terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Aconteceu?....



Já foi há tanto tempo que por vezes tenho dificuldade em me lembrar de todos os acontecimentos.
Estava um entardecer mágico, o Sol inundava o céu de uma tonalidade em que os rosas e os amarelos se entrelaçavam de forma tão harmoniosa que era uma bênção poder espraiar a vista no horizonte.
Os homens regressavam do trabalho e os carros puxados pelas bestas entoavam as ruas com a chiadeira dos seus rodados.
Não tardava ia anoitecer. A noite, clara e luminosa, iria tomar conta da povoação. Na Sociedade Recreativa ultimavam-se os últimos pormenores para o baile que não tardava iria animar a monotonia da aldeia.
No palco o conjunto ensaiava os acordes para uma ruidosa noite de animação.

Era linda. Uns olhos negros, profundos, contrastavam com a alvura de uma tês luminosa.
Uns cabelos da cor da noite escura caiam em suaves caracóis sobre os ombros desnudados.
Sorrio-me de uma forma tão cativante que fiquei sem saber o que fazer.
Sorri também.

Não tardou, rodopiávamos na sala, entrelaçados nos braços um do outro. A música era má, mas quem deu por isso?

-Sou a Celeste, vivo na vila e sou filha do José Romão. Vou embora, já me esperam lá fora. Levo o teu lenço vermelho e espero por ti amanhã.

Deixou os meus braços, sacou o lenço que enfeitava o bolso do meu casaco e desapareceu na noite.

No dia seguinte estava na Vila.
Um homem, à porta de um café, olhou-me curioso.
-Boa tarde, onde mora o senhor José Romão?
-Amigo, vem tarde o Zé Romão morreu, ou fez ou vai fazer um mês. Com ele já ninguém fala.
-Mas.... eu... própriamente não queria falar com ele, mas com a filha a Celeste.
-É o mesmo. O Zé a Celestinha e a mãe morreram no mesmo desastre. Foi além na curva que vai para a ponte do ribeiro. Como disse deve ter sido há um mês. Foi uma desgraça muito grande.
-Como pode ser? Estive ontem a dançar com a Celeste!
-Alguém mangou consigo, amigo. Olhe vá além ao cemitério e verá a três campas novas ao fundo da vereda, tem lá as fotografias.

Fui ao Cemitério e encontrei as três campas. Não precisei de ver mais nada. O meu lenço vermelho estava estendido em cima da pedra, junto à foto esmaltada da Celeste.

Não olhei para trás, entrei no carro e desapareci na curva da estrada.
Nunca mais danço com estranhas.....


2 comentários:

Filipa M. disse...

Buhhhh Medo....

Ai... até fiquei arrepiada...

Unknown disse...

Bem... fantástico, mas nem preciso de dizer pq já sabe!