terça-feira, 8 de setembro de 2009

O último orgasmo




Tenho visto mulheres mais bonitas, mas esta tinha algo de diferente. Não sei se o brilho duns olhos verdes, luminosos e cheios de tentações, se o rosado de uns lábios carnudos que se entreabriam em promessas de insaciadade. Talvez fosse o andar coleante que nos levava embalados no agradável ritmo de um ondear de sedução. Talvez, até, a suavidade de um corpo curvilíneo, bem distribuído e com tudo nas medidas precisas e no lugares adequados.

De verdade que tenho visto mulheres mais bonitas, mas de uma beleza amorfa e demasiado clássica. Esta não. Esta tinha uma beleza diferente, agressiva, provocadora, feita de perfeições que raiavam quase o impossível. Era subtil, flutuava numa inebriante áurea de sedução e mistério.
Parecia irreal, a sua voz de uma doçura que enlouquecia, o seu sorriso era como o ópio que nos inebria e nos leva a lugares que não existem, que nos matam, mas para onde desejamos sempre voltar.

Olhou para mim, passou a língua pelos lábios, de forma calculada. Afivelou um sorriso capaz de entesar um eunuco. Abriu a boca, parecia que ia falar, mas apenas mostrou uns dentes, lindos, num sorriso de pura sedução.
Apontei-lhe um lugar no sofá. Sentou-se, cruzou as pernas de forma estudada, voluptuosa, provocadora.

-Em que a posso servir menina?

Voltou a humedecer os lábios. Olhou-me nos olhos tentando adivinhar qual a impressão que me estava a causar, enquanto com os dedos tentava puxar a saia que deixava generosamente ver as mais belas pernas que Deus algum criou.

-Senhora. Sou a senhora Vasconcelos.

-Então em que posso ser útil senhora Vasconcelos?

-Acabei de matar o meu marido e preciso que o senhor me ajude.

Abriu a pequena mala, tirou um lencinho branco e limpou uma inexistente lágrima no canto do olho.

-Mas, balbuciei, onde se encontra agora o seu marido?

-Na nossa casa, na cama.

-Vamos lá, preciso de ver o cadáver antes de alertar as autoridades.

Fomos no meu carro. Conduzi rápido tentando evitar a confusão do trânsito a esta hora do dia.

Como ela tinha dito estava na cama. Nu, grotesco, caricato, com um sorriso tétrico num rosto cor de cera.

-Conte como tudo aconteceu, pois não vejo qualquer vestígio de crime.

-O Augusto fazia hoje 78 anos. Por vezes já tinha quebras e ficava muito incomodado. Hoje estava pujante, queria festejar. Fiquei por cima como ele tanto gostava, entusiasmado, frenético. De repente gritou : “estou-me e vir”, sorriu, ficou flácido e morreu.

Passei-lhe o braço pelos ombros e tirei-a daquele tétrico quadro.

-Vamos, nada tem a temer, deixar um homem morrer com um sorriso daqueles não é crime. Nada tem a temer. Vamos avisar as autoridades.

5 comentários:

Unknown disse...

:oD nem sei o que lhe diga...

Manuel disse...

Já disse tudo.

Maria Fragoso disse...

Olá Manuel!
Espero que as coisas estejam um pouco melhores. Peço desculpa de só agora passar por cá, fechei o alchymia mas pode sempre ler-me no Sapo.
Se quiser deixar o seu mail os comentários no Rosto e a Máscara estão moderados. Beijinhos

Filipa M. disse...

Só me ocorre dizer que fiquei com um leve desejo de "matar" alguém...

Haverá morte melhor que morrer de prazer??

Luz disse...

Pois..., alguns morrem assim, já ouvi alguns casos, acontece! Morrem felizes, morrem de prazer como diz a Filipinha :), mas melhor mesmo é continuar a viver com, e de prazer ;)