sexta-feira, 20 de março de 2009

As aparências....

Tinha um porte que merecia respeito.
As mulheres, sempre que aparecia no escritório, ficavam doidonas e davam gritinhos de aprovação.
Diziam que era um pão, que era a receita exacta para ser genro das suas mães, e outros sem número de baboseiras.
Na realidade tinha uma bonita figura, alto, esguio e com um porte atlético invejável. Era, quase, um Adónis.
Tinha um cabelo loiro, ondulado, revolto e que mantinha numa estudada forma de casualidade.
Os olhos tinham uma cor indefinida, que se estendia entre um azul-turquesa e um cinzento claro.
O sorriso, sempre afivelado, deixava luzir uns dentes brancos e bem tratados.
De uma cortesia que por vezes se tornava servil, mantinha os corações de todas as “gajas” daquele escritório, num constante alvoroço de suspiros.
Todas à espera de um convite para o cinema ou para uma visita a um qualquer museu. Sim, naquela altura mais do que isso, seria arrojo.
O seu passado tinha algo de romântico e secreto o que ajudava toda aquela aura de mistério e desejo.
Era cubano, refugiado. Tinha fugido a um regime que o não aceitava.
Confesso que nós, os outros homens, sentíamos alguma inveja com tanta deferência.
Mas tínhamos que nos render a uma evidencia, de facto o G., vou chamar-lhe assim, tinha sido bafejado pelo distribuidor da beleza num dia e que todos os outros estavam distraídos.
Um dia, recordo como se fosse hoje, a noticia chegou como uma bala.
As mulheres não acreditavam, diziam que eram estórias de invejas. Vi mesmo algumas lágrimas rebeldes.
Os homens, esses, rejubilavam empolados, com toda a testerona à flor da pele.
O G., foi apanhado de joelhos em frente ao seu ajudante e, disso temos a certeza, não estava a rezar.
Nunca mais soubemos do tipo.
Tal como tinha surgido se eclipsou. No nada