Havia
algo de estranho naquele amor, um pouco irracional e com tantas contradições,
mas era um amor.
Ricardo
era um rapaz que emergiu, quase por encanto do nada, apareceu assim de repente
de uma província que nunca explicou, filho de ricos fazendeiros que ninguém
conhecia e licenciado em direito numa qualquer universidade que nunca foi
confirmada. É uma pessoa de falas mansas, tímido, delicado em demasia e
com excessiva amabilidade. Quase fastidioso.
Mafalda
é uma morena a que Deus, generosamente, deu tudo o que qualquer mulher deseja,
beleza, sensualidade, inteligência e uma certa dose de estudada ingenuidade.
Eram
diferentes, ou mais propriamente, eram totalmente opostos, quase como a
luz e a sombra.
Havia,
no entanto, uma atracção inexplicável, um amor quase doentio, uma cumplicidade
que ninguém conseguia entender.
Viviam
numa paixão que parecia estranha, mas não, era apenas diferente pelos
contrastes, pelos comportamentos e, um pouco, pelo insólito.
Bebiam
as palavras, olhavam-se de uma forma tão doce que acabavam por enjoar quem os
observava.
Um dia desapareceram. Durante uns tempos ninguém os viu, tentaram adivinhar onde poderiam estar, o que teria acontecido?
Um dia desapareceram. Durante uns tempos ninguém os viu, tentaram adivinhar onde poderiam estar, o que teria acontecido?
Muitas
conjecturas, mas na verdade ninguém sabia os motivos dessa ausência.
Não foi
grande, foram apenas 28 dias, mas todos notaram, faziam falta para matar a
rotina, para alimentar os falatórios à porta do café, para amenizar as más
disposições da dona Efigénia que, debruçada na janela ia observando e
comentando todos os acontecimentos visíveis no escasso horizonte do seu poiso
habitual.
*****
De repente, tal como se eclipsaram, aparecerem de novo no seu mundo.
*****
De repente, tal como se eclipsaram, aparecerem de novo no seu mundo.
Tudo
parecia ter voltado à normalidade mas as coisas a, pouco e pouco, iam
mudando.
Aquele
amor, que iam pingando na doçura do olhar e a ternura, daqueles afagos, começaram
a escassear.
Deixaram
de ser os mesmos. Andavam juntos mas era como se não se conhecessem.
A troca
de caricias e os carinhos foram mudados para indiferença e ares sisudos. Não se
olhavam, davam o braço numa tentativa de encobrirem uma situação tão visível
que esconder era, apenas, uma forma de tornar mais visível o que todos já
tinham percebido.
Chegavam
no carro e ele já não lhe ia abrir a porta, como sempre o fizera.
Eram um
casal, mas não o mesmo que todos conheciam.
Parecia
que ainda havia amor, mas a chama era tão trémula que ninguém a percebia. Só
eles.
Ninguém sabia mas a dona Efigénia, no seu posto de observação, descobriu tudo.
Era fácil, agora os dois usavam aliança, tinham casado.
Afinal era tão óbvio.
Ninguém sabia mas a dona Efigénia, no seu posto de observação, descobriu tudo.
Era fácil, agora os dois usavam aliança, tinham casado.
Afinal era tão óbvio.
21 comentários:
Mais um conto delicioso, Manuel.Casamento é complicado, mas penso que não seja ele o culpado, mas sim o fato deles serem muito diferentes.
Beijinhos, querido e boa semana.
Lindo e que pena que apenas por casarem, as coisas mudaram,né? Adorei ler! abração,chica
As anilhas não dão sempre resultado, mas ainda bem qie há honrosas excepções!
Curto, mas muito bem conseguido Manuel.
Beijinhos
Espectacular conto Manuel. A quebra da magia, do encantamento. E a vitória da rotina que se instala tantas vezes para matar o sonho. Arrefecer o amor. Beijinho amigo adorei. Boa semana!
OI,Manoel!Pois é parece que o casamento tem esse poder de apagar com a chama do amor deve ser por isso que eu tenho tanto medo de me casar e acho que se eu casar um dia vou pensar um zilhão de vezes.
Beijossss
Que coisa!
As pessoas conseguem por conta de umas alianças e talvez um ritual fazer uma transformação na vida que não entendo.
Por que não namorar a vida toda? Seriam as alianças amarras malditas que destroem qualquer encanto?
Adorei Manuel!
Beijinhos
Bem real! Há tantos casos idênticos.
Como sempre, excecional!
Beijinho
Laura
Parece-me que casaram para pior.
A vida depois de casados curte-se de um modo mais perfeito mas ainda mais intenso.
Se algo mudou foi fingimento que usaram durante o noivado.
É agradável recordar estas personagens-
Dona Efigênia sabe de tudo!!!!
vim te ver, meu Rei e me deliciar com teus contos
Olá amigo Manuel, como é que um simples papel e uma aliança muda tudo? A verdade é que muda e eu conheço bem demais esse episódio. É pena porque o amor devia de ser regado e alimentado sempre. Mais uma linda história que adorei como sempre. Deixou-se enganar meu amigo? Bem...a ideia era essa, embora eu pensasse quando fiz o poema que não conseguia enganar ninguém. Beijos com carinho
Oi Manoel,
Seus relatos como sempre excelente.Por vezes o casamento tem essa transformação. O cotidiano a rotina é grande vilã num casamento.
Existem muitos casos assim.
bjs e ótima semana!
Gostei muito de o ler, o que não é novidade.
Uma história que parece repetir-se cada vez mais. Mas será o casamento? Ou antes as pessoas?
Há tantos exemplos... de casamentos mágicos, de uniões mágicas e o contrário...
Manuel
Esta vida é mesmo um paradoxo.
Isto anda mau eu verde de raiva
espero novidades o mais breve possível isto não pode mesmo continuar assim.
beijos
Centelha Luminosa deixou um novo comentário na sua mensagem "Paradoxo":
Meu querido Manuel, bom dia !!
UM conto explêndido pra nos revelar a verdade para uma pergunta fatal:
Existe vida após o casamento? rsss...
As vezes, observo casais enamorados, trocando beijos e carícias, em público, e eu penso: esses daí não são casados!!!
Gostei demais, meu querido, como gosto de todos os teus contos.
E adorei a sua visita, sempre tão esperada por mim!
Beijos da amiga de sempre, LU...
Publicar
Eliminar
Marcar como spam
Moderar comentários neste blogue.
Publicada por Centelha Luminosa em navoltadotempo a 29 de Novembro de 2012 01:49
Olá,Manuel!!
Ah! Meu amigo!!!Um belo conto, mas triste pensar que o casamento possa ser um entrave na paixão...uma pena.
Graças a Deus há exceções!
Beijos e meu carinho!
*A correria vai diminuir um pouco...rs Já entreguei todos os trabalhos, só faltam as provas...
Mas posso dizer que estou amando este mundo das letras,é um prazer ir ás aulas!Escolhi acertadamente!
Um Conto "verdadeiro" para vários casos que conheço... infelizmente.
O Amor parecia ser demais para demonstrar no namoro. Depois de casados, a verdade a subir ao cimo da água, como o azeite (dizemos nós Portugueses).
Na verdade, não havia Amor; antes o desejo físico, como se vai vendo pelos mais diversos locais... como no teu Conto.
É um alerta que dá que pensar!...
Abraços
SOL
♡.¸¸.•°
Olá, amigo!
Desculpe-me, mas não consegui ler o seu texto. Estou muito triste porque meu cachorro morreu. Volto depois e leio e deixo um comentário.
Um ótimo fim de semana!
Beijinhos.
Brasil
♡♡♡.¸¸.•*`*
Venho mais uma vez agradecer a sua visita. Já respondi ao seu comentário e posso dizer que não nos conhecemos de agora :-)
Será sempre bem vindo.
Beijinho
Ahhh!
achei que ia terminar no mistério, onde eles estariam, todos curioso,e eles felizes:(.
Mas tu tão sábio, sabes que a maioria dos relacionamentos terminam assim.
É só por a bendita aliança e muda tudo, e olha que muitos ao saírem de casa retiram do dedinho rs
bjo para o rei dos contos.
Meu querido Manuel
Mais um belo conto...por vezes é mesmo isso, o casamento mata o amor...a rotina instala-se.Adorei como sempre.
Beijinho com carinho
Sonhadora
Olá Manuel.
Desta vez posso dizer que previ o que a D Efigénia adivinhou... Verdade!
Quanto à atracção mútua, apesar de terem temperamentos diferentes, sempre ouvi dizer que os extremos se atraem. É na diferença que as pessoas se completam, não acha?
Um abraço, Manuel!
Enviar um comentário