quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Outeiro dos Milagres.



-Já viu amigo Jeremias aqueles moços que parecem iguais?

-Então amigo Meireles são gémeos, são os netos do Caga-Azeite. Aqueles rapazes são fruto de um milagre.

-Milagre?

-Sim milagre. A Isabelinha casou com um moço da Guarda Republicana, bom rapaz por acaso, e queriam á força ter um filho e nada. Até foram ao médico, mas a rapariga continuava seca como um carapau. Foi ai que alguém se lembrou de lhe dizer para ir ao Outeiro dos Milagres. Eles foram e o resultado está á vista.

-Conte lá isso melhor que eu não entendi nada.

-Então aqui vai. Pensam os mais antigos que quem tem algum problema para resolver e não consegue, deve ir ao Outeiro e levar uma enfusa de água que deixa ao luar. De hora a hora, conforme os casos, bebe um copo ou faz banhos com essa água. Dizem, eles, que se conseguem resolver todos os problemas.

-Custa a crer.

-Já viu um caso que até parece que foi lá resolvido. Até dizem, alguns, que os catraios foram lá feitos. Mas é o que se diz.

-Aconteceu homem. É uma coincidência.

-Coincidência nada, há mais. O filho do tio Zé da Velha tinha um problema nas virilhas. O rapaz não se dava conta com a comichão e as borbulhas que o apoquentavam noite e dia. Correu médicos e mais médicos. Experimentou todas as mesinhas, unguentos, poções e nada. O moço andava desesperado e até evitava arranjar namorada com a vergonha. Foi ao Outeiro, levou a água que pôs numa bacia ao luar e de hora a hora foi lavando as partes. Foi milagre, está curado, nunca mais teve problemas. Até já arranjou namoro com a filha do Lino Coveiro.

-Estou a ficar admirado.

-Vou-lhe contar mais uma. A Joana, filha da Alzira Coxa, nasceu-lhe uma coisa ruim na barriga. A rapariga andava descorçoada, até foi ao Hospital na cidade, onde a queriam operar. Mas não lhe prometiam nada, pois só depois de a abrirem podiam saber o que tinha. A mãe não se conformou e levou á rapariga ao Outeiro. Passaram lá a noite a por pachos com a água que estava ao luar, foi remédio santo. No outro dia, ouviu-se um estrondo e pum. Aquilo rebentou e encheu um balde de porcaria. Ficou curada.

-Se não fosse você a contar eu não acreditava, mas assim nem sei que dizer.
Até amanhã, passe bem amigo Jeremias.

-Então amigo Meireles que cara é essa?

-Sabe aquilo que me contou ontem sobre o Outeiro dos Milagres? Pois quando deixei o amigo, fui a casa, peguei na minha Perpétua, num garrafão de água e numa bacia e ala, fui a caminho do alto. Deitei a água na bacia que ficou ao luar. De hora a hora obriguei a mulher a lavar a cara com a água. Contrariada mas lá foi fazendo o que lhe disse.

-Então homem, qual era o problema da patroa?

-O problema, então não a conhece?

-Conheço e bem.

-Pois como pode ver não houve milagre nenhum. Foi feia e só não voltou pior, porque mais feia não pode ser.

-Valha-me Deus

1 comentário:

Filipa M. disse...

ahahahahahah!!!

O que eu já me ri!!!

Temos escritor de anedotas!!!