domingo, 23 de agosto de 2009

Os safões do compadre Agostinho




-Bom dia compadre Agostinho. Onde vai tão cedo com a burra tão carregada?

-Nem por isso, só leva a albarda, o alforge com o avio e a minha espingarda. Não é tanto assim compadre Januário.

-Mas tão cedo e assim carregado não é costume.

-Pois é, os coelhos e as lebres andam-me a dar cabo do meloal e eu vou passar lá umas noites para ver se os cães os espantam. Como sabe a minha Perpétua foi passar uns dias com o filho a nora e os netos. O meu filho queria que eu também fosse, mas por causa das terras e dos animais tive que ficar.

-E já está com saudades da comadre Perpétua?

-Oh homem se tenho! Ando a açorda de alho, pão com azeitonas e queijo, não tenho jeito para a cozinha. Tenho cá umas saudades da comida da patroa, do caldo de baldoregas (beldroegas), de um caspacho (gaspacho) com sardinhas assadas ou de um caldo de peixe do rio com poejos. Só de me lembrar já sinto água na boca. Mas como lhe estava a dizer, preparei a malhada e vou ficar umas noites a tomar conta das coisas que tenho semeadas.

-E a espingarda?

-Pois, com a maltesaria que anda por ai, não faz mal um homem estar prevenido.

-Faz bem compadre, mas pelo que vejo não pensa ir á caça?

-Não penso não, mas como sabe?

-É fácil, estou farto de olhar e não vejo que o compadre leve os seus safões, e eu sei que sem eles o compadre nunca vai caçar.

-Vossemecê é tramado. Mas tem razão. Vou indo que se faz tarde.

1 comentário:

Filipa M. disse...

Ahahahahahahah

Pode continuar Manuel!!!

Beijinhos