segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Diogo




Sempre detestou o seu nome mas que havia de fazer. O pai, que andou pelas Américas, ficou devoto de um santo milagreiro e achou que se havia de chamar Diogo e assim ficou.

Na escola não foi fácil, pois de vez em quando havia um que se atrevia a gritar:

-Diogo abre o cu que lá vai fogo. Depois a pancadaria e o castigo.

Mas teve que crescer assim, recalcando a ideia absurda do pai, a quem nunca perdoou.

Agora era homem já feito e de vez em quando ficava desconfiado com certas entoações de voz quando o chamavam.

Era uma obsessão, já o sabia, mas era mais forte que ele e ainda não se tinha habituado a conviver com o nome que lhe tinham dado.

A tia, com quem vivia presentemente, já lhe havia explicado que Diogo equivalia a Jacó, nome hebraico muito respeitado, segundo as escrituras seria aquele que segura o calcanhar, porque Jacó nasceu segurando o calcanhar de seu irmão gémeo.

Para Diogo, eram teorias da tia que não o gostava de o ver tão desgostoso com o nome, que ela achava tão lindo como o irmão o achou.

Diogo, como diria Raymond Chandler, era tão bonito como uma verruga no meio de uma testa ou como furúnculo na ponta do nariz.

Era um homem azedo e frustrado. Nunca tivera uma namorada e as mulheres fugiam dele como se tivesse alguma doença contagiosa. Até as colegas de trabalho, era escriturário numa Companhia de Seguros, pareciam estar apostadas em o evitar.

Vivia, como já dissemos com uma tia, professora reformada, num terceiro andar no Parque das Nações e era aqui que pareciam estar a evoluir os sonhos do Diogo.

Tinha uma vizinha no sexto esquerdo que estava a dar, finalmente, um alento à sua vida

Era linda, torneada e com um rabo, parafraseando outra vez o escritor, que parecia a nona sinfonia de Beethoven tocada por um pandeiro mágico.

Quando se cruzavam na rua, Diogo, ficava de boca aberta olhando de forma idolatrada para aqueles passos de passarinho saltitante, aquele busto farto e atrevido, os lábios carnudos e húmidos de volúpia e desafio.

O traseiro bamboleante provocava no pobre Diogo emoções que se tranformavam, depois, em sonhos voluptuosos e bastante cheios de emoções.

E o sorriso? Meu Deus quando lhe sorria parecia que nada mais existia neste Mundo.

Tudo mudou e o homem azedo e taciturno passou a sorrir e a olhar a vida de maneira mais colorida.

Andava do ar, tudo lhe parecia diferente.

Agora os momentos passados em casa eram junto á janela. Suspirando na esperança de a ver sair ou entrar. De sentir o elevador passar em frente á sua porta e adivinhar o perfume que o inebriava e o levava a todas as fantasias que povoavam os seus pensamentos.

Era uma loucura de ideias e pensamentos que o invadiam e o transformavam.

Parecia, até, que já gostava do seu nome.

A tia, Dona Alzira, começou a estranhar o comportamento do sobrinho sempre tão reservado e agora tão expansivo e falador.

Antes passava os tempos em frente do televisor e agora não deixava a janela como se tendo apercebido da linda vista de que desfrutavam.

Ainda bem, sempre sonhou com esta mudança.

-Diogo estou tão contente por ver que agora estás um menino feliz. A que se deve esse milagre filho?

-Tia, parece que estou apaixonado e julgo que ela não está indiferente. A maneira como me olha e me provoca faz-me pensar que sou correspondido.

-Ainda bem. Eu conheço ou ainda não queres dizer?

-Tia, é a vizinha do sexto esquerdo.

-Quem? Não pode ser!

-Queres dizer do quinto andar?

-Não tia, é mesmo do sexto, já confirmei.

-Estás enganado, no sexto esquerdo mora a Daniela. Diz que é Daniela mas é homem, é um Drag Queen, transformista ou lá o que é?

De repente o mundo desabou.


-Tia que merda de nome que me puseram!


11 comentários:

Valquíria Calado disse...

Toc Toc

Olá ...

estou passando ...♥...♥...♥

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Só para desejar uma boa semana..

* ♥_beijinhos _ * ♥ beijinhos__
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Na duvida diz Dani.

Anónimo disse...

Manuel,


Encontrei seu blog em amigos.
Gostei de seus escritos .

Te Sigo Feliz .

:)

Vivian disse...

Olá!Bom dia!!

Mas que coisa, meu bom amigo!!
Sempre a me surpreender!!!Conta histórias incríveis!!!
Gosto demais de ler-te!!
Nunca sei o que me espera!!E a surpresa sempre aparece!!
Ah!! Mas pobre do Diogo!!!!
hahahaha!!!

Marcia M. disse...

coitadinho do Diogo!!! rs.Adorei o texto!
bjs!

AFRICA EM POESIA disse...

Manuel
Meu amigo
Que te dizer?
Que Raiva....
Não vejo o pesadelo acabar.
Espero que Março seja o fim do pesadelo


Um beijo VERDE

E DIOGO é mesmo um nome LINDO1...

Guma disse...

Olá estimado amigo Manuel.

Para mim foi puro humor esta estória, mais uma que me encantou.
Mas na verdade, há "bonekas" lindas, que tomara muitas mulheres, mas enfim... o Diogo é que sabe da vida dele.

Um prazer vir aqui à sua companhia

Kandandos, inté.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido Manuel

Um fim inesperado mas muito bem escolhido...coitado do homem, quando decide sair da prateleira, acontece~lhe logo isso, adorei como sempre as tuas histórias.

Beijinho
Sonhadora

Menina do cantinho disse...

Venho agradecer os votos de boa semana e retribuir :)
Aproveito para dizer que tem um selo no meu cantinho para este espaço ;)

Beijinhos

Sónia da Veiga disse...

E lá vai mais um desiludido que, se fosse esperto, ía com a maré!

Abaixo o preconceito, viva a felicidade!!! ;-)

E Diogo é mesmo um nome bonito!

Laços e Rendas de Nós disse...

Enganos qualquer um pode ter...

Os desenganou é que doem e o Diogo que confirme.

Gostei!

Bom fim de semana.

Beijo

Sandra Gonçalves disse...

Amo ler-te querido.

"Pode-se graduar a civilização de um povo pela atenção, decência e consideração com que as mulheres são educadas, tratadas e protegidas."
(Marquês de Maricá) Em homenagem ao dia internacional da mulher.
Beijos achocolatados