quarta-feira, 29 de outubro de 2008

navoltadotempo

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Como os anos foram passando, parece que foi ontem que me vi envolvido neste turbilhão onde me puseram.
Lembras-te quando me prendias com uma linha a uma cadeira à porta da nossa casa?
Será que a tua memória te leva à Caseta da Tomina, aos refugiados da guerra de Espanha que passavam à nossa porta, amarrados como Cristo?
E quando a cheia de uma noite de Inverno nos iam arrastando na Safarenha?
E as noites de Barrancos, onde apenas o cantar dos grilos punham termo ao silêncio da noite!
E quando na Pampilhosa, este teu filho, ia as cinco da manhã para aquela fila onde uma senha nos dava para três pães. Sabes porque ia eu? Era assim, as mulheres nesses tempos não podiam ir sozinhos para a rua. Os meninos podiam.
Agora, felizmente, as crianças são crianças.
Mas ficava feliz por saber que te podia tirar esse trabalho. Era também eu, que
esgatanhava o carvão que os comboios deixavam. Sem ele não teríamos lume.
Não havia petróleo.
Como foi difícil, tempos de guerra e de miséria.
Depois viemos para Lisboa, para aquela mansarda em Belém.
Nada tínhamos, mas tínhamo-nos um ao outro.
Tudo nos faltava mas ficavas orgulhosa quando te diziam que o teu menino era o melhor aluno da Escola.
Era por ti.
Era para ti.
Sempre quis que os mais lindos olhos que já conheci e conheço, tivessem aquele brilho que me tornava o mais feliz dos felizes.
Um dia fui embora, o teu menino era homem.
Nunca aceitastes.
Eu teria que ser sempre teu, nunca quisestes perceber que eu seria sempre o teu filho, mas apenas o teu filho.
Não calculas, nunca te disse, quanto me foi difícil.
A doença levou-te o marido, o meu pai, que gostava muito de ti, mas de uma maneira tão difícil. Eu sei quanto sofrestes.
Gostava mas não sabia demonstrar, parece que naqueles tempos os homens tinham vergonha dos afectos.
Foi aí que eu vi que a mulher frágil afinal era mais forte do que imaginava.
Foi difícil mas tenho saudades, do que nos faltava, do que não tínhamos, do que precisávamos.
Que importava que a minha roupa fossem o fruto da tua habilidade na transformação das que alguém deixava? Que interessa que os meus brinquedos fossem fruto da minha habilidade num pedaço de cortiça, de uma lata, ou de um carrinho de linhas?
Que importa que os meus livros fosse de um Alfarrabista?
Sim? Que importa se eras linda e nova.
Hoje, continuas linda, no pergaminho do teu rosto, no brilho dos teus cansados olhos.
Mas tenho que ter saudades.
Ver uma vela a apagar lentamente é difícil, pois é essa luz que me dá uma razão para viver.
Não deixes morrer a chama. Preciso tanto dela.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Diogo..................


Sempre detestou o seu nome mas que havia de fazer. O pai, que andou pelas Américas, ficou devoto de um santo milagreiro e achou que se havia de chamar Diogo e assim ficou.
Na escola não foi fácil, pois de vez em quando havia um que se atrevia a gritar:
-Diogo abre o rabo que lá vai fogo. Depois a pancadaria e o castigo.
Mas teve que crescer assim, recalcando a ideia absurda do pai, a quem nunca perdoou.
Agora era homem já feito e de vez em quando ficava desconfiado com certas entoações de voz quando o chamavam.
Era uma obsessão, já o sabia, mas era mais forte que ele e ainda não se tinha habituado a viver com o nome que lhe tinham dado.
A tia, com quem vivia presentemente, já lhe havia explicado que Diogo equivalia a Jacó, nome hebraico muito respeitado, segundo as escrituras, seria aquele que segura o calcanhar, porque Jacó nasceu segurando o calcanhar de seu irmão gémeo.
Para Diogo, eram teorias da tia que não o gostava de ver tão desgostoso com o nome, que ela achava tão lindo como o irmão o achou.
Diogo, como diria Raymond Chandler, era tão bonito como uma verruga no meio de uma testa ou como furúnculo na ponta do nariz.
Era um homem azedo e frustrado. Nunca tivera uma namorada e as mulheres fugiam dele como se tivesse alguma doença contagiosa. Até as colegas de trabalho, era escriturário numa Companhia de Seguros, pareciam estar apostadas em o evitar.
Vivia, como já dissemos com uma tia, professora reformada, num terceiro andar no Parque das Nações e era aqui que pareciam estar a evoluir os sonhos do Diogo.
Tinha uma vizinha no sexto esquerdo que estava a dar, finalmente, um alento à sua vida.
Era linda, torneada e com um rabo, parafraseando outra vez o escritor, que parecia a nona sinfonia de Beethoven tocada por um pandeiro mágico.
Quando se cruzavam na rua, Diogo, ficava de boca aberta olhando de forma idolatrada para aqueles passos de passarinho saltitante, aquele busto farto e atrevido, os lábios carnudos e húmidos de volúpia e desafio.
O traseiro bamboleante provocava no pobre Diogo emoções que se tranformavam, depois, em sonhos voluptuosos e bastante cheios de emoções.
E o sorriso? Meu Deus quando lhe sorria parecia que nada mais existia neste Mundo.
Tudo mudou e o homem azedo e taciturno passou a sorrir e a olhar a vida de maneira mais colorida.
Andava do ar, tudo lhe parecia diferente.
Agora os momentos passados em casa eram junto á janela. Suspirando na esperança de a ver sair ou entrar. De sentir o elevador passar em frente á sua porta e adivinhar o perfume que o inebriava e o levava a todas as fantasias que povoavam o seu imaginário.
Era uma loucura de ideias e pensamentos que o invadiam e o transformavam.
Parecia, até, que já gostava do seu nome.
A tia, Dona Alzira, começou a estranhar o comportamento do sobrinho sempre tão reservado e agora tão expansivo e falador.
Antes passava os tempos em frente do televisor e agora não deixava a janela como se tendo apercebido da linda vista de que desfrutavam.
Ainda bem, sempre sonhou com esta mudança.
-Diogo estou tão contente por ver que agora estás um menino feliz. A que se deve esse milagre filho?
-Tia, parece que estou apaixonado e julgo que ela me corresponde. A maneira como me olha e me provoca faz-me pensar que sou correspondido.
-Ainda bem. Eu conheço ou ainda não queres dizer?
-Tia, é a vizinha do sexto esquerdo.
-Quem? Não pode ser!
-Queres dizer do quinto andar?
-Não tia, é mesmo do sexto, já confirmei.
-Estás enganado, no sexto esquerdo mora a Daniela. Diz que é Daniela mas é homem, é um Drag Queen, transformista ou lá o que é?

De repente o mundo desabou.

-Tia que merda de nome que me puseram!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

15/10


Mais um dia 15 se aproxima, mais um dia de tristeza escondida em palavras de circunstância.
Vou estar entre muitos e gostaria de estar só, para estar mais perto de quem está ausente.
Queria adormecer e acordar no passado, naquele tempo em que sabia o que era a felicidade, em que o meu riso era verdadeiro, em que acreditava num Deus justo e presente e sem ter dentro do peito este nó que dói e, que a cada dia mais me aperta e mais me oprime.
Deixar de viver na solidão entre os outros fingindo que não estou só.
Não sentir, mais, este vazio, saber enfrentar o escuro. Ter coragem de deixar que as lágrimas suavizem a dor. Não estar a morrer um pouco todos os dias.



No Céu, se uma alma nesse espaço mora,
Que a prece escuta e enxuta o nosso pranto...
Se há pai, que estenda sobre nós o manto
Do amor piedoso... que eu não sinto agora...

(Antero de Quental)




sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Nostalgia....


Nos momentos em que a solidão nos invade e as saudades nos atormentam nada melhor
que repousar o espírito na poesia e adormecer embalado por uma canção de amor.....



Florbela Espanca

Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.

Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar.
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: "Que fantasia,

Criança doida e crente! Nós também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu!..."

Calaram-se os poetas, tristemente...
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu"!...



Na