olhando pela janela.

Ficou assustado com a entrada, brusca, da filha, voltou a cadeira e ia perguntar algo, não teve tempo porque a filha gritou:

-Pai, levanta-te, caminha, tu podes!



O pai não pensou, foi maior do que ele, apenas obedeceu.

Levantou-se e caminhou, para a filha, e teve força para a levantar nos braços e rodopiar.

-Pai foi a prenda de Natal que o Jesus me deu, era isto mesmo que eu queria.

Foi o que eu pedi!


Uma musica suave e um cheiro ténue enchia o espaço.


26 comentários:

Blog da Gigi disse...

Abençoado Natal, Manuel!!!!!!! Abraços

CÉU disse...

E eu também, estimado Manuel!
Que figurinhas bonitas colocou nas suas palavras/votos! Como é que isso se faz? Depois do natal, e quando tiver tempo, peço-lhe o favor de me ensinar.

DESEJO AO MANUEL E AOS SEUS FAMILIARES UM NATAL EM AMOR, PAZ E CONCÓRDIA E QUE O ANO NOVO SEJA MELHOR PARA SI E PARA TODA A HUMANIDADE. NÃO SEI A RAZÃO, MAS TENHO ESPERANÇA NESTE 2016. PENSO QUE NÃO IRÃO ACONTECER TANTAS CALAMIDADES. ASSIM SEJA!

Lerei, talvez, ainda hoje o seu conto, pke não ando na balbúrdia e consumismo do Natal e comentá-lo-ei, posteriormente. Penso postar, hoje, após a meia-noite, se Deus quiser.

Um beijo e um abraço muito sinceros e fraternos, repletos de LUZ e ♥ (no Natal e não só devemos ser verdadeiras. É isso mesmo. Confessado).

Maria Luisa Adães disse...

Lindo o teu texto, Manuel!

Também este ano fiquei muito longe de meu filho,
por razões de saúde como já disse.

O texto me tocou o coração e minha sensibilidade oscilou.

Um amigo me escreveu e se despediu de mim e deste mundo de ilusão em que me conheceu.

Não vai voltar
E eu ponderei nessa verdade, "Chamada ilusão"...



E te encontrei e um dia te vou perder também...e a muitos que têm desaparecido do número de meus seguidores.

Eram 941 e ficaram 888. Estranho, ou o Google os levou numa Tecnologia sem coração, ou eles se foram em 2 dias. Me parece que a tal tecnologia os levou e eu nunca os conheci.
Pensei ir embora também, mas vou ficar mais um tempo, enquanto tu ficares Manuel...depois vou embora, lentamente e para sempre...

Natal Feliz, meu amigo!!!!!!!
Para ti e aqueles a quem amas,

Com amizade

Maria Luísa Adães

Bell disse...

Boas Festas regadas de amor e paz =)

Rose Sousa disse...

Que Jesus seja presente em sua vida e dos seus familiares. Que as bençãos de Deus nunca cesse! Um feliz natal e ano novo a a todos que aqui visitarem e a ti, amigo Manuel! Grande abraço!

Ricardo Santos disse...

Manuel desejo-te Boas Festas !

CÉU disse...

Ora, cá estou eu, Manuel!

Li com muita atenção o seu conto de Natal, com a imaginação que já lhe conhecemos, mas a meio do conto, comecei a antever qual seria o desfecho.

Era bom que todos aqueles que sofrem de enfermidades do género e de outras, tivessem uma voz, que determinadamente os mandasse andar ou dizer-lhes que estão curados, como Jesus fez. Neste caso foi a voz da filha do paraplégico, melhor ex paraplégico, que passou a mensagem de Cristo ao seu pai.

Acredito em milagres, porque o poder de Deus e de Seu filho Jesus é misericordioso e omnipotente. Um dia, e a propósito de um comentário seu, que li num blogue, os mortos ressuscitarão e haverá uma vida nova para quem a merecer. Calculo que tenha doído e doa muito.

Renovo os meus votos de um natal com saúde, paz, concórdia e muitaaaaaaaaaaaaa esperança. Que 2016 seja um ano diferente, mais humano para todos!

Beijos para si e para os k mais ama.

redonda disse...

Gostei tanto (emocionou-me e tem um final feliz)
um feliz Natal e um beijinho
Gábi

Amélia Ribeiro disse...

Através de um amigo comum cheguei até aqui e valeu a pena!
Feliz Natal.

Manuel disse...


Bom dia amigo
Votos de um Santo Natal e de um Bom Ano - 2016.
Para mim Santo Natal quero dizer que seja aquilo que te faça feliz. Que seja com saúde, alegria, paz e muito amor. Não vou repetir nenhuma "lenga-lenga" do que já disse acima nos outros comentários.
Conto contigo e com a tua amizade em 2016.
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Luís

A Casa Madeira disse...

É o levanta-ti e anda; que bom se todo o mundo tivesse o seu.
Mas... Manoel estou aqui para te desejar uma boa entrada de ano junto
aos teus.
E até o ano quem com nossos novos projetos kkk.
Abraços.

Unknown disse...

Suave Milagre como só o amor pode fazer acontecer.
Feliz Natal
Abraços

SOL da Esteva disse...

Foi o Milagre do Natal que irradiou este magnífico Conto. É o Milagre de Natal que manterá acesa a Luz que te guia. Parabéns, Manuel.
Que tenhas um Santo e Feliz Natal.

Abraço
SOL

dilita disse...

Olá Manuel!

Conto é conto, pois; mas quando ele termina em alegria, até me parece real.Foi neste o caso.
Era Natal, aconteceu Milagre, foi lindo de mais (como se diz no Brazil) e eu gostei.
Quero agradecer as visitas no meu blog, e os comentários.

Grata pelos Cumprimentos de Boas Festas. Retribuo desejando-lhe, e aos seus entes queridos,um Natal em paz, com saúde e alegria.
Dilita

ania disse...

Um Natal abençoado prá ti e teus familiares!!! abraços, ania..

São disse...

DEsejo-lhe . meu caro amigo, um bom Natal e um feliz 2016 em óptima companhia.

Mirtes Stolze. disse...

Boa noite Manuel.
Meu querido amigo.Que linda história. Eu acredito em milagres e estou vivendo por milagre do Criador. Uma linda noite de Natal para vocês. Beijos.

Henrique Antunes Ferreira disse...

Manelamigo

Belo conto de Natal - e está tudo dito

Abç do Leãozão

Cristina Sousa disse...

Bom dia Manuel,
Lindo conto de Natal.
Beijo carinhoso

Palavras disse...

Manoel,

Meu amigo querido, que história linda e emocionante você escreveu! Parabéns!

Hoje quero te agradecer pelo carinho de sempre e te desejar um 2016 cheio de boas energias e muita inspiração!

Que você continue nos presenteando com suas histórias lindas!

Grande abraço

Leila Rodrigues

redonda disse...

Um Bom Ano!
um beijinho
Gábi

CÉU disse...

Mas este moço "tá-se" esquecendo de mim! Lembra-se do que eu escrevo e não se lembra da minha pessoa. Só pode ser falta de tempo!

Estimado Manuel,

Espero que esteja bem e feliz. Aqui, tudo em sossego, como de costume.

FELIZ ANO NOVPO COM PAZ, AMOR, ESPERANÇA E MUITA SAÚDE. QUE NOSSO SENHOR PO ABENÇÕE A SI E FAMÍLIA!

Um beijinho para si e para quem mais ama.

CÉU disse...

Olá, Manuel!

Já estamos no NOVO ANO e um ano mais velhos. Bem, seja o que Deus quiser!

Chegaram as suas duas mensagens, sim senhor! Mto obrigada!

Passe, qdo lhe for possível e sem pressas.

Beijinho com amizade.

PS: retificando: 5ª linha - Feliz Ano NOVO. Que Nosso Senhor O abençoe...

Henrique Antunes Ferreira disse...

COM O PEDIDO DE DESCULPAS AO MANELAMIGO

Céuzitamiga

Não consigo comentar no teu blogue (não sei porquê...) aproveito esta boleia do nosso Manelamigo para te dizer o encanto que é o teu texto deslumbrante estendido numa mesa de Natal e posteriormente na cama. Para mim que sigo com atenção os teus excelentes artigos, só posso dizer-te que é o supra-sumo! :-)))))))))

Qjs do Leãozão

CÉU disse...

Boa tarde, estimado Manuel!

Espero que esteja bem, tal como os seus familiares.

Agradeço ter-me feito chegar o comentário do nosso amigo comum, Henrique, que não consegue deixar comentário no meu blogue. Não sei, não sabemos a razão. Já passo por lá.

MUITO OBRIGADA!

Um beijinho com estima.

Unknown disse...

Bom dia, amigo Manuel.
Que bom seria que houvesse milagres. Que bom seria que, ao menos houvesse em mim a fé, para entretenimento da alma sofrida. Mas não, nem a fé resta aos que atestam a dor.
Mas, apesar da pouca fé, me encantam os contos, como me encantam as histórias para crianças, dotadas de uma magia que elas ainda não sabem que são alicerçadas na fantasia. Essas histórias e também os contos fantásticos deixam que o espírito vagueie e faça de conta que o bem existe, que o Homem vale a pena e que a felicidade é procura abençoada pelo sucesso ;)

*Vejo que tem levado adiante sua ideia de não dar continuidade ao seu blogue, mas, enquanto estiver aberto, vou passando, de vez em quando, para lhe deixar um abraço e deixar-lhe votos de que se encontre bem, junto da sua família.
Abraços não hão-de fazer mal =)