quinta-feira, 28 de maio de 2009

Fartai vilanagem....


Eu sei que a minha positividade anda muito depauperada.

Tenho a noção que, agora, me deixo abater com muita facilidade.

Sei que nunca estive tão próximo de bater no fundo.

Sinto que tudo se voltou contra mim, só não sei porque.

Tentei sempre ser justo, respeitador, temente, cumpridor e afinal de
contas nada resultou.

A pouco e pouco esses seres superiores que dizem que nos governam e que
nos protegem, foram destruindo tudo o que de melhor eu tinha.

Tiraram a razão que dava razão á minha vida.

Espoliaram-me de uma forma barbara e sem piedade.

Mas ainda não estão satisfeitos, ainda querem mais.

Fartai-vos vilanagem!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Um grito....


Deixem-me pensar que ainda ando como andava nos tempos em que a felicidade era minha companheira.

Em que corria com a alegria estampada no rosto e em que as rugas não faziam, ainda, parte do meu ser.

Em que a felicidade era tão comum que nunca pensei que não houvesse felicidade.

Deixem-me pensar que um dia me deito e que acordo num tempo que era o meu e em que a luz, ainda, fazia parte do meu ser.

Acordar numa época em que não vivia nesta escuridão, nestas trevas em que de repente me deixaram.

Quero voltar a sentir no peito a alegria da realização.

Quero imaginar que nada aconteceu, que vivo o pesadelo de uma vida desgraçada, mas que um dia acordo e nada era verdade.

Que apenas a minha tão pródiga imaginação me tinha atraiçoado.

Deixem-me lançar o meu grito de revolta, mas não o escutem.

Deixem-me arrastar o que me subsiste, mas não deixem que me levem o tão pouco que me resta.


quinta-feira, 21 de maio de 2009

As nossas lágrimas.....



Quis limpar as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto;

Tentei ser solidário na sua na dor e compartilhar seu desgosto;

Desejava abafar no meu peito os seus soluços tão cansados;

Dizer-lhe as palavras certas e poder sentir contra mim o seu choro abafado;

Queria que sentisse que eu estava ao seu lado e dizer-lhe que estaria sempre aqui;

As palavras não me saíram, ficaram bem fundo coladas a impotência de não saber o que dizer;

Nada fiz, não consegui, fiquei mudo, fiquei calado sofrendo triste ao seu lado;

Então chorei com ela sentindo as suas lágrimas molhando-me o rosto;

Foi a única maneira, tornei NOSSO o seu desgosto.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Estrela que eu procuro….



Nas noites escuras eu gosto do céu estrelado de Alfarim, onde as estrelas ardem numa luz diferente.

Fico, então, a contemplar o firmamento até que os meus olhos se deixem inebriar pela luz que irradiam.

Embevecido, contemplo, até que a minha vista se canse na procura vã de uma estrela que brilhe mais que todas as outras.

Sinto o arrepio da noite no meu corpo, sinto o cansaço do contemplar e o imaginário invadir os meus olhos, que se estreitam num último esforço de procura.

A fadiga não me permite ver mais além, e as estrelas formam uma mancha de fogo e brilho que não me deixa, mais, procurar aquela que me pertence.

Fecho-os lentamente e dentro de mim nasce, então, a estrela que há tanto procuro.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Há dias assim.



Hoje é um dia como qualquer outro dia. Nada de novo me aconteceu, a vida sucede-se como em todos os dias que o antecedem. A vida é mesmo assim, uma sucessão de factos que se repetem numa cadência estudada, num ritmo a que nos vamos habituando de tal forma que a aceitamos sem, quase, dar por ela.

Há dias em que o acordar é doloroso, parece que estamos a ser paridos, tanto é o esforço em nos confrontarmos com a realidade para onde estamos a ser atirados. Temos dificuldade em abrir os olhos, tudo se nos afigura embaciado, diluído numa imensidão de dúvidas, incoerências e incertezas.

Ontem as coisas afiguravam-se distintas, estava feliz no culminar de um dia intenso. As realidades pareciam diferentes. Havia uma calma que suplantava a angústia, uma serenidade que se me afigurava estranha e pouco habitual. Tinha as ideias claras. Sabia o que queria, sabia para onde caminhava.

Tudo está a mudar, começo a sentir uma tristeza a invadir todo o meu querer, uma saudade que me dilacera, que me consome de uma forma lenta e dolorosa. Não sei a que se deve esta metamorfose, esta mudança de humor, esta forma gradativa de consumir a essência de uma vida que, ainda ontem, estava numa normalidade amorfa, mas razoável.

Quando esta angustia se apodera do meu pensamento fico letárgico, sem força para reagir. Fecho os olhos, ligo a música e deixo que o meu pensamento, devagar, lentamente, me traga de volta á vida.

Há dias assim.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mais Diálogos da Maria Inês.



-João é sempre a mesma coisa. Telefonas, combinas e depois não apareces.

-Querida sabes como é? O trabalho, os afazeres, as obrigações tiram-me o tempo todo.
Mas estou, sempre...sempre, contigo no pensamento.

-Oh pá, mas assim não está bem, preciso de ti. A chata da minha mãe não me larga. Maria Inês para aqui, Maria Inês para ali. Preciso estar contigo.

-Mas agora estou aqui, não estou?

-Pois, mas não tarda vazas e cá fico eu pendurada. Se eu tivesse algumas amigas ainda podia ir ao Cinema, mas as gajas que conheço são umas “enconadas” que não servem para nada.

-Compreendo, mas agora não penses nisso, eu estou aqui.

-Então vamos curtir a tarde toda, tinha tantas saudades tuas. Oh pá!

-A tarde toda não pode ser, eu dentro de uma hora tenho uma reunião e não posso faltar.

-Oh merda, sempre a mesma coisa. Estou a ficar passada. Ou não apareces, ou quando apareces vens sempre com o fogo no rabo. Começo a estar farta. Assim não dá.

-Amor vê se te acalmas, eu também gostava de estar sempre contigo. Não me sais do pensamento.

-Acho que me andas a enganar. Olha que o meu louro não é natural, não sou burra.
Chegas sempre cansado, com pressa e sem genica.

-Amiguinha, tem calma que não tarda tudo vai ficar bem.

-Quer dizer que vamos viver juntos, ou ainda melhor vamos casar?

-Rapariga és maluca ou que? Já me destes cabo do dia.
Adeus passa bem.

-Chiça que já espantei mais um. Ahhhh...porra.... também o gajo não valia nada!


quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mais ..... da Maria Inês.....


-Tá? Quero falar com a Laura.

-Não há nenhuma Laura? Não pode ser, telefono sempre para aí e há sempre a Laura. Eu sou a amiga dela, a Maria Inês.

-Já percebi, estás a brincar comigo ou estás-te a fazer ao piso? Os homens são tramados quando sentem uma mulher bonita! Eu percebi-te logo. Topei-te á distância.

-Mas não faz mal, eu não digo nada á Laura. E como és tu?

-Como és o que? Como és. Lindo, feio, alto, baixo, careca. Essas merdas assim.
Uff..bicho lindo. Onde tens andado que a Laura nunca me falou de ti?

-Oh, isso dizem todos. Eu sou amiga da Laura mas não tanto. Se o gato dela estiver interessado em mim, não tenho culpa.

-Já percebi. Tá bem eu não conto nada.

-Pode ser! Combinamos para quando quiseres. Eu tenho, sempre, muito tempo para um homem lindo como tu.

-Mas eu não digo nada á Laura, mas mesmo assim preciso falar com ela.

-Mas não há nenhuma Laura como? Não queiras ser chato. Passe lá a trampa do telefone. Eu falo e não conto que já somos amigos.

-Mas se isso é um escritório por que porra te estivestes a fazer a mim. Eu não sou dessas. Deves pensar que eu sou a sua mãezinha.

-Há cada um, já uma moça séria não pode dar bola que eles abusam logo.

Diálogos da Maria Inês....



-Mãe tem que me emprestar uns trocos para ir ao Concerto dos Coldplay. Tou tesinha de todo.

-Para ires ao concerto com quem?

-Com o Joca, com quem havia de ser?

-Nem penses Maria Inês. Não é para a tua idade.

-O concerto?

-Não te faças de parva. Ele é que não é para a tua idade.

-Oh mãe não é velho, tem só 43 anos e é tão querido para mim!


-Tu tens 22, logo é mais do que velho, já disse não quero que andes com esse gajo.

-Tu também andas com o Fausto o que é muito pior, era o melhor amigo do pai e que me conste não herdou a tua rata, pois o pai não fez testamento.

-Mas é da minha idade e tem bons princípios.

-Só se for para vir cá a casa de vez em quando para te comer, no resto ainda não vi nada.

-Acho que te estás a esticar com a conversa. Vê lá se tens modos porque ainda sou eu quem manda nesta casa, sou eu quem te sustenta, logo sou eu que impõem as regras e, que fique muito claro que eu não tenho nada com o Fausto, nunca tive e nunca terei. Respeito pelo que ele foi para o teu pai durante toda a doença. Apenas isso.

-Isso de sustentares é relativo, a casa também é minha e da herança do pai também alguma coisa me toca.

-Mas se quiseres eu dou-te a tua parte e vais á tua vida.

-Isso querias tu para te abotoares com o guito todo e meteres cá em casa o teu gajo! Mas podes tirar o cavalinho da chuva.

-Estás a desviar a conversa. Convém-te, não é verdade?

-Por mim não vais a concerto nenhum com o Joca. Vê se arranjas outra companhia e pode ser que eu te adiante a tua mesada.

-Mas ou vou com o Joca ou então cago para o Coldplay.

-Então fica em casa porque o Joca e eu já temos o fim de semana programado.

-Cabra, eu devia calcular.

-É da minha idade logo é normal.

-Porra...porra...porra é sempre a mesma merda, eu descubro-os e tu ficas com eles. Tou farta.