Acordei
com a intensidade da chuva a fustigar as inseguras persianas das janelas, o
vento soprava de forma irregular como se estivesse apostado em arrancar tudo à
sua passagem.
Levantei-me a custo, as articulações reagiam, sempre, a todos os movimentos com uma dor aguda e persistente. Acendi uma lanterna e tentei com os pés encontrar os chinelos, mas foi difícil a procura, as pernas não me obedeciam. Por fim lá consegui. Agora o problema era aquela, difícil, tarefa de sair desta posição e ficar de pé, encontrar a bengala e conseguir arrastar as pernas até a janela para baixar, totalmente, as persianas de forma a não baterem tão intensamente.
Na cama ao lado, Odete, dormia tão calma e tão serena que me deixou admirado, normalmente respirava com dificuldade e um ressonar cavo acompanhavam o sono difícil, hoje não, estava num sossego que me reconfortou. Ia ter cuidado para não lhe perturbar o sono.
Levantei-me a custo, as articulações reagiam, sempre, a todos os movimentos com uma dor aguda e persistente. Acendi uma lanterna e tentei com os pés encontrar os chinelos, mas foi difícil a procura, as pernas não me obedeciam. Por fim lá consegui. Agora o problema era aquela, difícil, tarefa de sair desta posição e ficar de pé, encontrar a bengala e conseguir arrastar as pernas até a janela para baixar, totalmente, as persianas de forma a não baterem tão intensamente.
Na cama ao lado, Odete, dormia tão calma e tão serena que me deixou admirado, normalmente respirava com dificuldade e um ressonar cavo acompanhavam o sono difícil, hoje não, estava num sossego que me reconfortou. Ia ter cuidado para não lhe perturbar o sono.
Somos casados, vai fazer 65 anos, sempre compartilhámos a mesma cama mas, agora,
as nossas maleitas obrigaram a duas camas, de forma a um, não incomodar o outro,
com as voltas e o mau estar nocturno. Não gostamos muito mas compreendemos, que
era o melhor para aproveitar as poucas horas de descanso, que a dores nos
proporcionavam.
Finalmente, venci a batalha, estava numa vertical periclitante mas estava o suficiente para conseguir chegar à janela e puxar bem abaixo as persianas.
Olhei, outra vez, a Odete estava tão serena. As rugas sulcavam-lhe o rosto mas mantinha, ainda, aqueles traços que a tornavam, para mim, tão diferente, naquela doçura e serenidade que me enchiam o coração. Se calhar o que sentimos agora é já apenas amizade, mas no meu decrépito coração mora, ainda, um amor tão intenso que me tolda a vista quando penso que, um dia, a morte nos vai separar. Não acredito noutra vida, sempre me habituei a encarar a morte como o fim de uma longa caminhada, depois o descanso total.
A luz da lanterna orientou-me embora a luminescência, dos relâmpagos, fosse suficiente para guiar os meus passos.
Finalmente, venci a batalha, estava numa vertical periclitante mas estava o suficiente para conseguir chegar à janela e puxar bem abaixo as persianas.
Olhei, outra vez, a Odete estava tão serena. As rugas sulcavam-lhe o rosto mas mantinha, ainda, aqueles traços que a tornavam, para mim, tão diferente, naquela doçura e serenidade que me enchiam o coração. Se calhar o que sentimos agora é já apenas amizade, mas no meu decrépito coração mora, ainda, um amor tão intenso que me tolda a vista quando penso que, um dia, a morte nos vai separar. Não acredito noutra vida, sempre me habituei a encarar a morte como o fim de uma longa caminhada, depois o descanso total.
A luz da lanterna orientou-me embora a luminescência, dos relâmpagos, fosse suficiente para guiar os meus passos.
Cerrei as persianas, conquanto tremessem com a fúria do vento, amortecerem o
barulho o que seria suficiente para a Odete não acordar. Felizmente, ela, tinha
um sono pesado, que juntamente com aquela remessa de comprimidos a deixavam num
torpor doce e tranquilo, embora com um sono agitado.
Voltei para a cama, Odete, continuava na mesma posição, de quase beatitude.
Apalpei-lhe a testa estava gelada, é natural aos 85 anos, o sangue já não nos aquece o corpo da mesma forma, e ela, coitadinho estava tão magrinha que maior dificuldade tinha, ainda, para manter o pouco calor que lhe restava.
Não penso voltar para a minha cama, vou ficar junta da Odete, vou-me agarrar com força para lhe dar algum do, pouco, calor que me resta.
Enrosquei-me, como fazíamos quando éramos mais novos, numa espécie de conchinha aconchegante.
Colei o meu corpo e abracei-a com carinho, alisei-lhe o cabelo e senti o gelo do seu corpo invadir o meu.
Firmei-me com a força que me resta e disse-lhe de mansinho ao ouvido:
-Vá querida, vamos descansar os dois como fazíamos antigamente!
Depois
adormeci profundamente.Voltei para a cama, Odete, continuava na mesma posição, de quase beatitude.
Apalpei-lhe a testa estava gelada, é natural aos 85 anos, o sangue já não nos aquece o corpo da mesma forma, e ela, coitadinho estava tão magrinha que maior dificuldade tinha, ainda, para manter o pouco calor que lhe restava.
Não penso voltar para a minha cama, vou ficar junta da Odete, vou-me agarrar com força para lhe dar algum do, pouco, calor que me resta.
Enrosquei-me, como fazíamos quando éramos mais novos, numa espécie de conchinha aconchegante.
Colei o meu corpo e abracei-a com carinho, alisei-lhe o cabelo e senti o gelo do seu corpo invadir o meu.
Firmei-me com a força que me resta e disse-lhe de mansinho ao ouvido:
-Vá querida, vamos descansar os dois como fazíamos antigamente!
****
Dois dias depois, os bombeiros, arrombaram a porta. Continuavam abraçados.
Nem a morte foi capaz de os separar!
17 comentários:
Há um filme que saiu agora, assim com este tema, "Amor".
Bem pintado, como sempre.
Mas Manuel, é melhor consertar as persianas:))
Abraço
Morrer assim não é de todo mau!! Lindo conto, como sempre!! abração,ótimo fds! chica
Esse é um grande final pra uma vida a dois, onde o carinho, o respeito e o amor vencem a idade.
Tocou fundo Manuel!
Gratidão
Beijinhos
Olá, estimado Manuel!
Mais um bonito e afetuoso conto, por si inventado.
65 anos, é muito tempo, mas o amor está já enraízado.
O fim foi triste, mas foi para ambos.
Bom domingo.
Beijo da Luz, com amizade.
Sabe que fiquei triste com este conto? Só porque...
Beijo
Laura
Que abraço e mortes tão serenos!
Seria bom, que com todos os casais amorosos e longevos assim acontecesse!
Gostei Manuel, penso como o narrador: tudo termina aqui...na vida terrena.
Beijos,
da Lúcia.
Um conto muito lindo, e com um final muito triste.
Um bjo meu amigo manuel.
Nossa... Que bom que o amor foi o marco dessa história. Deixa-nos reflexões... Adorei! Sigo por aqui e voltarei. Abração!
Gostei do seu conto.Felizes as personagens que criou, pois viveram juntos, e não tiveram de enfrentar o amargor da solidão e a saudade um do
outro.
Boa noite!!!
Hoje estou te visitado para deixar
uma bela frase, com todo meu carinho!
"O amor só é lindo, quando
encontramos alguém que nos
transforme no melhor que
podemos ser"
(Mario Quintana)
(¯`v´¯)
.`•.¸.•´
Janita deixou um novo comentário na sua mensagem "O último abraço":
Se por um lado me senti profundamente triste, por outro senti um certo alívio.
Depois de uma vida em comum durante 65 anos, já eram uma só pessoa. Juntos e agarradinhos partiram para onde quer que seja, mas unidos até ao fim. E o que é mais importante: sem sofrimento!
Parabéns, Manuel! Este tocou-me bem no âmago. Muito lindo!
Beijinho.
Boa tarde prezado amigo
vim lhe desejar uma santa semana!abraço fraterno!
Maria Alice
Manuel, Amigo
Conseguiste dar-me uma comoção que já não sentia há tempos. Este nó na garganta quer dizer que mesmo sabendo ser um Conto, a intensidade emocional extravasou.
Bom! Sempre consegues.
Abraço
SOL
Final lindo para uma não menos linda vivência de amor...
Beijo amigo e um bom fim de semana
Ah!Meu amigo...Conseguiste me deixar sem palavras!
Só posso dizer que fiquei com os olhos marejados e o coração cheio de ternura.
Lindo!
Beijos e meu carinho!
¸.•°♡♡
Brilhantemente escrito... um amor doce e eterno.
Bom fim de semana!
Beijinhos.♡°•.¸
¸.•°♡♡°•.¸
Tristemente lindo.
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