Já
todos devem conhecer o padre Inácio!
Não, não é esse, é o padre-cura da minha
paróquia.
Não é notável
por actos ou feitos, não se notabilizou por obras de beneficência, de caridade,
exorcismos, sermões mais inflamados ou por qualquer mérito de santidade, nada
disso é apenas um homem bom que tenta passar despercebido numa paroquia de
pessoas simples que vivem da pastorícia ou do cultivo da terra.
Pois o
nosso rotundo padre, homem de muito virtude, apreciador de boa mesa tenta
passar despercebido, não quer protagonismo pois a simplicidade da vida é a mais
adequada a um homem de Deus.
Tem uma
vida austera que divide, entre a casa de Deus e a casa da paróquia onde habita.
Na casa
de Deus vai cumprindo as missões a que está destinado, missas, baptizados,
casamentos e, como não pode deixar de ser, os funerais.
Tem na sua diocese
muitos, e bons, voluntários que o aliviam de muitos afazeres, para os quais,
confessa, não se sente muito vocacionado.
Orientar a catequese e todas as
burocracias administrativas que, apesar de tudo, fazem parte da rotina diária
da sua paróquia não é o seu forte e muito menos a sua devoção.
Sempre
que pode refugia-se na tranquilidade da casa que lhe foi destinada e onde a sua
governanta, dona Rosa, o trata como se fosse um príncipe e os resultados estão
bem à vista. O que lhe vai valendo é a horta, sua paixão, onde se deixa perder
no tempo, abrindo rasgos, fazendo caldeiras junta às arvores, cavando e ficando
extasiado vendo o fruto do seu trabalho, e de tanto amor, desabrochando para
regalo e alegria do padre.
À tarde
fica sentado ouvindo os melros que se vão alimentando dos seus frutos, mas ao contrário
do padre-cura do Guerra Junqueiro, o nosso padre Inácio não os imagina na
frigideira, gosta de os ver e ouvir na natureza.
Manhã,
bem cedo, antes dos deveres canónicos, faz correr a água enquanto com uma
pequena enxada vai acompanhando o caudal para que todas as plantas recebam a
parte a que têm direito.
Antes
de sair ouve, quase sempre, o responso da dona Ross, pois as mãos e unhas
encardidas pela terra não vão bem com o pastor do rebanho desta paróquia.
Ouve,
mira-a, sorri e concluí:
-Tem
razão minha amiga, vou já esfregar estas mãos e unhas com uma escova e esse seu
detergente que faz maravilhas!
Depois
sai para a luz dia, bonacheirão e com um sorriso rasgado para com quem se cruza
no caminho da Igreja.
****
Dona Rosa é a sua governante mas, na realidade, ele sente-se mais como uma mãe que trata com todo o carinho e desvelo esse filho que nunca teve. Ficou viuva, nunca sentiu a bênção da maternidade, ela que tanto amor tinha para dar. Quando lhe fizeram o convite para governanta do padre aceitou embora com algum receio, pois sempre lhe disseram que os padres tomavam aquele ar de beatitude mas, depois, fora do círculo da Igreja eram umas pestinhas difíceis de aturar. Mas teve sorte o padre Inácio era de uma grande bondade, para ele tudo estava bem, adorava tudo o que ela cozinhava e nunca fez qualquer reparo. Aceitava os conselhos e chamava-a, com carinho, de mamã Rosinha.
***
Tudo corria na paz do Senhor, os dias passavam naquela monotonia e quietude que o padre tanto apreciava, a sua Igreja, os seus paroquianos, o conforto da sua casa e a horta, sim a horta, onde se embrenhava em solilóquio com as couves, os nabos e toda a classe de produtos que a terra tão generosamente lhe ia oferecendo.
****
Dona Rosa é a sua governante mas, na realidade, ele sente-se mais como uma mãe que trata com todo o carinho e desvelo esse filho que nunca teve. Ficou viuva, nunca sentiu a bênção da maternidade, ela que tanto amor tinha para dar. Quando lhe fizeram o convite para governanta do padre aceitou embora com algum receio, pois sempre lhe disseram que os padres tomavam aquele ar de beatitude mas, depois, fora do círculo da Igreja eram umas pestinhas difíceis de aturar. Mas teve sorte o padre Inácio era de uma grande bondade, para ele tudo estava bem, adorava tudo o que ela cozinhava e nunca fez qualquer reparo. Aceitava os conselhos e chamava-a, com carinho, de mamã Rosinha.
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Tudo corria na paz do Senhor, os dias passavam naquela monotonia e quietude que o padre tanto apreciava, a sua Igreja, os seus paroquianos, o conforto da sua casa e a horta, sim a horta, onde se embrenhava em solilóquio com as couves, os nabos e toda a classe de produtos que a terra tão generosamente lhe ia oferecendo.
Parecia
que tudo era perfeito mas, de repente o padre blasfemou, o bom e tranquilo
padre Inácio perdeu a postura e, acreditem, largou um impropério contra a sua
mamã Rosa.
Dona Rosa não esperava, saiu disparada e só parou na casa da sua irmã Maria Gertrudes, que muito admirada lhe perguntou:
-Que fazes aqui a esta hora Rosa?
Rosa com as lágrimas saltando dos olhos apenas respondeu:
-O padre virou demónio, chamou-me velha desastrada, a mim que tenho sido mais do que uma mãe para aquele traste!
-Mas que coisa ruim aconteceu mulher?
-Nada, respondeu, ou quase nada, apenas me distrai, sentei-me em cima dos tomates do padre Inácio e esborrachei-os.
Depois, dona Rosa entrou num choro convulsivo.
-Credo mulher, que brutalidade. Como fizestes isso?
Dona Rosa não esperava, saiu disparada e só parou na casa da sua irmã Maria Gertrudes, que muito admirada lhe perguntou:
-Que fazes aqui a esta hora Rosa?
Rosa com as lágrimas saltando dos olhos apenas respondeu:
-O padre virou demónio, chamou-me velha desastrada, a mim que tenho sido mais do que uma mãe para aquele traste!
-Mas que coisa ruim aconteceu mulher?
-Nada, respondeu, ou quase nada, apenas me distrai, sentei-me em cima dos tomates do padre Inácio e esborrachei-os.
Depois, dona Rosa entrou num choro convulsivo.
-Credo mulher, que brutalidade. Como fizestes isso?
- A
culpa foi dele, colheu-os na horta, deixou-os em cima do banco e não me avisou.
Eu não
podia adivinhar!
19 comentários:
rsssssss...Fico a imaginar.... Legal,como sempre!!!abração,chica
Ando lenta, Manuel... mui lenta e só depois na segunda leitura que eu me dei conta de qual tomate estava falando.rs. Excelente!
Beijinhos.
Esse Padre é malandro....falta-lhe uma boa tequila!:)
Mas isso não se faz, não senhor!
Abraço
Ai Manuel, acho que vou ficar a rir por muito tempo!
Adorei este texto!
Obrigada!
Beijo
Laura
OLá Manuel , boa noite, ou seria já um bom dia por aí?
Em primeiro lugar, agradeço imensamente o carinho de sua visita, mesmo eu estando tão ausente daqui. Mas como soubeste, estive meio adoentada, mas felizmente agora sinto-me bem! Adoro quando você vai ao Sementes Preciosas, adoro!
Quanto aos tomates do Padre Inácio...OPS, ou melhor, ao teu interessante conto, você demonstrou em poucas palavras uma grande verdade: por mais bondosa , calma, modesta,aparentemente humilde uma pessoa, basta ferir qualquer dos seus interesses, pra que se arrepiem e enfureçam , revelando a sua verdadeira natureza! Não é mesmo?
Adoro o teu jeito de escrever, teu bom humor e tua simpatia, és muito bom escritor, querido Manuel!
Beijos da Lu...
Coitada da Dona Rosa ficou decepcionada com os tomates do Padre risosss, quer dizer com a postura do Padre... Mais quem manda o Padre colocar tomate em cima do banco.
Parabéns Manoel pela história.
Grande abraço!
Olá amigo Manuel, não me diga que vem daí a celebre história dos tomates do padre Inácio. Juro que não fazia a menor ideia do final e fartei-me de rir. Adorei meu amigo é sempre um prazer lê-lo. Beijos com carinho
♥-:¦:-*´¨`*-:¦:-*´¨`*-:¦:-*´¨`*-:¦:-♥
Bom diaaaa!!
Visitar vc, deixar um abraço
Fazer um elogio ao que postou
E gostar do que vc faz é tudo de bom
Tadinha da dona Rosa srsrsr bom texto
Abraços com carinho
Rita
♥-:¦:-*´¨`*-:¦:-*´¨`*-:¦:-*´¨`*-:¦:-♥
Meu querido Manuel
Gostei muito da estória e a D.Rosa foi logo estragar aquilo que ele gostava tanto.
Como sempre brilhante.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Eles são a história e eram a vida das aldeias perdidas nas serras.
Há muitas histórias relacionadas com eles e bem contadas surtem efeitos surpreendentes.
Um padre simples mas com bons tomates.
EHEHEH!!! Gostei!
Com umas adaptações, dava uma canção do Quim Barreiros ou do Florida (http://www.youtube.com/watch?v=AirpbRaN1Ro). ;-P
Olha que, em vez de escritor, ainda viras compositor! :-)
Beijinhos e bom fim-de-semana!
▒✿▒✿▒✿✿彡
▒✿
▒✿ Olá, amigo!
Você é um excelente contador de histórias. Amei a canção dos tomates.
Bom domingo!
Boa semana!
Beijinhos do Brasil.
✿✿彡
Este conto é mais uma surpresa!Impossível não rir com a blasfemia do padre e com as lágrimas da dona Rosa!rsrs
Acontece...
Beijos,meu amigo!
Centelha Luminosa deixou um novo comentário na sua mensagem "O Padre Inácio":
OLá Manuel, boa noite!
Meu querido amigo, e contista preferido! Estou participando da Blogagem Coletiva, promovida pelo amigo Christian V. Louis, "LENDAS URBANAS". Não sou contista nem cronista, apenas uma rabiscadeira de versos. Contudo, pra participar escrevi um conto. E vou te confessar, me inspirei no teu estilo pra poder escrever meu texto. Certamente que nem chego aos teus pés, pois que sou aprendiz ainda. Por isso, gostaria que fosse lê-lo. Pode ser ?
Te espero lá no SEMENTES PRECIOSAS!
Beijos da Lu, da fã que te admira!
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Publicada por Centelha Luminosa em navoltadotempo a 29 de Outubro de 2012 19:47
Manuel
Que queres que te diga :isto está Pior que os tomates do Padre Inácio.
eu lembrei-me hoje de uma cantiga
Daqui não saio daqui ninguém me tira e agora????
Afinal, Manuel, sempre eram os tomates do Padre Inácio que estavam em causa!...
Com o "retoque" inicial de que não se tratava do mesmo Inácio, eu fiquei suspenso.
Conseguiste (como sempre) um final imprevisível.
Parabéns.
Abraços
SOL
Este padre Inácio pode não ter o mau génio e a animosidade em relação aos melros, do padre-cura de Guerra Junqueiro. Mas, também não é flor que se cheire...
Estou a ver que os padres são todos muito ciosos dos legumes da sua horta!
Abraço, Manuel!
Este padre Inácio pode não ter o mau génio e a animosidade em relação aos melros, do padre-cura de Guerra Junqueiro. Mas, também não é flor que se cheire...
Estou a ver que os padres são todos muito ciosos dos legumes da sua horta!
Abraço, Manuel!
Boa tarde, blog muy bunito, beijinho de azemês
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