Quando
desceu os degraus da Igreja o bruaá de espanto ecoou como se a admiração
tivesse um som.
Parecia quase
irreal nos contornos de um corpo cinzelado pelo bom Deus num dia de muita
inspiração, nas faces onde o resplandecer de um sorriso, quase divino, fazia o
brilho do Sol empalidecer.
Era a noiva.
Ao seu lado um homem demasiado discreto, ia realçando, ainda mais, toda a
formosura da donzela.
-Que linda
noiva, exclamou a Dª Rosa!
-Boa como o
milho, disse o Chico!
-Mal
empregada, suspirou o professor Osório!
***
Foram uma
família feliz até que a desgraça, numa tórrida tarde de Agosto, deixou o senhor
Meireles agarrado a uma invalidez para o resto da vida. O tractor quando se
empinou, numa vala, atirou o pobre homem deixando a coluna de tal forma que se
lhe acabou a vida abaixo da cintura, agora dependia da mulher para tudo até,
como dizia, para mijar.
A Junta de
Freguesia conseguiu, com a ajuda da população, comprar-lhe uma cadeira de rodas
para amenizar tanta desgraça.
A vida não
era fácil, pois a pensão de invalidez era pequena e os trabalhos de costura não
abundavam, o que lhes valia era o rendimento de uma pequena courela que tinham alugado,
pois ele não a podia cuidar.
Naquela
quente tarde de primavera, mãe e filha, deixaram o senhor Meireles sentado à
porta da rua para poder ver quem passava e, ao mesmo tempo, entretido com os
amigos que paravam para deixar uma palavra de carinho.
Iam fazer as
pequenas compras semanais.
***
Isa, assim
se chamava a filha, foi a primeira a sair do minimercado, carregando os sacos
de plásticos, e ficou surpreendida pelo olhar lupino de um rapaz que se
encontrava na esplanada do Café Central.
Sentiu-se,
um pouco, incomodada e comentou com a mãe:
-Vistes
aquele lingrinhas? Parecia que me ia comer com os olhos!
A mãe sorriu
e perguntou:
-Não sabes
quem é aquele rapaz? E antes que a filha tivesse tempo para responder, foi acrescentando,
o moço é o filho do Senhor Engenheiro Timóteo, o homem mais rico desta região.
Dizem que tudo que a gente avista muitas léguas em redor é dele e aquele rapaz
é o único filho e um dia toda a riqueza vai ser dele. Devias ter retribuído o
olhar e até um sorriso não tivesse sido despropositado.
Isa estava
admirada com a conversa da mãe, parecia estar interessada em qualquer coisa.
Fez de conta
que não percebeu e continuou o caminho.
***
Tinham
acabado de jantar e estavam ajeitados para ver a telenovela quando bateram à
porta.
Foi a mãe
abrir e, quase teve um ataque, na sua frente estavam, de chapéu na mão, o
senhor engenheiro Timóteo e o filho.
-Boa noite,
disse o homem, pedimos desculpa por vir incomodar a esta hora mas aqui o rapaz
não me deixou esperar mais, queremos falar consigo e com o seu marido. Pode
ser?
-Oh meu
Deus, balbuciou a mulher. Entrem, entrem!
Estava
nervosa e ia fazendo do avental um rodilho de tanto o torcer, caminhando de
lado ia dirigindo as visitas para a sala enquanto gritava:
-Oh Meireles,
oh Isa vejam quem está aqui! Temos visitas importantes, o Senhor
Engenheiro e o
filho querem falar com a gente. Isto é mesmo uma grande honra.
Entraram
todos para a sala perante a admiração da Isa e do pai.
-Mas entre
Senhor Engenheiro, entre, insistia a dona Balbina.
Era um pouco
confrangedora a situação, pairava no ar um incómodo desconforto.
Isa era a indiferença total, Meireles
encolhido na sua cadeira parecia um pouco incomodado por lhe irem quebrar a
rotina da sua telenovela. Só a dona Balbina parecia uma pura imagem de alegria.
Olharam uns
para os outros perturbados e foi o engenheiro Timóteo a ter coragem para tomar a
palavra:
-Bom, devem
estranhar esta visita inesperada mas o meu filho insistiu tanto que me decidi,
espero que me perdoem e compreendam a razão.
Olhou o
filho e ficou esperando um sinal de aprovação, mas o rapaz só tinha olhos para
a Isa que se encontrava encostada à parede numa total indiferença.
-Como ia
dizendo, retomou o engenheiro, o meu filho há muito que anda de olho na vossa
filha num total embevecimento e não se cansa de me dizer que encontrou a mulher
certa, a única capaz de voltar a trazer alegria à nossa casa.
-O gajo não
joga com a bola toda, pensou Isa!
-É mesmo o
Euro milhões, matutou Balbina!
-Não estou a
perceber nada, cogitou Meireles!
-Mas,
continuou o engenheiro, como devem saber eu fiquei viúvo faz três anos e tenho,
sem ajudas, criado este filho, Bernardo, que tem sido o meu grande amparo e a
minha maior força, só tem 19 anos mas pensa como um adulto.
O senhor
Meireles ajeitou-se na cadeira, ganhou folego e coragem para dizer:
-Senhor
Engenheiro sabe que nós temos muita consideração por vossemecê, pela sua
bondade, pela forma como tem ajudado esta terra, pelo trabalho que tem dado a
este povo. Mas deve compreender que terá que ser a Isa a decidir, ela têm 25
anos e nós não podemos falar por ela.
Dona Balbina
não se conteve e foi acrescentando:
-Oh Meireles
é nossa filha e nós temos obrigação de a aconselhar e não me parece que…..
Não teve
tempo de completar a frase, a filha interrompeu com as lágrimas a quererem
saltar dos lindos olhos:
-Bom, eu,
não quero ofender ninguém, acho e compreendo o acanhamento do senhor
engenheiro, pois não deve ser fácil aparecer numa casa, onde nunca entrou, a
pedir uma mulher de 25 anos para um miúdo de 19. Não quero ser desagradável mas
deve compreender que o seu filho ainda é uma criança.
O silêncio
caiu naquela sala, olharam uns para os outros sem saber. Isa desatou num choro
convulsivo, Meireles retesou-se na cadeira como se fosse possível levantar-se,
dona Balbina começou a rezar baixinho, o Bernardo mordia os lábios num
nervosismo confrangedor e o engenheiro Meireles gesticulava na tentativa de por
ordem ao desarranjo que acabara de causar.
-Bem, falou
por fim, vamos embora não nos compreenderam e criamos uma grande confusão.
Foi então que o que o rapaz mostrou que também
estava presente:
-Pai, espere
porque aqui vai uma enorme confusão, eles não perceberam e pensam que estamos a
pedir a mão da Isa para mim, tem que explicar que não, tem que dizer que é o
pai que está interessado em casar com a moça e que eu apenas ajudei a escolher.
O silêncio
parecia doer.
Meireles
meditava, não estou a perceber nada disto.
Balbina
pensava, é para o pai, que pena eu não ser livre
Isa não se
conteve:
-Mas senhor
engenheiro, explique melhor porque ficamos todos confusos e peço desculpa por
mim e pelos meus pais.
O engenheiro
empertigou-se, passou os dedos pelos cabelos grisalhos e, com um ligeiro
tossicar disfarçou o nervosismo que parecia que o tinha tolhido.
Alisou, mais
uma vez o cabelo, aclarou a garganta e com a voz entaramelada começou:
-Vou
explicar, há muito que eu anda de olho na Isa, acho que é uma rapariga muito
especial e, confesso, sinto por ela uma grande atracção. Pedi, como faço
sempre, a opinião do meu filho que só me disse que não devia perder mais tempo
e, hoje, quase me obrigou a tomar coragem. Por isso estou aqui para pedir a mão
da vossa filha.
Olhou a moça
e num gesto quase teatral pediu:
-Isa aceitas
casar comigo?
Meireles e
Balbina pareciam ter voado para bem longe, tal era o alheamento, mas Isa estava
presente para responder:
-Aceito
senhor engenheiro!
23 comentários:
Excelente teu conto e com desfecho excepcional! Incrível como com as palavras consegues nos conduzir a teu gosto.
Beijos e boa semana
Excelente teu conto e com desfecho excepcional! Incrível como com as palavras consegues nos conduzir a teu gosto.
Beijos e boa semana
Excelente teu conto e com um final inesperado e surpreendente! Amei!
Beijos e boa semana!
Que bela trama,Manoel!!Sempre me encanto e quando pensava que Isa estava esnobando o filho, ela aceitou o pai...Legal! abração praiano,chica
Meu querido Manuel
Uma história que acontecia muitas vezes, o senhor rico a apaixonar-se pela menina pobre, eu conheço uma história assim.
Como sempre é um gosto ler-te.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Olá Manuel,
Sua história é excelente, e bem real. Conheço caso assim como esse.
Engraçado que suas história sempre nos leva a acontecimentos por vezes reais. Senhor engenheiro se deu bem.
Abraço amigo!
Ótima semana!
Um conto maravilhoso, e com a musica do video melhor ainda adorei, vc é
sensacional...Parabéns pela bela postagem, tenha uma noite linda
Abraços com carinho
Rita!!!!
Um conto maravilhoso, e com a musica do video melhor ainda adorei, vc é
sensacional...Parabéns pela bela postagem, tenha uma noite linda
Abraços com carinho
Rita!!!!
Muito bom teu conto amigo...Adorei do inicio ao fim...Bjos achocolatados
Este filme fez-me chorar baba e ranho! Ouvir o António Prieto cantar La Novia, que chorava na Igreja por ir casar com um homem que não amava, marcou a minha adolescência. Mais tarde surgiu a versão do Trio Odemira, que também gostei muito!
No fundo, acredito que foram estas visões e ilusões meio lamechas que distorceram a realidade da vida de nuitas jovens do meu tempo.
Afinal, a vida não teve nada de cor-de- rosa!
Admirável e bela a sua forma de conduzir a história, Manuel.Como sempre maravilhoso te ler.Adoro!
Beijinhos e bons sonhos.
Caro amigo Manuel.
Gosto tive nesta oportunidade de aceder à net e ler, não só o que ainda não tinha tido oportunidade, assim como " A Noiva".
O amigo consegue a proeza de contar com pormenor e mesmo assim ser conciso, fazendo com que os seus contos sejam de interesse até ao fim e não serem extensos demais, embora eu não concorde com a ideia de nos blogs só resultarem textos não muito longos, pois quando a leitura é boa, prende-nos até ao fim.
Receba o meu kandando e o sincero desejo que esta fonte nos traga muitos mais textos com a qualidade que nos habituou.
Hoje minha postagem falo um pouco de mim
postei uma entrevista feita por uma amiga de todos nós blogueiros.
Creio que falei um pouco de tudo sobre mim.
Espero sua presença para comentar essa postagem.
Deixei um pedacinho de mim na postagem
quero compartilhar minha vida com as pessoas que faz parte
da minha vida.
Para mim amizade virtual não existe
a pessoa é aquilo que é na vida real ou virtual.
Os nossos valores jamais conguiremos esconder
nem alguns defeitos que todos nos temos.
Beijos no coração com carinho,Evanir.
Seu texto lindo e uma musica muito especial .
Olá,Manuel!!!
Que lindo e surpreendente conto meu amigo!!!Mas confesso que fiquei desconfiada quando Isa começou a chorar por entender que era o filho e não o pai que a queria.Ainda assim, sendo o amigo tão talentoso nunca se sabe.Fico sempre na dúvida do que virá!
Um final espantoso!
Beijos!
Meu carinho e admiração sempre!
✿彡✿⊱╮¸.•°
Legal!
Até eu que sou mais boba que Isa também aceitava, uai!
Bom fim de semana!
Beijinhos.
Brasil
✿彡
Grande abraço e um lindo fim de semana regado de muita paz e saúde.
Nicinha
Uma história de agradável leitura.
Situações que se viveram outrora por essas aldeias e vilas.
Como os tempos mudaram...
Hoje ninguém pede nada a ninguem...
Se ...se entendem juntam os trapos e mudam-se de casas e bagagens por uns tempos...
Bom dia com alegria pra vc tbém!
Vim tomar um cafézinho com vc e desejar
o melhor pq sendo essa pessoa maravilhosa
merece todo meu carinho
Abraços
Rita!!!!
Para não variar presenteou-nos com mais um excelente conto e confesso que este não era o desfecho que esperava.
Beijinhos e bom domingo :)
Manuel, para conhecer seu blog. Achei muito legal, o conto também achei interessante.
Abraço
Belo conto,meu caro amigo Manoel!E os finais sempre surpreendentes.
Beijossss
Gostei da reviravolta!
E do facto dela ter aceitado no fim! ;-)
Tens um jeito especial de escrever, que nos envolve!
Beijinhos e boa semana!
Meu querido amigo
Passando para te agradecer as palavras carinhosas que me deixas sempre e deixar um beijinho.
Sonhadora
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