Esta estória é
para ter acabado como a publiquei no dia 24 de Janeiro, mas pediram-me a continuação.
Eu não me apetecia, porque adivinhava um final pouco romântico, mas a vida é
mesmo assim!
De
repente o rapaz alegre, desprendido e que encarava a vida como um jogo, que
cada dia desfrutava da melhor maneira, olhava o Sol de manhã e já não via a
magia.
Perdeu
a alegria, ficou apático, refugiou-se nos estudos e mais nada lhe despertava o
interesse.
Queria
comer, mas os alimentos ficavam enrolados na garganta.
Perdeu
o apetite!
Dona
Ângela, a mãe, estada preocupado, o filho sempre foi um rapaz alegre, pronto
para a brincadeira e, de repente, a tristeza tomou conta dele, como se algo de
muito grave tivesse acontecido.
-Elias,
que se passa contigo filho? Perguntou dona Ângela? Se calhar posso ajudar, fala
comigo!
Os
olhos de Elias ficaram cheios de lágrimas, tapou a cara com as mãos, enquanto
ia arrepelando o cabelo.
Quase
num lamento, com a voz distorcida pela insegurança, respondeu:
-Mãe
estou apaixonado!
-Mas,
Elias, isso é sinal de alegria e eu só vejo, em ti, tristeza!
Respondeu
num soluço:
-Era
mãe! Se eu soubesse por quem! Mas não sei quem é, como se chama e onde a posso encontrar!
Estou
perdido e não consigo deixar de pensar em alguém, que vive dentro de mim, mas
não a consigo descobrir cá fora!
Dona
Ângela ficou em silêncio, não tinha palavras, era uma situação para a qual não
estava preparada.
Tinha
que reagir, o filho estava a atravessar uma fase difícil e ela tinha que fazer
qualquer coisa.
Sentou-se
ao seu lado e pediu:
-Vá,
conta tudo à mãe!
Elias,
olhou-a com os olhos embaciados, mas sentiu um enorme conforto em poder
compartilhar, toda a mágoa que sentia dentro do peito.
-Sabes
mãe? A primeira vez que a vi pareceu-me que, Tétis, tinha emergido das águas
para me encantar. Olhei, aquela imagem, e senti que tudo tinha mudado, pensei
que o destino estava a traçar o meu caminho.
Mas
fui ingénuo e deixei-a fugir sem, sequer, lhe ter perguntado o nome. Mas não
desisti, procurei e Deus deu-me, uma segunda oportunidade.
Lá
estava ela, novamente radiosa, como se estivesse à minha espera.
Voltei
a meter conversa! Não me tinha esquecido! Conheceu-me pelas mãos tão suaves e delicadas.
Foi aí, que percebi que era cega, fiquei tão
perturbado que a deixe ir embora, outra vez, sem sequer, lhe perguntar o nome.
-Mas
o facto de ser cega faz alguma diferença? Perguntou a mãe.
-Não
mãe! Gritou Elias.
Dona
Ângela abraçou o filho, limpou-lhe as lágrimas e prometeu:
-Eu
vou ajudar-te, juro que vou!
***
Ângela
do Carmo era uma mulher determinada, de convicções, viúva há 14 anos. Foi pai e
foi mãe e estava orgulhosa, da forma como tinha criado e educado o filho.
Mantiveram,
sempre, uma grande cumplicidade, partilhavam as mágoas e as alegrias. Nunca
tiveram segredos, aliás, apenas um que ainda, agora, não tem coragem de contar.
Ela
tem um amante!
Uma
relação de oito anos. Não queria casar, nem uma vida em comum, queria,
apenas, um companheiro numa relação aberta, sem compromissos, sem amarras e sem
obrigações.
Era
como dizia, para ela própria, uma necessidade para se sentir viva.
Hoje,
o filho, precisava e ia estar presente.
Prometeu
ajuda mas, confessava, não sabia por onde começar. Talvez o Licínio, o seu
namorado a pudesse ajudar.
Tem
tempo e é muito perspicaz!
****
Licínio
adorou a ideia, desde que se reformou, apenas se sentia bem na companhia da Ângela,
o resto do dia era passado num total enfado, numa pasmaceira.
Pensou
escrever um livro mas as ideias, que eram muitas, não saiam fluídas quando as
queria por no papel. Pensou, se calhar esta coisa, da escrita, não é para quem
quer, deve ser preciso algo mais que vontade!
Mas,
Ângela, escondia do mundo o namoro como se fosse algum sacrilégio ou pecado,
quando todos, incluindo o Elias, sabiam dessa relação.
*****
A
estratégia estava montada, se Elias a viu, por acaso, em dias sem qualquer
ligação lógica, era preciso estar atento a todos os momentos.
Sempre
que o Sol fizesse parte do dia, Licínio, montava uma espécie de sentinela
móvel, perscrutando todos os que se sentassem nos bancos ao longo do cais, nos
carros de estilo que por ali estacionassem e pelos motoristas fardados em espera atenta.
Foram
doze longos dias, também o tempo não ajudou, mas naquele sábado, um
descapotável, estacionou na marginal e um motorista, com guarda pó cinzento,
pegou delicadamente nas mãos de uma linda mulher e conduziu-a, carinhosamente,
para um lugar vago num banco.
Com
a mesma destreza voltou ao carro, encostou-se e ficou atento.
Chegou
a hora, pensou Licínio, vou começar pelo motorista.
Aproximou-se,
quase de forma casual, olhou com ar de aprovação o automóvel, e de um modo a
mostrar apreço perguntou:
-Este
modelo é recente?
O
homem era estranho, magro, macilento e tão pálido que parecia ter saído de uma
longa doença.
Olhou
o recém-chegado, sem estranheza, e de forma natural respondeu:
-Este
carro será sempre recente, tenha a idade que tiver!
Não
lhe pareceu muito lógica a resposta, mas não podia desarmar:
-Hoje
está um belo dia para, trazer a menina……a apreciar esta bela paisagem!
-Joana!
Exclamou o homem, a menina Joana!
Fingiu
desinteressar-se, anotou a matricula deixou umas boas tardes e foi espreitar a
rapariga.
Elias
tinha razão, era uma bela e linda mulher. Vestida de forma simples mas com,
estudada, elegância e requinte.
***
Telefonou à Ângela, quando ela atendeu, com a voz mais misteriosa que conseguiu
disse-lhe:
-
Sabes amor! Tenho notícias muito boas, mas só te conto tudo se aceitares,
finalmente, casar comigo!
Logo
falamos, em minha casa. Tá bem?
Desligou
e dirigiu-se para o autocarro, ia falar com um ex-colega,
precisava saber em que nome estava registado o automóvel.
Ângela
chegou às oito horas, vinha ansiosa, transpirava curiosidade por todos os
poros, mas aos olhos de Licínio estava, como sempre, linda.
Deu-lhe
um beijo fugidio e pediu:
-Conta
tudo, diz-me o que descobristes homem, antes que eu rebente de ansiedade!
Licínio
sorriu, fez um ar importante, antes de responder:
-A
diva chama-se Joana, mora em Cascais! Tenho aqui a morada e o Elias tem bom
gosto, a rapariga é cá um borracho que nem te digo!
Ângela
deu uma gargalhada antes de responder:
-Pois
tem, é como a mãe! Podemos ir amanhã a Cascais falar com a rapariga?
Mas,
por enquanto não conto nada ao rapaz!
-Contigo
vou a todo o lado! Respondeu o namorado.
Foi
fácil encontrar a Vivenda, era enorme, rodeada por um jardim mal tratado, onde
as ervas cresciam juntas com as flores, a relva há muito não era aparada.
Tocaram
ao portão, o som de um carrilhão fez-se soar ao longe.
Passaram
alguns minutos e ninguém respondeu, Licínio voltou a insistir e o mesmo som distante,
mas agora alguém abriu a porta e espreitou.
Uma
voz velha, algo sumida e denotando muito cansaço perguntou:
-Quem é?
Ângela,
respondeu:
-Minha
senhora, vimos de Lisboa e gostaríamos de falar com a Joana!
A
voz, ainda, pareceu mais velha e cansada:
-Entrem,
mas já disse tudo o que sabia!
O
portão rangeu, como se há muito não tivesse servido, mas lentamente abriu o
suficiente para poderem entrar.
Percorreram o pequeno caminho, de saibro, onde as ervas despontavam por entre as pedras.
A
mulher tinha um ar, mesmo muito cansado ou, talvez seriamente doente. Magra,
extremamente magra, as olheiras fundas davam-lhe um aspecto tão triste que
contagiava.
Olhou-os
do fundo de uns olhos piscos e perguntou:
-São
da polícia, não são?
Os
dois, quase, em uníssono:
-Não,
não temos nada a ver com a polícia, só queremos falar com a Joana!
A
velha deixou cair umas lágrimas das poucas que lhe pareciam restar. Deu um aí,
tão fundo que doeu ouvir. Depois com aquela voz cansada e sumida falou:
-Vai
fazer três meses, agora no dia 25, que a minha neta Joana e o Ambrósio, o nosso
motorista, tiveram aquele terrível acidente.
Deus
não quis que se salvassem, morreram os dois.
O
Ambrósio ficou ali mesmo, a Joana ainda esteve dois dias em coma, mas não aguentou,
partiu também. A minha neta era doida por estar ao pé do mar, ficava horas
olhando as ondas, enquanto o Ambrósia esperava como um cachorro dedicado.
Parou,
um pouco, para ganhar força e continuou:
-Naquele
dia, um doido chocou contra eles, foi uma coisa horrível! Não consigo esquecer!
Ângela
estava petrificada Licínio, mais racional, perguntou:
-A
sua neta era invisual?
-Não!
Respondeu a velha, mas se tem resistido, segundo o médico, ia mesmo ficar cega,
os olhos ficaram muito mal tratados. Pobrezinha!
-E
o carro? Perguntou, Licínio.
-O
carro? Bom o carro não tem conserto, foi por isso que pensei que fosse a polícia,
por causa do seguro.
Desculpem
mas estou muito cansada, agora têm que ir embora!
Não me achem
indelicada!
18 comentários:
Olá,Manuel!Saudades de ti e de vir aqui.
Realmente nem sempre é possível que as histórias tenham os finais que a gente gostaria que elas tivessem,mas a vida real é assim cheia de caminhos e descaminhos.
Beijocasss
Puxa,Manoel, deste uma continuação maravilhosa. Trama envolvente e o final, como a imaginação de um escritor...Lindo! Gostei! abração,chica
Pois parece que isto ainda não está tudo contado e que o suspense se mantém.
Desembucha tudo homem...
Quero ler o resto desta história...
A isto chama-se fazer-nos sofrer!!!!!
Só apetece perguntar: e depois? e depois?
Mas não há remédio temos que esperar...ou não?
beijo amigo
Este final, Manuel, presta-se a uma terceira parte.
Certamente irás "construir" algo mais que faça tremer o Elias. Afinal, ele não ficou no retrato final, não é?
Fabulosa a tua imaginação.
Parabéns.
Abraços
SOL
O "Quase Perfeita" ficará perfeita com a explicação deste mistério?
Nem sempre há explicação para tudo e essa paixão do Elias é igual a tantas de quem ama sem saber porquê, nem a quem.
Mas como não quero ser desmancha prazeres, se a Joana estiver viva e não for uma aparição, ficarei muito feliz com a felicidade de todos e o casemto da Angela e do namorado.
Intrigada, fiquei eu, quando fui ler a 1ª parte, vi que já a conhecia, inclusivamente o comentário do JP, referente à tequila e sem dar importância ao nome da moça...e não vi nenhum comentário meu! Será que se perdeu, ou terá a ver com o mistério da história?
Um abraço e bom Carnaval, Manuel.
Olá, estimado Manuel!
Obrigado pelo seu carinhoso comentário.
Pois, coitado do rapaz! Tão apaixonado! Mas, a Joana não era cega? Não entendi a resposta da avó, atendendo ao seu texto anterior.
Fazia-se cega, surda e muda, não?
Triste fim, mas tinha de dar um final à sua história e este era um dos possíveis e até talvez o mais esperado.
Resto de bom dia.
Beijo da Luz, com estima.
Manuel, o carro e os ocupantes estão em parte incerta. Eles vão regressar e o Manuel vai contar como tudo foi possível.
Beijo
Laura
Volto pra agradecer e contar um desabafo.A partir de agora espalharei ao mundo todo o horror que é Porto Alegre, cidade onde moro, sem segurança a oferecer aos moradores. Hoje à tarde, em uma praça, com as crianças, fomos assaltadas com arma, por um meliante que circula soltinho da silva. Nós, cada vez mais presos e inseguros nessa porcaria de cidade.
Quem vai mais uma vez devolver a confiança de circular? A paz? A liberdade às crianças? Um horror e pior é que a propaganda que fazem para os de fora é que é uma cidade maravilhosa. Estou ainda chocada, agradecendo apenas ao Alto por poder gritar e reclamar e o farei SEMPRE. Não podemos mais nos calar! Pagamos impostos e nem educação, nem segurança, nem saúde funcionam! abração,chica
Fica o aviso pra quem interessar possa: Porto Alegre é um Porto Inseguro, Triste e Mal Cuidado!
É, amigo!
A história acabou mal mesmo!!!
Que imaginação, hem?!
Boa quarta-feira!
Beijinhos.
♫♫•*¨*•♫♫
Olá meu caro,
nem toda históriatem um final feliz. Faz parte!
Grande abraço
Leila
Bom dia,Manuel!!
Nossa, meu amigo!! Uma história que li de um fôlego só!E com um final surpreendente, com um toque sobrenatural que me deixou arrepiada!
Uma bela continuação.(mesmo não sendo um final feliz.)
Beijos e meu carinho!
Olá Manuel,
Julguei que as ferias se prolongavam, pois não me aparecia nada do "Navoltadotempo"
Quanto a esta conclusão(?)...pois, nem sempre há finais felizes não é?
A sua imaginação é uma coisa tremenda.
Abraço
♪♫º♫♫º
Olá, amiga!
Passei apenas para saudá-lo.
ღ°Bom fim de semana! ♪♫º
♪♫♫º Beijinhos.
♪♫º Brasil.♪♫♫º
♫♪•.
Grande final, dentro da doutrina espírita.
Concordo, com alguns que pedem a continuação da estória: a reação de Elias!
A sua imaginação é de grande fertilidade. Parabéns!
Um beijo,bom domingo!
Mas, com um dia cheio de luz, ameno, com temperaturas médias, por onde anda, este "senhor"?
Olá, querido amigo Manuel!
Chove a potes, em Lisboa. Estou fartíssima deste tempo.
Deixei-lhe um recado, uma resposta no "Luzes" ao seu comentário. Passe por lá.
Não me diga, que, hoje, está a trabalhar (trabalhando, como se diz não nossso ALENTEJO)?
Não publiquei poema, este fim de semana, por não ter escrito nada, atempadamente. Fica para a próxima.
Bom domingo.
Beijos, com estima.
Manuel!
Peço desculpa por está um pouco ausente,eu na verdade sinto muita falta de todos os amigos/as.
Estou só dando um tempinho,logo logo espero voltar com bom animo.
Quero que saiba que gosto muito de ler seus contos, gosto de te visitar, mesmo quando não comento.
Um beijo carinhoso meu querido.
Irra, que tu e os finais felizes... nem a saca-rolhas!!!
A ver se a conclusão definitiva é mais animadora! Pelo desenho, parece! ;-)
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