sábado, 26 de outubro de 2013

Uma questão de nomes








-Bom dia senhor Simão!

-Romão menina! Romão!

-Ai desculpe! Não sabia que o senhor Simão, agora, se chamava Romão!

-Oh mulher que me dá cabo do juízo, eu sou só Romão!

-Pronto não se amofine, já percebi que o senhor Simão é só Romão. Nunca mais me esqueço!

-Tá bem dona Manuela, fiquemos assim!

-Não podemos ficar assim, eu não sou Manuela eu sou Marcela, tal como a minha madrinha que Deus tenha!

-Mas marcela é nome de planta para fazer chá, quem pode ter um nome desses?

-Que graça senhor Simão, será que nome de marido da romã é nome de gente? Romão, onde já se viu!

-Mas está a gozar comigo, desde quando é que romã tem marido?

-Passou a ter desde que o Senhor Simão passou a ser Romão!

-Mas dona Morcela, Romão é um bonito nome!

-Morcela deve ser quem lhe fez esse nariz de pica-pau, eu tenho um nome bem bonito, se não sabe, até lhe digo que há uma santa com o meu nome. Agora não sei se há santo com nome de marido de romã. Não acredito!

-De santos, não percebo nada, mas só por estar a aturar uma melga como você já passou a haver um, que sou eu!

-Com a parvoíce, da sua conversa, já me esqueceu do que vinha fazer!

-Se calhar vinha beber um chá de marcela. Tenho pena, mas não há!

-Ainda bem, é sinal que alguma romã já o bebeu!

-Mas, você, mulher tirou o dia para me atenazar o juízo? Se calhar foi por isso que o seu marido abalou.

-Oiça homem o meu marido não abalou, fui eu que o pus a mexer! Já não dava nada. Agora você, que me conste, nunca teve ninguém para esbugalhar as bagas da romã, se calhar nem bagas dá!

-Isso é o que você pensa, dá bagas e muito mais. Quer experimentar?

-Com a crise que por aí vai, se calhar até não me importo!

-Pois, experimente e não se arrepende!

-Afinal Romão até é um nome bonito. Eu gosto, tem algo de aristocrático.

-É verdade, mas deixe lá que Marcela também é muito belo. Tive uma tia com esse nome e sempre disse que, se um dia tivesse uma filha, seria Marcela!

-Oh Romão! Posso chamar assim? Você é especial, quando entrei vi logo que a gente se ia entender

-Querida Marcela, vamos embora! Para a tua casa ou para a minha?

-Não interessa, vamos para uma depressa, que até me falta o tempo!




quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Mudar de vida








Caramba, estava farto da rotina! Todos os dias a mesma coisa, até enjoava. Todos os dias levantar à mesma hora, o mesmo pequeno-almoço à pressa, corrida para o transporte, as mesmas caras na viagem, a caminhada, de sempre, do autocarro até à fábrica. No trabalho os mesmos colegas, com as mesmas caras enjoadas, a mesma máquina,  no mesmo ritmo, a coser entretelas, para não falar no mesmo salário, há muito tempo.

Estava mesmo chateado com esta monotonia do nada de novo, farto da mesma marmita, daquela comida esquentada na mesa da tasca do Ermidas, a mesma garrafinha de tinto, da mesma duvidosa qualidade.

Tudo igual, nunca mudou nada, a culpa era dele, mas começava a sentir um certo cansaço. Até a mulher era a mesma há sete anos, com a mesma conversa, a mesma falta de interesse e, sempre, com a mesma dor de cabeça na hora de ele querer, sabia ela, a mesma monotonia.

Queria reagir, mas a mesma preguiça e a mesma falta de imaginação não deixavam e continuava no mesmo ritmo estafado, na mesma sensaboria.

Já pensou em dar um pontapé nesta crise de ideias, largar a mulher, mudar de hábitos, emigrar, encontrar outros interesses. Podia, até, ficar com a mulher mas, começar de novo, fazer coisas novas, ser original e surpreender, mas as ideias eram sempre as mesmas e voltava a trilhar, o mesmo ramerrame, com a mesma ladainha.

Hoje estava farto da mesma toada chata, daquela máquina em movimento, com entretela a passar naquele ritmo estúpido.

Chegou a hora ia tentar dar, finalmente, o pontapé na coisa insossa que o estava a entorpecer.

Pediu, ao mesmo chefe, para sair mais cedo.

Sair antes da hora, já era um quebrar do ritmo, era o principio da uma mudança. Não quis o transporte de todos os dias, se era para mudar ia voltar a casa, de táxi.

Ia ser um homem novo, nova vida, novos hábitos e novos prazeres.

Irrompeu casa dentro, ia contar à mulher a mudança de vida, mas não conseguiu, o quadro estava muito à frente da mudança que ele queria.

A mulher já a tinha começado, também estava farta do mesmo.

Feliz da vida, na maior safadeza, gemia de prazer com um, dos chatos, dos seus amigos.




sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O Regresso




Muitos me incentivaram a voltar, no fundo era esse o meu desejo, mas por outro lado, um certo comodismo impedia essa vontade.                                                                                                
Hoje voltei e, a todos, estou grato. Vou dedicar este pequeno ensaio a uma amiga, que foi especial nesta fase.                                                                                                                     
Obrigado Dila!






Senti uma lágrima deslizar, suavemente, pelo rosto e cair em borrão, na folha que estava a escrevinhar.

Já não era a primeira vez que me deixava emocionar com as pieguices, que eu próprio inventava, agora, as lágrimas, apenas se perdem no espaço, quase se evaporam, já não tem folhas para manchar.

Mas voltando a esse tempo, em que os computares eram apenas uma visão do futuro, lembro-me, perfeitamente, dos rabiscos que se iam alinhando, na estória duma infância e que, a pouco-e-pouco, se iam diluindo na memória da saudade.

Eu era pequeno, talvez adolescente, e morava numa pequena casa nas margens de um rio, talvez de um oceano, mas para mim era apenas um regato que me deixava adivinhar o que acontecia na outra margem.

Olhava, mas precisava  fechar os olhos para poder, com mais clareza, vislumbrar pequenos momentos de encanto ou, quiçá, de magia.

No outro lado, por entre a neblina da distância, adivinhava alguém que iria mexer com a minha imaginação.

Cerrava com mais força os meus olhos, mas o pensamento não me trazia a imagem, só os sentimentos, uma certa candura e um enorme romantismo, pois só quem é romântico vagueia, assim, por entre a flores e, se espraia nas frases de encantamento dos poetas.

O tempo passou, cresci, a casa já não é  mesma, só se mantém o imenso, desse, oceano.

Os computadores, deixaram de ser uma visão, são tão reais que as águas se abriram, como a Moisés, e deixaram-me perceber que os sonhos podem transformar-se na realidade.

Continuo sem ver a imagem, é distante, mas adivinho-a cheia de beleza.

A beleza está no coração, nas palavras no momento certo, nas frases eivadas de ternura,  nas flores entrelaçadas em corações ternos, no bom fim-de-semana desejado, enfim, nos pormenores que nos dão o ânimo que,  tantas vezes, já nos vai faltando.

Hoje, o impensável deixou de ser um sonho, o oceano já não é imenso, a outra banda ficou aqui, ao meu lado.

A imagem, deixou de ser penumbra, passou a brilhar no meu mundo virtual.

Agora a magia da DILA faz parte do meu presente.

É minha amiga e quer que eu volte.

Convenceu-me com as suas palavras e eu prometi.

Prometi, Dila, estou a cumprir!